terça-feira, 17 de abril de 2012

Almoço às Quintas

Almoços e jantares são muito usados para comemorações e reuniões com amigos e colegas de trabalho. Variações, como, por exemplo, tomar um chopinho em um bar ou botequim, servem para bate-papo informal após o trabalho, bem como para  correligionários festejarem vitórias no futebol dos clubes do coração.
Meus filhos, todos adultos, costumam se reunir com amigos do tempo de escola, com colegas de trabalho e cotorcedores do Mengão. Há algumas reuniões com data prefixada; uma delas,  um chopp anual de um deles com colegas da Escola Americana, era motivo de conflito em casa porque a data era 24 de dezembro (depois de muitos anos, mudaram a data, graças a Deus!).

Muitos de nós, os mais velhos, aposentados ou não, sentimos necessidade de participar de reuniões e rever ex-colegas e amigos. A motivação para esses encontros, me parece, é uma necessidade que temos de trocar ideias, saber como estão os conhecidos, o que estão fazendo ou, simplesmente, de “jogar conversa fora”.
Quando ainda estava em atividades de consultoria junto a clientes, fui convidado por um ex-colega da IBM, grande amigo desde que entramos, juntos, na Empresa, a participar de um almoço semanal de ex-colegas. Como era realizado na Barra da Tijuca, em dia útil, não pude comparecer. Depois de algum tempo, o local do almoço passou a ser o complexo Leblon-Ipanema e eu, já aposentado, juntei-me ao grupo e agora participo dele com frequência, com muito prazer.
O almoço é realizado cada quinze dias, às quintas feiras (excepcionalmente, às sextas). A lista geral de participantes é, atualmente, de quinze colegas, mas o comparecimento médio é de cerca de oito, variando de 6 a 10 comensais. As ausências são causadas por motivos vários, que incluem viagens, visitas a filhos que moram no exterior e consultas médicas; em alguns casos raros, até por impedimentos de trabalho.
São todos maiores de 60 anos (há duas mulheres que baixam o limite inferior) e vários passaram dos 70. Eu, hoje com 79, devo ser o terceiro de cima para baixo. Felizmente, estamos, aparentemente, com a cabeça funcionando bem, embora as dificuldades físicas causadas pela idade afetem vários de nós.
Eu, ao encontrá-los, rememoro nosso relacionamento de trabalho. Como trabalhávamos na divisão de Marketing (que na IBM significa Vendas) de sistemas de Informática, tive com a maioria deles, ao longo de meus 24 anos de casa, algum contato de trabalho, fizemos alguma coisa juntos. Dois deles, por exemplo, foram de minha turma na IBM, ou seja, entramos juntos na Empresa, o que quer dizer que fomos companheiros de curso por seis meses, para começar. Outro foi meu contemporâneo na filial de São Paulo e fizemos um bom trabalho de cooperação gerencial; mais tarde, promovido para a Matriz no Rio, ele foi o gerente funcional de minha designação para o Projeto 3.7 em Chicago; quando voltei ao Brasil, fui promovido para uma das gerências de seu Departamento. Com os demais, tive atividades diversas, ligadas a atendimento a clientes, treinamento e projetos especiais. Digno de nota é ter entre eles três companheiros das peladas de futebol do clube Caxinguelê, que comento no “Histórias do Terceiro Tempo”, meu primeiro livro.
Bem, guardo essas lembranças para mim mesmo, pois nossa conversa raramente se torna uma “hora da saudade” – apenas, de vez em quando, comentamos alguns fatos pitorescos marcantes.
Então, sobre o que conversamos? Os assuntos vão desde as notícias da China, de seu desenvolvimento econômico, e da crise econômica mundial, até as novidades da tecnologia de informação e de comunicação, quando, frequentemente, um dos colegas é consultado, pois trabalha dando suporte a clientes de microcomputadores. Este assunto revela algumas preferências, como o caso de um deles que tem em seu computador 2 terabytes (mais de 2000 gigabytes) de memória de discos, onde mantém uma enorme biblioteca de filmes. Embora evitemos falar de política nacional, talvez por ser um assunto desagradável e polêmico que poderia estragar a reunião, comentamos as reclamações que temos como consumidores e contribuintes. Aliás, há no grupo um especialista em enviar correspondência a jornais e a autoridades sobre maus serviços e descasos que afetam o cidadão comum em nosso País.
Sempre discutimos os restaurantes que vimos utilizando. Surgem, então, controvérsias, pois alguns são mais exigentes com a comida e a bebida; outros, com a localização; terceiros, com a acomodação do grupo que permita uma comunicação integrada e evite conversas em separado, o que se consegue com uma mesa redonda ou quadrada e é quase impossível quando a mesa é em linha. Agora, resolvemos dar nota a cada restaurante. Como somos, na maioria, engenheiros temperados com a cultura IBM, parece-me que, logo, passaremos a usar uma das técnicas de avaliação que aprendemos no trabalho.

Para finalizar, transcrevo abaixo parte da carta de Natal que encaminhei aos companheiros do almoço às quintas, pois penso que ela traduz bem o que sinto em relação a essas reuniões.
“Desejo a vocês uma feliz comemoração no Natal e no fim do ano. E espero fervorosamente que, apesar das nuvens perturbadoras que mancham nosso céu, aqui e no resto do mundo, 2012 seja um bom ano para todos nós.
Em particular, quero que continuemos nos encontrando nos almoços, reuniões agradáveis porque - sinto - têm características muito interessantes. A primeira: não somos um bando de veteranos de guerra comentando apenas fatos do passado; os assuntos são atuais, embora incluam tópicos realistas sobre nossa condição de idosos. A segunda: buscamos bons locais e almoçamos bem. A terceira e, certamente, a mais importante, é que, livres dos objetivos e do organograma da Empresa onde convivemos por tanto tempo, passamos a ser mais amigos que simplesmente colegas.”
Washington Luiz Bastos Conceição

Um comentário:

  1. Por curiosidade, fui ler o texto do dono do blog, e o achei muito simpático. Me espantei quando li sua idade, pois a linguagem é jovial e direta. Parabéns!
    Abraços, Luiz Roberto

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