Há vários meses, Leilah, minha esposa, e eu estávamos sentados em nossa saleta, extensão do “living room”, onde passamos uma parte da tarde, a “happy hour” (ao anoitecer), e onde assistimos ao cinema em casa na televisão. Lá, também, temos a tranquilidade para conversar sobre os mais diversos assuntos. Desta vez, o assunto foi nossa habilidade em usar o telefone celular.
Comecei assim:
- Leilah, não me conformo com a dificuldade que
tenho no uso do celular, pois lido há tanto tempo com computadores – desde
quando entrei na IBM em 1959 – e continuo fazendo muita coisa no computador,
especialmente no que se relaciona com meus escritos, correspondência e
planilhas de cálculo.
Leilah comentou:
- Bem, comigo acontece coisa parecida. Nada,
porém, tão estressante como a troca de celular que fiz há dois meses. Você
acompanhou, você até teve de me acalmar.
Lembra-se que naquele livro do Renato Alves ele menciona a troca de celular como
uma atividade altamente perturbadora?
- É mesmo. Houve a agravante dos técnicos da
loja fazerem a transferência de dados do aparelho velho para o novo em
duplicidade – com milhões de fotografias que você não queria perder. E nosso genro gastou um tempão para resolver o problema para
você.
- E, depois, ainda tive aquela dificuldade em
receber telefonemas no celular novo. Os filhos reclamavam: “Mãe, tentei chamar
a senhora mas seu telefone deu ‘fora de área’”. Descobrimos, então, que as
ligações eram dirigidas pela nossa rede interna (wifi) ao telefone
velho, que estava ligado, funcionando como um pequeno computador ligado à
internet; como ele não era mais um telefone, a ligação não acontecia.
Resolvemos, mas não foi fácil...
- Reconheço, claro, que o celular é uma
ferramenta extraordinária, de alcance global, e já não podemos dispensá-lo. Uso
muito os recursos de telefonia móvel, da troca de mensagens pelo WhatsApp, do
e-mail, da internet, todos de alcance mundial, além da leitura de e-books e
alguns outros aplicativos. Confesso, entretanto, que opero melhor com o teclado
do computador, pois sou desajeitado ao tocar a tela do celular com meus velhos
dedos. Há, ainda, a necessidade de atenção redobrada ao passar os dedos pela tela,
pois é muito fácil fazer algo indesejado (por exemplo, chamar acidentalmente
uma pessoa pelo WhatsApp). O corretor ortográfico deste aplicativo, altamente
intrometido, também requer uma atenção especial, especialmente quem procura
escrever normalmente, corretamente, suas mensagens.
Leilah mantém a conversa:
- Depois de toda longa experiência com a
informática, lidando com sistemas variados na gerência de TI de empresas e,
depois, nos serviços de consultoria, eu
não me conformo em não dominar o dispositivo. Tento aprender. Não tenho
problemas no uso do computador e do Ipad, embora encontre dificuldades com
alguns sites de compras que me dão trabalho, mas a incompetência é deles.
E a conversa prosseguiu com comentários sobre a
habilidade dos mais jovens – e até das crianças – no uso dos celulares, com o
que, se já não estivéssemos conformados com as dificuldades físicas trazidas
pela idade, ficaríamos humilhados.
No final da conversa concluímos que nosso consolo
é que as cabeças continuam boas, escrevemos bem e tiramos muito proveito do
fantástico aparelho.
Hoje, volto a pensar no proveito que estamos tirando,
Leilah e eu, do nosso uso dos celulares, muito desse uso forçado pelas
organizações, públicas e privadas, com as quais interagimos. E me admiro de
quanto dependemos dos pequenos e poderosos aparelhos.
Lembrei-me de crônica que publiquei em 2017, em que menciono os benefícios que tínhamos – e continuamos tendo – com o uso dos celulares. Abaixo, transcrevo parte daquela crônica:
“Passei a relacionar mentalmente o que temos
feito, nós mesmos, eu e minha mulher, por meio do WhatsApp: comunicamo-nos
rapidamente com os filhos e amigos, individualmente e em grupos, tanto para
tratarmos de assuntos sérios como para “bater um papo” à distância (alguns
estão mesmo longe, em outro país); complementamos as consultas médicas
informando o profissional sobre a evolução de um tratamento, pedidos ou
resultados de exames ou um mal-estar súbito (já enviei, certa vez, foto de um
pequeno ferimento na perna para primeira avaliação da geriatra); fazemos
pedidos de pequenas compras às diaristas, para trazerem na vinda para nossa
casa (o que é muito conveniente para idosos).
Bem, até agora falei só do WhatsApp, mas
lembremo-nos de que o celular é, também, computador de bolso ligado à internet,
gravador de som, câmera fotográfica e de vídeo, e relógio. E mais, uma coleção
de livros, prontos para você ler onde quiser, quando quiser, bastando para isso
baixar um aplicativo tipo “Kindle”.
