sexta-feira, 22 de agosto de 2025

21 km no Rio de Janeiro

 O site na Internet anunciava:

“No dia 17 de agosto, será realizada a Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro 2025. A 27ª edição do evento contará com três distâncias, de 21,097km (meia maratona), 10k e 5k. Com inscrições encerradas, a expectativa é que a prova reúna mais de 20 mil corredores.

A largada da meia maratona acontece no bairro do Leblon, no cruzamento da Avenida Delfim Moreira e a Rua Cupertino Durão. Já o início das corridas de 5k e 10k será realizado no Aterro do Flamengo

Durante o percurso, os corredores passarão por alguns dos principais pontos turísticos do Rio, como as praias de Ipanema, Arpoador, Copacabana, Botafogo e Flamengo.”

Meu filho Francisco e seu filho Bruno se inscreveram.


Admiro muito o hábito generalizado da geração dos meus filhos e dos meus netos de se exercitar (“malhar” e/ou correr) regularmente. Alguns, religiosamente, a ponto de sentirem a necessidade fisiológica dos exercícios – “o corpo pede”. Muito bom para eles e elas, pois aumentam a chance de uma longevidade confortável. Se muitos de meus contemporâneos, especialmente aqueles que tiveram atividades físicas (ginástica, corridas, futebol e outros esportes) estão chegando aos 90 anos, muitos da geração dos meus filhos chegarão bem aos 100 anos de idade. E a dos netos? Não faço ideia.

E, importante, esse fenômeno, é internacional.

Bruno, que completará 22 anos em setembro, está fazendo seu curso universitário na França. Sua preparação começou lá, antes de vir ao Rio, em julho, para as férias. Francisco, 60 anos em outubro, começou antes, pois sua preparação exige mais cuidados.

Na sexta-feira, 15, foram buscar o kit da corrida (camiseta, etc.) e, afinal, chegou o grande dia – domingo, 17, às dez para as sete da manhã, estavam a postos, no Leblon, para a partida.


Conforme anunciado, o percurso seria: Ipanema, Arpoador, Copacabana, Botafogo e Flamengo. E mais, daria uma volta final no Centro, com a chegada no aterro, junto ao monumento aos Pracinhas, combatentes da Força Expedicionária Brasileira, na segunda guerra mundial. 

O grupo da família, no WhatsApp, recebeu algumas ótimas fotografias dos dois corredores. Nas duas fotos seguintes, a passagem dos dois corredores por Ipanema:





A seguir, como descrição de sua corrida, nada melhor do que o texto que o Francisco escreveu e enviou ao grupo, após o comentário de seu irmão Cássio: "Lindas essas fotos. Que delícia correr pelo Rio de Janeiro todo assim!”

Francisco:

“Nem fala! Muita emoção… o cheiro da maresia matinal na Praia do Leblon me fez lembrar a nossa infância. Correndo pelo Leblon e Ipanema com as pessoas iniciando o seu domingo praiano.  Ao chegar em Copacabana sinto a mudança do visual da praia e das pessoas - a mistura do Domingo Praiano com o pessoal que varou a madrugada nos bares e inferninhos.   A foto na frente do lendário Copacabana Palace é clássica e remeteu-me a uma Copacabana de outros tempos.


Chegando na Princesa Isabel em direção ao Túnel deu uma embolada entre os corredores e as pessoas iniciando o seu domingo praiano e com os barraqueiros levando as suas mercadorias para a praia.  Passando os dois túneis assim com várias ultrapassagens e obstáculos a Enseada de Botafogo proporciona uma ideia de espaço mais aberto. O Cristo de um lado e o Pão de Açúcar do outro.


 A brisa não é a mais mesma e chegando ao quilometro 10 converso com o corpo e vejo que o “pace” está adequado.  Passo pelo Monumento dos Pracinhas e vejo a chegada do outro lado.  Sinto uma sensação de estar perto da chegada, converso com o meu corpo e aumento a passada. Passo pelo MAM,  Albamar e entro no túnel.


