Cara leitora ou prezado leitor:
Entre as mulheres mais marcantes que encontrei
na vida, destaca-se D. Izaura de Carvalho Corrêa, a avó do meu amigo
Sérgio Bastos, de sua prima Leilah (minha esposa), e de mais cinco netos.
Pessoa extraordinária, admirável, especialmente
porque, embora não tenha tido grandes recursos e uma preparação formal,
cumpriu, com seu marido, José Chrispiniano Corrêa (vovô Juca), a missão de sua
vida: a criação de seus três filhos e cinco filhas, com notável sucesso. E pôde
acompanhar, na extensão da família, o desenvolvimento dos netos e bisnetos.
Tenho histórias para contar de minha convivência com os Corrêa. Algumas pessoas da família perguntam por que não escrevo essas histórias. Começo a escrever hoje. Como senti que, para um bom trabalho, precisaria de informações de descendentes de Izaura e Juca, recorri ao apoio de Antônio Augusto, primo, de Leilah, de sua irmã Ciumara (netos de D. Izaura e Vovô Juca), e de Lígia, bisneta. Além das informações, eles têm fotografias e seus causos para contar.
Começo os trabalhos com esta crônica de
apresentação.
Conheci meu amigo Sérgio Bastos quando, aos quinze anos, em São Paulo, passei do Ginásio Estadual do Ipiranga para o Colégio Estadual Presidente Roosevelt para fazer o curso colegial científico, que me prepararia para a universidade. Vindo de outro ginásio estadual, Sérgio se tornou meu parceiro de estudo. As aulas do colégio eram no período da manhã. Na época de provas, nós estudávamos, à tarde, na casa dele, que ficava a dez minutos, a pé, do Colégio. Minha casa ficava em um bairro afastado, distante do colégio uma hora, viajando de bonde. Naqueles dias, eu almoçava na casa dele, onde moravam várias pessoas da família: seus avós maternos, seus pais, tios e um primo. Era um tempo em que os adultos, mesmo trabalhando fora, almoçavam em casa. Fiquei conhecendo, então, sua família. A senhora da casa era a avó, Dona Izaura. Seu marido, o simpático vovô Juca, era aposentado, após muitos anos de trabalho de farmacêutico e sócio gerente de farmácia.
A casa era um palacete construído, talvez na
década de 1920, onde havia residido o escritor paulista Paulo Setúbal. Era situada
na Rua Galvão Bueno, na Liberdade, bairro que se tornou, a partir da década de
1950, uma área da cidade de grande concentração da colônia japonesa.
Quando a conheci, D. Izaura era uma senhora aparentando mais de 60 anos, magra, aproximadamente um metro e sessenta e cinco de altura, de pele morena e feições finas.
D. Izaura e "seu" Juca tiveram oito filhos, três homens e cinco mulheres: José Maurício, Yolanda, Glória, Gentil, Helena, Maria Apparecida, Olga e Armando (por ordem decrescente de idade).
Quando comecei a frequentar a casa, lá moravam com
os pais: José Maurício (o doutor Zeca, pois ele era médico), ainda solteiro;
Gentil, também solteiro, que compartilhava um quarto com o Doutor; Yolanda, o
marido, Lauro, e o Sérgio, filho deles; Olga, o marido, Vianna, e o filho
Antônio Augusto (o Tonico), que tinha cinco anos. O casal Glória e Annunziato (Lúcio)
morava a uns duzentos metros da casa, mas ela passava lá o dia todo, todos
os dias, pois era a responsável pela
cozinha; o que não era pouca coisa, porque todos almoçavam e jantavam na casa.
Embora os outros trabalhassem fora de casa, o intervalo de duas horas para
almoço permitia esse hábito. D. Yolanda dava aulas de manhã no Grupo Escolar
vizinho ao Colégio Roosevelt.
Para ajudar na cozinha e fazer os outros serviços
domésticos, eles tinham duas empregadas.
D. Izaura dirigia as operações da “empresa”. Eu
nunca soube quem gerenciava as finanças do estabelecimento. Penso que alguns do
grupo, que incluía um médico, dois
advogados e um gerente de banco, faziam esse trabalho.
Apparecida (Cida), o marido, Francisco (Chico), e
as filhas Leilah e Ciumara, bem como Armando, a esposa, Terezinha, e os filhos
Sandra e Ricardo moravam em outro bairro de São Paulo, a Vila Pompeia. Helena,
o marido, Narciso, e a filha Marilena moravam em Barretos, cidade do interior
do estado de São Paulo.
Abaixo, gráficos da descendência do casal: filhos.
cônjuges e netos.
"Seu" Juca era de dezembro de 1877. Já o encontrei totalmente aposentado, ou seja, não só tinha deixado suas
atividades na farmácia como, aparentemente, não tinha obrigações domésticas. Imagino
que, quando em atividade como “official de pharmacia” (como consta em um de
seus documentos) e sócio do estabelecimento, dedicava-se integralmente ao
trabalho, longas horas diariamente, de forma que D. Izaura se desdobrava no
cuidado da casa e dos filhos. Quando ele se aposentou, ela continuou à testa da
casa, de modo que ele apenas acompanhava o movimento, distraindo-se
com o que lhe agradasse, calmo e lúcido. Tudo em harmonia.
No meu estudo com o Sérgio, no escritório do
Doutor, habitualmente nos revezámos na leitura de cadernos e livros. Quando a
matéria do Colégio era Química ou Ciências Naturais, "seu" Juca gostava de ouvir e
fazia comentários sobre as substâncias de seu conhecimento.
O casal Izaura e Juca viveu, pois, a História, desde o século XIX, quando o Brasil ainda era um império, até boa parte do século XX, acompanhando os eventos políticos no Brasil, a gripe espanhola, revoluções, as grandes guerras mundiais, os avanços tecnológicos, adaptando-se aos novos usos e costumes.
Ao longo das crônicas, os descendentes e cônjuges serão apresentados, causos serão contados e surgirão os bisnetos. A lembrança forte da matriarca acompanhará a série.
Washington Luiz Bastos Conceição
Houve um erro de data.
ResponderExcluirNão é possível Dna. Izaura ter nascido em 1853, e você tê-la conhecido com 62 anos.
Mais provável que tenha sido em 1883.
Um grande abraço.
Obrigado, Eduardo. A data é mesmo 1883. Já corrigi,
ExcluirObrigada, Tio, por mais esta iniciativa!
ResponderExcluirDe D. Isette:
ResponderExcluirBoa tarde, Washington. Adorei a sua apresentação da família da Leilah…. Já sei que vou acompanhar o desenrolar das suas crônicas futuras! Muito legal essa sua admiração por D.Izaura. Abraços para Leilah e para você.