Era uma quarta-feira ensolarada de janeiro último, fazia muito calor no Rio (a Cidade Maravilhosa), especialmente naquele horário, cerca do meio-dia. O motorista do Uber estava me conduzindo ao clube em que eu encontraria amigos, levando-me pelas avenidas das praias do Leblon, Ipanema e Copacabana. Conversávamos sobre vários assuntos, até chegarmos ao futebol, quando trocamos comentários sobre os jogos da Europa, especialmente do campeonato inglês que, coincidentemente, são da preferência dos dois. Foi um passeio.
O encontro no clube era o almoço do nosso grupo de
amigos, ex-colegas da ÍBM, que já comentei na crônica “Almoço às Quintas”, publicada
em 2012 e que mencionei frequentemente em outras crônicas; especialmente,
aquelas reunidas no livro sobre um casal de idosos no tempo da pandemia Covid-19, quando
o isolamento social interrompeu nossos encontros.
O espírito da reunião permanece, conforme descrevi
em 2012:
“Quando eu ainda estava em atividades de consultoria
junto a clientes, fui convidado por um ex-colega da IBM, grande amigo desde que
entramos, juntos, na Empresa, a participar de um almoço semanal de ex-colegas.
Como era realizado na Barra da Tijuca, em dia útil, não pude comparecer. Depois
de algum tempo, o local do almoço passou a ser o complexo Leblon-Ipanema e eu,
já aposentado, juntei-me ao grupo e agora participo dele com frequência, com
muito prazer.
O almoço é realizado cada quinze dias, às
quintas feiras (excepcionalmente, às sextas). A lista geral de participantes é,
atualmente, de quinze colegas, mas o comparecimento médio é de cerca de oito,
variando de 6 a 10 comensais. As ausências são causadas por motivos vários, que
incluem viagens, visitas a filhos que moram no exterior e consultas médicas; em
alguns casos raros, até por impedimentos de trabalho.
São todos maiores de 60 anos (há duas mulheres
que baixam o limite inferior) e vários passaram dos 70. Eu, hoje com 79, devo
ser o terceiro de cima para baixo. Felizmente, estamos, aparentemente, com a
cabeça funcionando bem, embora as dificuldades físicas causadas pela idade
afetem vários de nós.”
...
E, mais adiante, escrevi:
“Então, sobre o que conversamos? Os assuntos
vão desde as notícias da China, de seu desenvolvimento econômico, e da crise
econômica mundial, até as novidades da tecnologia de informação e de
comunicação, quando, frequentemente, um dos colegas é consultado, pois trabalha
dando suporte técnico a usuários de computadores. Este assunto revela algumas
preferências, como o caso de um deles que tem em seu computador 2 terabytes (trilhões
de bytes) de memória de discos, onde mantém uma enorme biblioteca de filmes. Embora
evitemos falar de política nacional, talvez por ser um assunto desagradável e
polêmico que poderia estragar a reunião, comentamos as reclamações que temos
como consumidores e contribuintes. Aliás, há no grupo um especialista em enviar
correspondência a jornais e a autoridades sobre maus serviços e descasos que
afetam o cidadão comum em nosso País.”
Volto à quarta-feira ensolarada de janeiro.
Cheguei um pouco adiantado, sentei-me à mesa
esperando pelos colegas, e me pus a pensar nas mudanças que ocorreram nos doze
anos que se passaram desde que escrevi aquela crônica.
Dentre aqueles que participavam do grupo, temos a
lamentar profundamente seis falecimentos e constatar que, agora, alguns estão
tendo dificuldades físicas para comparecer aos almoços (há casos de filhos que fazem a gentileza de levar os pais). Contudo, com novas adesões, o total de
participantes do grupo se mantém e temos nos reunido pelo menos uma vez por
mês.
Outra mudança que tivemos foi quanto ao local do
almoço. Antes da pandemia, variávamos de restaurante, a escolha levando em conta a comida, o serviço, a localização e a disponibilidade de mesa redonda ou
quadrada para permitir uma comunicação melhor dos comensais. Ultimamente, fixamo-nos no restaurante do clube, perfeito para nossa reunião, pois somos muito
bem atendidos, a comida e bebidas são
muito boas, cada um faz sua escolha e as contas são individualizadas.
E, muito importante, continuamos animados, os assuntos das conversas se mantêm atuais e bastante variados. Dentre o que temos discutido ultimamente destaca-se a inteligência artificial, uma vez que todos são familiarizados com programação de computador e uso de aplicativos (alguns discutem tecnologia demonstrando muito conhecimento). Os cenários sociais e econômicos, no país e no mundo, são comentados de leve, evitando-se possíveis polêmicas, ocorrências do nosso tempo na IBM são lembradas e experiências vividas por um ou mais dos participantes são narradas.
Menos sofisticados, surgem assuntos comuns de
nosso cotidiano, até as particularidades domésticas. Por exemplo, em um dos
almoços em que esposas compareceram, estávamos falando sobre dietas e eu
mencionei que, no café da manhã, costumo tomar dois ovos quentes com torradas.
Uma das esposas me perguntou como eu os preparo e me admirei com o interesse e
a delicadeza dos amigos ao me ouvirem descrever o procedimento todo!
Meus devaneios foram interrompidos pela chegada dos
colegas e começamos os “trabalhos”.
Nesse almoço tivemos menos participantes, estávamos
seis à mesa porque alguns amigos, que comparecem frequentemente, estavam viajando
e outros tiveram problemas de saúde.
Contudo, tivemos ótima conversa, bem animada como
sempre, sobre assuntos variados. Assunto novo foi o crescimento da produção
mundial de automóveis elétricos, com a observação de que esse aumento depende da
disponibilidade do lítio para a bateria - e um deles mencionou as reservas desse metal em alguns países. E, no final do almoço, decidi perguntar
aos colegas se eles leem e-books (leio e-books e estranho que poucas pessoas o
façam), comentando algumas vantagens que eles oferecem, como alternativa ao
livro impresso. A resposta de todos foi que não os leem; gostam do livro
impresso e não se dispõem a tentar usar o e-book (minha observação é que há uma relação de afeto do leitor com o livro impresso). O assunto levantou outras questões como, por
exemplo, a biblioteca que os colegas têm em casa e o que fazem com ela. Um
deles, que tem milhares de livros, usa um aplicativo disponível na internet para catalogá-los.
Foi mais uma de nossas reuniões extremamente
agradáveis, que durou, como de hábito, cerca de três horas.
É importante mencionar que, fundamental para a manutenção de nossos encontros, é o nosso grupo no WhatsApp, onde nos comunicamos diariamente, com mensagens, alguns diálogos e encaminhamentos de notícias, fotos e vídeos que cada um julga de interesse dos amigos.
Washington Luiz Bastos Conceição
Notas:
1.Cara senhora leitora ou prezado senhor leitor: se quiser ler a crônica publicada em 2012, use o link:
https://washingtonconceicao.blogspot.com/2012/04/almoco-as-quintas.html
2.Em cada almoço, tomamos uma fotografia do grupo à mesa. Não reproduzi uma delas aqui, para evitar dificuldades com o direito de imagem...
3.Hoje,
sou o mais velho do grupo; há outro nonagenário e, em julho, seremos três. Os
participantes mais recentes retêm um pouco nossa média de idade. Já há dois
bisavôs...
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