Uma descida que aproveito para continuar com a passada aberta.  Faz uma curva e volto na subida do túnel.  A subida faz o corpo dar o primeiro alerta que o quadríceps está sentindo o esforço no quilômetro 19.  Do túnel sigo em direção à rua paralela à Marechal com prédios antigos perto do Castelo.  Curva feita e volto para o Aterro para enfrentar mais uma subida e o quilômetro final. Nesse momento o público nos dois lados gritando, o quadríceps endurecendo e passo pelo quilômetro 20.  Nesse momento abro a passada e vou assim até o final. A multidão gritando, as pessoas felizes e vejo alguns corredores extenuados,  com dores e com bolhas.  Chego bem com o  fôlego em dia com aquela sensação que podia ter corrido mais rápido se não fosse a carcaça e as dores musculares recentes na lombar e na lateral do joelho. Eu faço um “cool down” e o quadríceps agradece.  O sol lindo com uma temperatura amena para o Carioca é para agradecer também. Dou uma alongada breve nele e verifico as batatas. Tudo certo. Vejo muitos turistas domésticos e internacionais. Desde há muito tempo, pessoas vêm de fora para correr aqui. Encontro o Bruno e a sua felicidade me emociona.  Pego a medalha.  Adoro desafios.  Gratidão por ter dado tudo certo. Aí foi o momento de comemorar com a Simone e o  Bruno.”

As fotos das chegadas ilustram muito bem a satisfação de ter vencido o desafio:


E a foto dos dois com as medalhas já é histórica para a família.


No final, a Simone, que acompanhou a corrida, foi encontrar o marido e o filho.


O evento, altamente emotivo para os três, com um reflexo de felicidade em toda a família, levou o pai e avô, nonagenário, orgulhoso, a fazer esta reportagem.

Washington Luiz Bastos Conceição



sexta-feira, 15 de agosto de 2025

D. Izaura e sua gente – Lembranças do Gentil

Cara leitora ou prezado leitor:

Esta é a oitava crônica da série “D. Izaura e sua gente”. Prossigo com as histórias das pessoas do grupo.


Gentil, o quarto filho de Izaura (segundo homem), era, quando o conheci, solteiro e morava no sobrado. Seu nome todo era Gentil dos Passos Corrêa. Seu nome do meio mostra que D. Izaura era devota de Nosso Senhor dos Passos, além de Nossa Senhora Aparecida, mas ele não usava o “dos Passos”. Seu apelido, em família, era Neno. Repetindo o que escrevi em sua apresentação, era esportista, aparentava menos que seus 37 anos, trabalhava no Banco do Brasil e chegou a gerente de câmbio em São Paulo. Simpático, direto nos diálogos, assertivo, era muito amigo do Sérgio e seu guru para assuntos diversos. Era padrinho da Ciumara, irmã da Leilah.

Sua carreira no Banco do Brasil o levou, de início a trabalhar em Maceió, estado de Alagoas, onde, parece-me pelos comentários que fazia, passou um bom tempo. O que se contava na família era que ele teve uma noiva, naquela cidade, que veio a falecer antes do casamento. A moça se chamava Ciumara; daí, o nome da afilhada.

Gentil contava passagens de sua vida e episódios com conhecidos, fazendo comentários, transmitindo para nós, Sérgio e eu, sua experiência de vida, desde os tempos de Recife.

Sobre seu trabalho na sede do Banco do Brasil em São Paulo, falava pouco. Eram assuntos muito diferentes para nós, pois operações de banco e de câmbio não estavam nos nossos estudos. Porém, comentava passagens curiosas de colegas. Lembro-me de que ele nos contou que seu contínuo, auxiliar administrativo que o atendia, era muito esperto e insinuante junto aos clientes e aos colegas. O Gentil ficou sabendo que, quando um cliente tinha alguma dificuldade com os procedimentos no banco, ele oferecia ajuda na tramitação de documentos, dizendo: “Fale comigo, você não fala comigo..”. Certamente, esperava que essa ajuda lhe rendesse uns brindes.

O esporte que Gentil praticava era pelota de mão no  clube esportivo que frequentava. Levava com ele o Sérgio, nos fins de semana; inicialmente, ao Banespa, clube dos funcionários do Banco do Estado de São Paulo, depois ao Ipê Clube, ambos no caminho do bairro de Santo Amaro. Eu fui com eles algumas vezes, mas não jogava; era um jogo estranho para mim e eu constatei que não levava jeito. O Sérgio era o garoto da turma, composta de colegas da geração do Gentil. Algumas vezes, Sérgio e eu jogamos um futebolzinho no belo campo gramado do clube e participamos de festas juninas.


O jogo pelota de mão tem origem no País Basco. Da minha coleção de livros “O Mundo Pitoresco”, edição de 1945 (presente de meu pai) copiei uma foto antiga:

O jogo de pelota basca no frontão na cidade de Ondarroa, Espanha

A pelota basca é um esporte jogado com uma bola que é batida com a mão, uma raquete de madeira ou uma cesta, em uma quadra fechada (três paredes) ou um frontão (parede de fundo e lateral).

