Senhora leitora ou senhor leitor:
Leilah e eu sentimos o avançar da idade (em maio próximo a soma de
nossas idades será 180 anos), fazemos o possível para permanecer neste
mundo, apesar do desgaste físico, e costumamos dizer que estamos relativamente
bem. As observações dos amigos nos encorajam.
Transmitir nossa experiência de vida é a razão de eu vir lhes descrever,
minuciosamente, atividades domésticas do casal, atividades comuns que todas as famílias
praticam e, provavelmente, nos ajudam a continuar ativos.
Na primeira parte desta crônica, fiz uma introdução sobre o novo enfoque de vida dos idosos que, aposentados, têm ainda pela frente, além de outras atividades, as tarefas da operação doméstica. Também resumi o currículo do casal quanto às atividades dessa natureza e passei a descrever como Leilah e eu fazemos nosso trabalho de planejamento e controle financeiro e de compras. No final prometi descrever, nesta segunda parte, “várias outras tarefas domésticas, como aquelas que envolvem cozinha e a manutenção da casa, que ocupam bastante nosso tempo.” É o que vou fazer agora.
Atendendo a manutenção da casa
e dos equipamentos
Gostamos muito de nosso apartamento – é um relacionamento que vai
completar 54 anos em janeiro próximo – e sentimos que ele continua sendo o
ideal para nós. O Meia Lua (apelido do edifício) tem cerca de 100 unidades, o
que lhe dá escala para manter uma equipe de serviços que nos atende muito bem.
Sua localização é excelente.
Como é muito comum em edifícios construídos há anos, os apartamentos do
nosso prédio requerem serviços de manutenção, especialmente das tubulações de
água. As reparações em nosso apartamento se tornam pequenas reformas, que
exigem do casal as providências necessárias e muita paciência. Atuamos de comum
acordo; ambos se envolvem, mas eu assumo o acompanhamento dos serviços e Leilah
faz a avaliação e a aceitação, ou seja, faz o papel de cliente.
Quanto aos equipamentos: são vários eletrodomésticos e eletrônicos de uso corrente em residências; frequentemente, algum deles apresenta defeito, quebra ou simplesmente para de funcionar. Raramente consigo consertar algum aparelho ou objeto (precisa ser algo muito simples e que não exija ferramenta específica), de modo que temos de recorrer a um técnico (caso dos computadores, por exemplo), mas sempre procuramos entender o defeito e saber como está sendo corrigido.
Rotinas diárias
A limpeza e arrumação da casa é gerenciada pela Leilah, que é muito mais
observadora do que eu. Ela orienta e acompanha o trabalho das diaristas.
Outra atividade diária da Leilah é a lavagem de roupa. Embora pouco
saiamos de casa, há roupa para lavar todo dia. Logo de manhã, ao se levantar,
ela se encaminha à área de serviço sobraçando uma pilha de roupa que leva à
máquina de lavar e põe esta a funcionar.
Na atividade de estender a roupa lavada nos varais da área de serviço e
de, mais tarde, recolher a roupa seca, eu sou o auxiliar. Não deixa de ser um
exercício físico.
Outras rotinas diárias, que fazemos quase automaticamente) são: lavar e
guardar a louça, guardar roupa nos armários (nesta, sou muito relapso), “fechar
a casa” à noite (portas, janelas, cortinas)...
Observação importante: como meu automatismo aumentou com a idade, nas atividades rotineiras preciso me manter focado para não trocar as bolas.
As atividades culinárias –
forno e fogão
Estas são, talvez, das atividades domésticas, aquelas que dão mais satisfação à Leilah.
Como já contei, ela, quando mocinha, aprendeu a cozinhar com a mãe, durante
as férias escolares. Depois de casada, trabalhando fora, tinha a ajuda de
empregada, principalmente quando vieram os filhos. Porém, não deixou de
cozinhar. Eu me encarregava apenas dos churrascos.
Hoje, Leilah providencia os mantimentos, orienta a diarista cozinheira
que, em um dia, prepara a comida básica para a semana (usamos o freezer).
Leilah também prepara algumas refeições especiais para variarmos o cardápio,
como um bom bacalhau, peixe assado, risoto de camarão, filé grelhado,
strogonoff, “spaghettini”, “linguini”...
É oportuno observar que cozinhar é uma tarefa cansativa para os idosos.
Ficar de pé muito tempo, lidar com o fogão e o forno, com panelas, talheres e
louça e ir aos armários e à geladeira constituem um exercício intenso. No caso
da Leilah, o marcapasso está colaborando bastante.
Os extras, as novidades, são um capítulo à parte. Já escrevi sobre o
bolo de fubá e a máquina de macarrão no tempo da pandemia. Mais recentemente,
Leilah resolveu fazer pão – pão sem glúten – usado em minha dieta. Foi à
Internet, assistiu a alguns vídeos e resolveu experimentar. Ficou ótimo e,
agora, entrou em produção regular, e é o pão de nosso café da manhã.
Quando estivemos em São Paulo em julho, Leilah aprendeu a fazer iogurte,
que ela usa em seu café da manhã. Passou a fazer regularmente e é mais gostoso
do que aquele que ela comprava no supermercado.
Quanto a minhas atividades na cozinha, sou responsável pelo café da
manhã, nosso “breakfast”. Faço o café, preparo meus ovos quentes e as torradas
de pão de glúten, sirvo a mesa para a Leilah, o que inclui levar, da geladeira,
mamão, ameixas pretas em sua água e iogurte; na segunda fase, tomamos café com
leite e comemos o pão sem glúten, com manteiga. É, também, um trabalho de
garçom, de forma que tenho de combinar fazer minha refeição com o serviço à
Leilah (o que não é fácil, pois, em geral, os garçons comem antes dos
clientes).
Sou também responsável pelo congelamento de comida preparada e dos
insumos por cozinhar, faço a etiquetagem das vasilhas (tupperware) e controlo
as entradas e saídas do freezer. Ou seja, tenho a função de almoxarife.
Tenho outras tarefas de auxiliar, como por e tirar a mesa às refeições e
ajudar na preparação do pão.
Enfim, a cozinha para nós é um tanto divertida, é uma espécie de
playground de idosos.
É importante comentar que, como em todas as atividades, temos de ser extremamente cuidadosos ao realizar as tarefas domésticas – temos de nos movimentar com cuidado, evitando o desequilíbrio, não devemos tentar carregar objetos pesados, prestar muita atenção ao lidar com comida e bebida quentes. Enfim, não podemos abusar de nossa atual capacidade física e devemos, sempre, evitar riscos de acidentes.
Washington Luiz Bastos Conceição
Nota:
Quanto às diaristas: somos atendidos por duas; cada uma delas, uma
vez por semana.
Ótimo! Vocês têm uma energia invejável, parabéns!
ResponderExcluirDa próxima vez que formos aí quero experimentar esse pão sem glúten e esse iogurte... 😊
ResponderExcluirDa prima Thaís:
ResponderExcluirAdorei esse café da manhã e as comidinhas gostosas. Realmente o corpo é uma máquina que enferruja quando não se movimenta.
Acho muito bonita essa sincronia de vocês. É tão raro ver casais assim hoje em dia...
De D.Isette:
ResponderExcluirAdorei a sintonia de vocês nos trabalhos domésticos! Essa parceria é muito bonita e louvável… meus parabéns! Abraços.
Obrigado pela atenção e pelos comentários. Lembro que esta série do "casal de idosos" tem por objetivo informar sobre nossas atividades como "dicas", já que não há, propriamente, uma fórmula para a longevidade.
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