Como câmera, temos utilizado muito o celular
para registrar e ilustrar comunicações de eventos; almoços e festas de
aniversário, por exemplo. Este recurso serve também para ilustrar mensagens nas
mais variadas atividades profissionais. Recentemente, na reforma de um
apartamento, usamos fotos para registrar as condições dos tubos de água. Em
outra oportunidade, para envernizar uma bancada em nossa sala, tivemos de
desconectar os fios de uma instalação de aparelhos de televisão e de som, com
seus periféricos; fotografamos previamente a situação das conexões originais
para reconstituí-las corretamente.
Como computador, o celular tem substituído,
pelo menos parcialmente, os desktops e laptops. Um dos companheiros de nosso
almoço periódico de aposentados ex-IBM declarou que todo trabalho e leitura que
fazia no computador faz agora no celular.
Ligado à internet, o aparelho oferece uma
enciclopédia de bolso.”
Curioso, não destaquei o seu uso original de
comunicação telefônica móvel...
Sei que não contei novidade alguma, quase todas as pessoas que conheço fazem semelhante e amplo uso do celular; e as crianças, intensamente, com jogos de todo tipo. Para nós idosos, porém, está implícita a comparação: como fazíamos antes? Era muito diferente.
Hoje, quase sete anos depois, tenho algo a
acrescentar?
Certamente, o uso dos aplicativos se tornou mais
abrangente e intensivo, há operações de bancos, por exemplo, que exigem o uso
do celular, além do computador, o que obriga as pessoas a adquirirem o
aparelho.
Intensificou-se o abuso das chamadas indesejadas
(SPAM’s) e, terrivelmente, as tentativas de golpes de toda a natureza, criativas
e perigosas.
Na troca de mensagens e vídeos, há dúvidas sobre a veracidade da informação e desconfiança dos vídeos que podem ser produtos enganosos de Inteligência Artificial. Temos de estar sempre atentos.
Em resumo, a consideração básica é: o uso do
celular traz vantagens para os idosos? Analisando os benefícios e dificuldades,
o balanço é positivo?
Quando vejo a satisfação da Leilah ao se comunicar com os netos distantes e, particularmente, quando recebe um vídeo do neto carioca que está estudando em Paris, não tenho dúvida.
Washington Luiz Bastos Conceição
Notas:
!. O título do livro de Renato Alves, mencionado em nosso diálogo, é: "Os segredos para ter memória forte e cérebro sempre jovem".
2. Para ler minha crônica publicada em 2017, o link é:
http://washingtonconceicao.blogspot.com/2017/08/pequeno-poderoso-e-indispensavel.html
Eu acho o celular um mal necessário... ele meio que escraviza v. e interfere nos contatos pessoais, já que muitas pessoas mal tiram os olhos da tela. Mas manteém os entes queridos por perto e como ajudam nas viagens fora do país!
ResponderExcluirDo sobrinho Eduardo:
ResponderExcluirÓtimo texto, realmente o uso do celular está tomando um rumo que acredito ser apenas o começo pois praticamente a cada minuto aparece um aplicativo diferente e seguindo a evolução segue os golpes em ritmo igual, acabei de ver agora o novo golpe com o uso da imagem e da voz , não saberemos nesta evolução o que será do futuro, nem imagino o que meus netos verão e penso muito em meu pai, o que ele faria se tivesse conhecido o Google? E o que vamos ver e até onde iremos chegar presenciando as novidades? Pois é realmente uma bela crônica, um grande abraço aos meus tios que ainda verão muitas evoluções.
Da prima Thais:
ResponderExcluirCaro primo, realmente o celular revolucionou mundialmente a vida cotidiana, mas entre suas desvantagens estão nossa exposição crescente a golpes e a dependência que temos em relação a ele. Prefiro deixar o celular em casa quando saio para fazer compras ou encontrar os amigos. Desligo o cel por volta das 10 da noite e ligo novamente às 10 da manhã. Sem tomar essas precauções, ele vira um chupa-cabra em nossas vidas.
Há algum tempo li sobre a classificação dos usuários dessa tecnologia em Imigrantes e Nativos cuja transição se dá na Geração Y (1981-1996) qdo saímos de vez do mundo analógico para o digital.
ResponderExcluirSomos todos Imigrantes até a virada do Milênio.
Não sei o que seria da minha vida sem o celular. Parte dela fico no celular. Para utilizar serviços bancários, sem o celular seria impossível, e se for no notebook danou-se, ele pede para ler um QRCode que só o celular lê, para após enviar um código para abrir o banco no notebook. Que horror essa necessidade. Por outro lado posso ver meu neto em tempo real de qq lugar que eu estiver, fazendo suas peripécias. Foi uma das melhores invenções!!!
ResponderExcluirOlá Washington. Meu nome é Gabriela Tamari e sou doutoranda na FAUUSP. Estou fazendo um levantamento sobre as mulheres formadas nos primeiros anos da FAUUSP (1952-1971) e tentei achar informações sobre a trajetória da Leilah Mellone Bastos Conceição e não consegui achar nada. Por conta da documentação da FAUUSP, consegui procurar pelo seu nome e finalmente achei algum contato! Seria possível escrever um e-mail para ela ou para você? Muito obrigada!!!
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