sábado, 5 de agosto de 2023

A importância de seu idioma

Prezada leitora, ou caro leitor:

Por favor, responda mentalmente às perguntas que faço abaixo:

- Você percebe que, em igualdade de outras aptidões, quem escreve ou fala melhor tem melhores posições no mercado de trabalho?

- No seu trabalho, você pensa que usar o idioma corretamente ajuda na obtenção de resultados ou na qualificação de seu desempenho?

- Você se preocupa em falar corretamente, ou seja, segundo as regras gramaticais estabelecidas?

- Você se preocupa em escrever corretamente, ou seja, segundo as regras gramaticais estabelecidas?

- Você rejeita a incorporação desnecessária de palavras de idiomas estrangeiros ao seu idioma?

- Você gostaria de que seus filhos e netos falassem e escrevessem bem em seu idioma?

Se respondeu positivamente a uma dessas perguntas e se usar o idioma Português, provavelmente se interessará em ler esta crônica.


Estimulado, principalmente por meu pai, a falar e escrever corretamente em Português (minha língua pátria) desde criança, venho tendo esse cuidado ao longo da vida. Transmiti essa preocupação a meus filhos.

Neste blog, tratei do assunto em algumas crônicas, mas permaneço desencantado com o descaso, incompetência e desrespeito com que nosso idioma vem sendo tratado, especialmente por profissionais e políticos, seja por falta de educação, ou por necessidade de desconstrução dos costumes ou de apresentar e forçar novidades desnecessárias, inconvenientes, que não constituem evolução linguística e não melhoram a comunicação.

Então, penso: “Será que estou dando importância exagerada ao assunto?”. Exagerada, no caso, em relação à importância que as pessoas, jovens e maduras, profissionais da comunicação ou não, dão ao uso correto do idioma.

Resolvi, portanto, discutir essa minha preocupação com alguns de meus filhos que, já adultos maduros com estudo e grande experiência de trabalho, escrevem bem textos de apresentações, relatórios, documentos, mas, também, usam a linguagem abreviada das mensagens digitais e expressões coloquiais. Eles demonstram se importar com o assunto.

Outro dia, tive o seguinte diálogo com Jurema, minha filha:

― Pai, não aguento ouvir as pessoas usando “aonde” e “haverão”  erradamente. Por exemplo: “Aonde você está?” em lugar de “Onde você está?” e “Haverão distúrbios” em vez de “Haverá distúrbios”. E, muitas, são pessoas de curso superior, como jornalistas e advogados por exemplo...

Respondi:

― Pois é, minha filha. Usar “haverão” no sentido de “existirão” é um erro antigo, pois o verbo haver, no sentido de existir, é impessoal, não tem sujeito determinado e é conjugado na terceira pessoa do singular. A palavra “haverão” é usada quando “haver” tem outros significados ou é verbo auxiliar.

O uso equivocado de “aonde”, intensificado mais recentemente, de certa forma, virou moda. E é tão fácil observar que “aonde” é “a” mais “onde” e indica movimento. “Onde” indica um lugar (parado).

― Também me incomodam erros de concordância de gênero e número e algumas expressões como “Você quer que eu pego?”, por exemplo.

― Continuam cometendo, além dos erros clássicos de concordância, aqueles de regência de verbos, como: “Prefiro caminhar do que correr.” em vez de “Prefiro caminhar a correr.”; “Você vai assistir o jogo hoje?” em vez de “Você vai assistir ao jogo hoje?”.

― Bem, filha, há, claro, muitos outros exemplos de incorreções, especialmente se considerarmos, também, erros de ortografia; esta nossa conversa iria muito longe. É importante lembrar que estamos tratando de fala e escrita formais, de trabalho, e não do Português coloquial que usamos todos nós; e que, também, mandamos mensagens informais e abreviadas.

― Minhas mensagens no WhatsApp têm de ser rápidas e eu uso muito as abreviações convencionais; mas me faço entender.

― Tenho de comentar que não me considero professor ou “autoridade” no assunto. Considero-me um bom aluno que procura ajudar com seu conhecimento. Como nosso idioma é muito complexo, estamos sujeitos a alguns deslizes. Por exemplo, até outro dia eu falava “octagenário” para me referir a um homem na década dos 80 anos de idade. Na escrita, o corretor acusou erro – e aprendi que o correto é “octogenário”. E veja bem como somos induzidos a erro: o indivíduo na década de sessenta é “sexagenário”, na de setenta é “septuagenário” (ou “setuagenário”) e o de noventa é “nonagenário”. É fogo, não é?

― Sim, pai, bem complicado...

― Penso que as pessoas que precisam falar e ou escrever corretamente podem usar a ajuda de um livro de gramática. Estes livros, entretanto, são organizados em tópicos para estudo, de modo que consultas específicas são trabalhosas e, muitas vezes, o tempo é curto. Neste caso, a versão digital dos livros (e-book) é bastante conveniente, porque o programa Kindle oferece pesquisa automática de palavras. Testei e gostei.

― Pai, seria interessante o senhor escrever uma crônica sobre o assunto.

― Fico satisfeito por saber que você se preocupa com o uso de nosso idioma, o que acontece também com seus irmãos; eles, de vez em quando, me consultam para resolver alguma dúvida. Sim, minha filha, vou escrever nova crônica sobre o tema – e vai ser baseada em nosso diálogo.

