quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Almoço de velhos amigos

Era uma quarta-feira ensolarada de janeiro último, fazia muito calor no Rio (a Cidade Maravilhosa), especialmente naquele horário, cerca do meio-dia. O motorista do Uber estava me conduzindo ao clube em que eu encontraria amigos, levando-me pelas avenidas das praias do Leblon, Ipanema e Copacabana. Conversávamos sobre vários assuntos, até chegarmos ao futebol, quando trocamos comentários sobre os jogos da Europa, especialmente do campeonato inglês que, coincidentemente, são da preferência dos dois. Foi um passeio.

O encontro no clube era o almoço do nosso grupo de amigos, ex-colegas da ÍBM, que já comentei na crônica “Almoço às Quintas”, publicada em 2012 e que mencionei frequentemente em outras crônicas; especialmente, aquelas reunidas no livro sobre um casal de idosos no tempo da pandemia Covid-19, quando o isolamento social interrompeu nossos encontros.

O espírito da reunião permanece, conforme descrevi em 2012:


“Quando eu ainda estava em atividades de consultoria junto a clientes, fui convidado por um ex-colega da IBM, grande amigo desde que entramos, juntos, na Empresa, a participar de um almoço semanal de ex-colegas. Como era realizado na Barra da Tijuca, em dia útil, não pude comparecer. Depois de algum tempo, o local do almoço passou a ser o complexo Leblon-Ipanema e eu, já aposentado, juntei-me ao grupo e agora participo dele com frequência, com muito prazer.

O almoço é realizado cada quinze dias, às quintas feiras (excepcionalmente, às sextas). A lista geral de participantes é, atualmente, de quinze colegas, mas o comparecimento médio é de cerca de oito, variando de 6 a 10 comensais. As ausências são causadas por motivos vários, que incluem viagens, visitas a filhos que moram no exterior e consultas médicas; em alguns casos raros, até por impedimentos de trabalho.

São todos maiores de 60 anos (há duas mulheres que baixam o limite inferior) e vários passaram dos 70. Eu, hoje com 79, devo ser o terceiro de cima para baixo. Felizmente, estamos, aparentemente, com a cabeça funcionando bem, embora as dificuldades físicas causadas pela idade afetem vários de nós.”

...

E, mais adiante, escrevi:

“Então, sobre o que conversamos? Os assuntos vão desde as notícias da China, de seu desenvolvimento econômico, e da crise econômica mundial, até as novidades da tecnologia de informação e de comunicação, quando, frequentemente, um dos colegas é consultado, pois trabalha dando suporte técnico a usuários de computadores. Este assunto revela algumas preferências, como o caso de um deles que tem em seu computador 2 terabytes (trilhões de bytes) de memória de discos, onde mantém uma enorme biblioteca de filmes. Embora evitemos falar de política nacional, talvez por ser um assunto desagradável e polêmico que poderia estragar a reunião, comentamos as reclamações que temos como consumidores e contribuintes. Aliás, há no grupo um especialista em enviar correspondência a jornais e a autoridades sobre maus serviços e descasos que afetam o cidadão comum em nosso País.”


Volto à quarta-feira ensolarada de janeiro.

Cheguei um pouco adiantado, sentei-me à mesa esperando pelos colegas, e me pus a pensar nas mudanças que ocorreram nos doze anos que se passaram desde que escrevi aquela crônica.

Dentre aqueles que participavam do grupo, temos a lamentar profundamente seis falecimentos e constatar que, agora, alguns estão tendo dificuldades físicas para comparecer aos almoços (há casos de filhos que fazem a gentileza de levar os pais). Contudo, com novas adesões, o total de participantes do grupo se mantém e temos nos reunido pelo menos uma vez por mês.

Outra mudança que tivemos foi quanto ao local do almoço. Antes da pandemia, variávamos de restaurante, a escolha levando em conta a comida, o serviço, a localização e a disponibilidade de mesa redonda ou quadrada para permitir uma comunicação melhor dos comensais. Ultimamente, fixamo-nos no restaurante do clube, perfeito para nossa reunião, pois somos muito bem atendidos, a  comida e bebidas são muito boas, cada um faz sua escolha e as contas são individualizadas.

E, muito importante, continuamos animados, os assuntos das conversas se mantêm atuais e bastante variados. Dentre o que temos discutido ultimamente destaca-se a inteligência artificial, uma vez que todos são familiarizados com programação de computador e uso de aplicativos (alguns discutem tecnologia demonstrando muito conhecimento). Os cenários sociais e econômicos, no país e no mundo, são comentados de leve, evitando-se possíveis polêmicas, ocorrências do nosso tempo na IBM são lembradas e experiências vividas por um ou mais dos participantes são narradas.

Menos sofisticados, surgem assuntos comuns de nosso cotidiano, até as particularidades domésticas. Por exemplo, em um dos almoços em que esposas compareceram, estávamos falando sobre dietas e eu mencionei que, no café da manhã, costumo tomar dois ovos quentes com torradas. Uma das esposas me perguntou como eu os preparo e me admirei com o interesse e a delicadeza dos amigos ao me ouvirem descrever o procedimento todo!


Meus devaneios foram interrompidos pela chegada dos colegas e começamos os “trabalhos”.

Nesse almoço tivemos menos participantes, estávamos seis à mesa porque alguns amigos, que comparecem frequentemente, estavam viajando e outros tiveram problemas de saúde.

Contudo, tivemos ótima conversa, bem animada como sempre, sobre assuntos variados. Assunto novo foi o crescimento da produção mundial de automóveis elétricos, com a observação de que esse aumento depende da disponibilidade do lítio para a bateria - e um deles mencionou as reservas desse metal em alguns países. E, no final do almoço, decidi perguntar aos colegas se eles leem e-books (leio e-books e estranho que poucas pessoas o façam), comentando algumas vantagens que eles oferecem, como alternativa ao livro impresso. A resposta de todos foi que não os leem; gostam do livro impresso e não se dispõem a tentar usar o e-book (minha observação é que há uma relação de afeto do leitor com o livro impresso). O assunto levantou outras questões como, por exemplo, a biblioteca que os colegas têm em casa e o que fazem com ela. Um deles, que tem milhares de livros, usa um aplicativo disponível na internet para catalogá-los.

Foi mais uma de nossas reuniões extremamente agradáveis, que durou, como de hábito, cerca de três horas.


É importante mencionar que, fundamental para a manutenção de nossos encontros, é o nosso grupo no WhatsApp, onde nos comunicamos diariamente, com mensagens, alguns diálogos e encaminhamentos de notícias, fotos e vídeos que cada um julga de interesse dos amigos.

Washington Luiz Bastos Conceição


Notas:

1.Cara senhora leitora ou prezado senhor leitor: se quiser ler a crônica publicada em 2012, use o link:

https://washingtonconceicao.blogspot.com/2012/04/almoco-as-quintas.html

2.Em cada almoço, tomamos uma fotografia do grupo à mesa. Não reproduzi uma delas aqui, para evitar dificuldades com o direito de imagem...

3.Hoje, sou o mais velho do grupo; há outro nonagenário e, em julho, seremos três. Os participantes mais recentes retêm um pouco nossa média de idade. Já há dois bisavôs...


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