A turma do Gentil jogava pelota de mão, usando luvas especiais de couro. Se bem me lembro, a bola era de borracha maciça, um pouco menor do que a de tênis e ganhava grande velocidade quando golpeada. A quadra dos clubes era de três paredes, com as características do desenho abaixo:

Do site "Portal do Professor"

O interesse do Gentil por praticar pelota de mão proveio, certamente, do fato de ele ter assistido a partidas no Frontão Boa Vista, em São Paulo, construído na esquina da Rua Boa Vista com a ladeira de Porto Geral. O esporte era praticado por profissionais, mas foi proibido em todo o País na década de 1940, porque era um jogo de apostas e foi contaminado por irregularidades. Ele contava que os torcedores-apostadores percebiam anormalidades no comportamento dos jogadores e se manifestavam. E, mesmo quando o jogador se esforçava mas errava, também era devidamente “elogiado” com a expressão: “E queria, seu (palavrão)! ”.

O Gentil, segundo a Leilah, era o queridinho das irmãs. Pelo jeito, foi um jovem namorador, mas acabou se fixando na Fernanda. Os noivos, como já mencionei em crônica anterior, formavam um belo par e, juntos, dançavam tango muito bem, davam show nos bailinhos do sobrado. O noivado se estendeu bastante; D. Izaura, que, embora desse prioridade ao casamento das filhas, criticava: “Não se toma o tempo de uma moça”, dizia.

Gentil e Fernanda se casaram no início da década de 1950, pela manhã, na Basílica de Aparecida do Norte, Estado de São Paulo. A família e amigos os acompanharam e, a seguir, foi oferecido um almoço no Clube dos 500, em Guaratinguetá. Foi um belo evento da família, do qual também participei.

Abaixo, uma foto de um grupo de convidados com os noivos.

No grupo, foram identificados: na frente, a partir da esquerda: Armando com a filha Sandra; o padrinho  e a madrinha do noivo; os noivos; a irmã da Fernanda, seu marido e seu filho; atrás destes, o Sr. Júlio, pai da noiva; no topo da escada, os jovens Sérgio e Washington; abaixo do Sérgio, seus pais: D. Yolanda (encoberta) e o Dr. Lauro; à direita destes, D. Luísa, mãe da noiva.

Os noivos foram em lua de mel, de navio, para Buenos Aires e, certamente, deram show de tango lá também...

Washington Luiz Bastos Conceição


Notas:

A. Para informações sobre a pelota basca, recorri, além da Wikipedia, ao ChatGPT e aos sites:

“Almanaque da Cultura Corporal – Pelota Basca” cujo link é:

https://www.almanaquedaculturacorporal.com.br/post/pelota-basca-jogo-de-pelota

 e “Portal do Professor”, cujo link é:

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=24042

B. Do Google: "Nosso Senhor dos Passos" é uma invocação de Jesus Cristo na Igreja Católica que se refere à sua paixão e morte, especialmente ao caminho que ele percorreu do Pretório (onde foi condenado) ao Calvário (onde foi crucificado). É uma devoção popular que inclui procissões e meditações sobre a Via Sacra."

C. Cara leitora ou prezado leitor:

Para ler quaisquer das sete primeiras crônicas da série, clique nos respectivos links abaixo:

1) D. Izaura e sua gente – Introdução

https://washingtonconceicao.blogspot.com/2025/02/d-izaura-e-sua-gente-introducao.html

2) D. Izaura e sua gente – A casa e os moradores

https://washingtonconceicao.blogspot.com/2025/03/d-izaura-e-sua-gente-casa-e-os-moradores.html

3) D. Izaura e sua gente – Leilah na Galvão Bueno

https://washingtonconceicao.blogspot.com/2025/04/d-izaura-e-sua-gente-leilah-na-galvao.html  

4) D. Izaura e sua gente – Vovô Juca

https://washingtonconceicao.blogspot.com/2025/05/d-izaura-e-sua-gente-vovo-juca.html

5) D. Izaura e sua gente – Apresentando as pessoas – 1

https://washingtonconceicao.blogspot.com/2025/06/d-izaura-e-sua-gente-as-pessoas-1.html

6) D. Izaura e sua gente – Apresentando as pessoas – 2

https://washingtonconceicao.blogspot.com/2025/07/d-izaura-e-sua-gente-apresentando-as.html

7) D. Izaura e sua gente – O baile do Odeon

https://washingtonconceicao.blogspot.com/2025/07/d-izaura-e-sua-gente-o-baile-do-odeon.html

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