sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Prazerosa Convivência


Conversando com amigos e observando as pessoas da minha família, concluo que é geral o hábito de ler jornais, revistas, publicações na internet, além das mensagens no telefone celular e no computador. A maioria deles lê também livros como entretenimento e alguns, por força de sua atividade profissional, leem apenas livros e manuais técnicos.
Eu me incluo na maioria, com uma particularidade: desde que comecei a escrever, meu hábito de leitura mudou. Diferentemente do que fazem outras pessoas, que leem livros em sequência, de “cabo a rabo”, leio vários livros ao mesmo tempo, ou seja, começo a leitura de um livro antes de terminar a dos outros e volto a cada um deles sem pressa de chegar ao fim. No conjunto, quando termino a leitura de um, já há algum novo no processo. Os e-books favorecem essa variação, uma vez que estão todos no mesmo dispositivo, em biblioteca digital.
A escolha dos livros é feita por razões variadas. Sentindo falta de conhecer obras de autores renomados, venho buscando ler livros pelos quais nunca havia me interessado e, assim, sentir-me menos ignorante. Outros, seleciono para consultas de apoio a meus escritos. E, ainda, releio livros para me lembrar de detalhes das histórias ou procurar entender melhor a intenção e as mensagens dos autores.

Como ilustração, menciono abaixo os livros que tenho lido nestes dias:
Sentindo a necessidade de ler mais Machado de Assis, de cuja obra conheço muito pouco, comprei o e-book de suas obras completas (romances e contos) e, gostando mais de umas histórias que de outras, impressiona-me como ele retrata bem os personagens e costumes do seu tempo. Sigo lendo, é uma quantidade generosa de histórias.
Dentre os notáveis mencionados em livros de História do Século XX e em filmes recentes, Churchill continua tendo grande destaque. Para saber mais da vida desse líder extraordinário, cuja atuação excepcional na Segunda Guerra Mundial eu acompanhei no noticiário da época, li “Winston Churchill - The Life, Lessons & Rules For Success”, por Jack Morris.
Eu não havia lido nada de Shakespeare (nunca me atrevi a enfrentar o seu Inglês) e, embora conhecesse as histórias de várias de suas tragédias, sentia-me ignorante quando alguém mencionava “Macbeth” e “Rei Lear”, pois não conhecia seus enredos. Aproveitando uma promoção de e-books que incluía livros com a tradução dessas duas peças, comprei e li os dois; algumas vezes, tive de me esforçar para entender sentenças que estão em uma ordem inversa complicada. Valeu a pena, eles satisfizeram minha curiosidade.
De Júlio Verne eu havia lido apenas – e já faz muito tempo – o livro “Vinte mil léguas submarinas”. Quando a Amazon me ofereceu algumas obras dele, me interessei. Tendo gostado muito do filme “A volta ao mundo em 80 dias” (com David Niven e Cantinflas), comprei a versão e-book do livro; já o estou lendo e, como não podia deixar de fazer, comparando com o filme.
E poesia? Minha leitura de poesia sempre foi muito pouca. Quando estudante, li poemas nos livros escolares e nas antologias. Mais tarde, alguns de Garcia Lorca, Vinicius e Neruda. Na juventude, assisti no teatro a declamações dos Jograis, as quais apreciei muito. Nestes dias, de tanto ouvir elogiarem o poeta, estou começando a ler o e-book “Fernando Pessoa – Obra Poética Completa”.
Já há algum tempo, decidi revisitar o D. Quixote, lendo-o em Espanhol pela terceira vez na vida, agora na versão e-book (não está nessa conta o “D. Quixote para crianças”, de Monteiro Lobato, que li na minha infância). Estou relendo devagar, revendo os casos, voltando a me impressionar com os desvarios e os discursos do Cavaleiro da Triste Figura e apreciando as declarações de Sancho, que refletem o bom senso das pessoas simples de seu tempo. E, mais uma vez, venho observando no texto palavras que hoje são do Português e não mais do Espanhol. Interrompi a leitura por alguns dias, agora, de pena de nosso herói pelas surras que vem levando em sua segunda saída de casa. Vou retomá-la em breve.
Também resolvi reler o “Recessional”, de James Michener, mencionado em crônica anterior, quando comentamos, meus amigos ex-ibmistas e eu, o assunto da solução para a moradia de idosos. Esse livro, que tenho na versão impressa e é um tanto volumoso, estou lendo devagar, relembrando partes da narração de que havia me esquecido e voltando a me impressionar com o realismo do autor ao retratar casos dos idosos na instituição exemplar em que residiam. Não parece ficção.

Bem, minha intenção nesta crônica não era fazer um relatório de minha leitura recente ao caro leitor ou à prezada leitora, mas comentar meu comportamento como leitor após ter me lançado na aventura de escrever.
Procedo como um idoso que vá à estante de sua casa, escolha um de seus livros e, sentado em sua poltrona preferida, leia-o por algum tempo, interrompa a leitura, marque a folha e recoloque o livro na estante. E que, mais tarde, ou no dia seguinte, resolva escolher e ler um pouco de outro livro.
Minha vantagem é ter no “tablet” (e também no computador, no celular e na nuvem) minha estante digital, que posso, portanto, carregar comigo. Além disso, o programa de leitura do e-book faz a marcação automática da página de cada livro quando interrompo a leitura, de modo que, ao retomá-la, vou diretamente ao ponto da interrupção; além deste recurso, o programa oferece um dicionário (do idioma utilizado no livro) que, ao se marcar uma palavra na tela do dispositivo, apresenta, na mesma tela, o significado da palavra marcada.

Ao analisar esse meu comportamento, percebi que não estou apenas lendo livros, mas também convivendo estreitamente com seus personagens e seus autores; com estes, agora que experimento as dificuldades e a grande satisfação de escrever, mantenho uma relação de empatia e admiração.
É uma convivência extremamente prazerosa.

Washington Luiz Bastos Conceição