Washington Luiz Bastos Conceição


Complementos:

Excerto da crônica “Da Taquigrafia Eletrônica”, publicada em janeiro de 2015.

...

Nada tenho contra a escrita abreviada de e-mails e mensagens, desde que o texto cumpra seu objetivo de comunicar – mas ela não deve ser considerada substituta da redação completa e correta em nosso idioma, não só quanto à ortografia como – e principalmente – quanto à concordância e ao uso apropriado das palavras.

Uma coisa é uma comunicação escrita rápida, informal, outra muito diferente é o texto de uma proposta de negócios, um relatório técnico, uma crônica, uma notícia de jornal, um comentário político, enfim, uma comunicação formal. Este tipo de comunicação requer uma redação que se enquadre nas regras do idioma. Por esta razão, todo profissional, mesmo que não tenha grau universitário, precisa saber escrever corretamente.

Em minha longa vida de trabalho, observei que os profissionais que se expressavam corretamente por escrito levavam vantagem sobre colegas que, embora no mesmo nível técnico, não tinham essa habilidade. As atividades normais do trabalho, até as científicas, requerem competência redacional para a elaboração de apresentações, relatórios, propostas comerciais e planos empresariais.

Em suma, a comunicação eficaz, hoje em dia, requer o uso de mensagens eletrônicas informais, com abreviações ou não, por sua agilidade, rapidez, e por poder ser feita mediante dispositivos portáteis. Por outro lado, quando formal, a comunicação eficaz requer o uso de textos técnicos ou de negócios redigidos corretamente.

Dentre os profissionais igualmente competentes no que fazem, aqueles que têm boa redação valem mais.


Excerto da crônica “O que que há?”, publicada em dezembro de 2016 

Nestes tempos em que a comunicação, escrita e falada, vem se tornando cada vez mais intensa, a importância dos idiomas é cada vez maior. No Brasil, como estamos usando nosso idioma?

De uma forma geral, para escrever, usamos o Português procurando seguir as regras gramaticais e ortográficas.

Para falar usamos o Português coloquial, ou seja, procuramos falar o mais corretamente possível, mas, por hábito, empregamos expressões que, embora incorretas, são de uso geral e corrente. Por exemplo, no dia a dia, empregamos: o verbo “ter” em vez de “haver” (“Tem louça na máquina?); não respeitamos concordâncias (“Você veio no teu carro?”); e muitos ainda cometem erros daqueles bem conhecidos (“haverão” no sentido de existirão, “fui na casa dele”, e outros). Usamos esse mesmo Português coloquial ao trocarmos mensagens por telefone celular, “tablet”, ou computador, recorrendo intensamente a abreviações.

Há, ainda, aquelas pessoas que não tiveram oportunidade de estudar, muitas analfabetas ou quase, que erram muito ao falar, ofendendo grosseiramente a gramática elementar e, faltando-lhes vocabulário, recorrem à gíria (sempre renovada) e ao jargão de suas atividades específicas.

Meus parentes e amigos, bem como os meus outros leitores mais antigos, já sabem de minha preocupação com o Português. Hoje, volto com mais considerações sobre o assunto porque, mesmo aturdido pelo horrível noticiário da televisão nestes dias tão agitados, não consigo deixar de reparar em algumas impropriedades na linguagem utilizada repetidamente pelos repórteres e comentaristas, jornalistas competentes em seu trabalho, que se expressam muito bem e têm bom vocabulário. Penso, então, que estamos em crise também no uso do Português.

...

Reconheço, aqui, que estou fazendo o papel do brasileiro escolarizado, com a melhor das intenções, altamente preocupado com os comunicadores que falam em público, especialmente na televisão, que poderiam cuidar de passar um “sermo urbanus” de melhor qualidade ao espectador. Na televisão, já corrigiram o “Boa noite a todos que estão nos assistindo!”, passando simplesmente a dizer “Boa noite a todos!”, mas, por exemplo, poderiam passar a usar: “O que está acontecendo?” em vez de “O que é que está acontecendo?”; “onde está” em vez de “aonde está”; “quando se tornou” em vez de “quando tornou-se”; “prefiro este àquele” em vez de “prefiro este do que aquele”.

Destaco aqui a televisão porque, além de realizar papel importantíssimo na unificação do uso do idioma em todo o País, poderá contribuir mais para o aprimoramento desse uso, independentemente de programas educacionais específicos.

O caro leitor ou a prezada leitora poderá reclamar: “Washington, não dá para falar tudo certinho o tempo todo, ficaria até chato!” Concordo, devemos nos esforçar para falar melhor usando o bom senso, ou seja, comunicando-nos da forma mais apropriada a cada ambiente e situação. Por exemplo, “O que é que há?” é perfeitamente adequado a uma comunicação informal. D. Ivone Lara usou essa expressão muito bem e podemos cantar com ela: “Foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há...”.

Ou seja, tudo tem seu lugar e sua hora.


Nota:

Para o leitor ou leitora que se interesse em ler estas duas crônicas por completo, informo os respectivos links:

http://washingtonconceicao.blogspot.com/2015/01/da-taquigrafia-eletronica-e-da-escrita.html

e

http://washingtonconceicao.blogspot.com/2016/12/o-que-que-ha.html