Na crônica “Vovó Jurema vai à Europa”, que publiquei há alguns dias, conto que minha mãe registrou, em um pequeno caderno de capa preta, informações diárias sobre algumas de suas viagens ao exterior, com letra clara e bonita. Uma dessas viagens foi sua primeira à Europa, em 1963, com anotações que me pareceram muito ilustrativas das condições e recursos oferecidos aos turistas em um “giro” à Europa daquele tempo.
Avaliei que essas anotações, comentadas, seriam de
interesse para a família, amigos e, em parte, para os demais leitores de minhas crônicas. Decidi
levá-las ao computador.
Acontece que sou um digitador incompetente, nunca
pratiquei datilografia, uso só os dois indicadores. Como não cogitei de
contratar alguém para o serviço, decidi ler o caderno ditando para o
computador. Eu já havia testado, como curiosidade, o ditado no Word; funcionou.
Passei, então, a ler as anotações de Jurema no
livro preto, ditando para o Word. Deu certo.
Resultou um texto de 9019 palavras, correspondendo
a 35 páginas de livro no tamanho 14,8cm X 21cm.
Claro, tive um bom trabalho de edição, além das
correções feitas durante o ditado.
Veterano
de Informática (atualmente, denominada "TI - Tecnologia da Informação"), desde o tempo em que era
chamada "Processamento de Dados", sou, hoje, um “usuário” de PC ("Personal Computer")
e do omnipresente telefone celular.
Como estou me desempenhando com o celular, aparelho mágico, poderoso, que nos serve tanto, mas também nos domina? Tenho tirado muito proveito de sua função original, a comunicação telefônica, de seus aplicativos de mensagens, principalmente do WhatsApp, e da leitura de e-books. Com ele, também tiro fotos (nada artísticas) e uso a Internet, recorrendo frequentemente ao Google para pesquisas. Como operador, reconheço que sou primário, pois, além da dificuldade de entrar com dados mediante toque na tela com os dedos, ainda esqueço de como fazer algumas operações, especialmente aquelas necessárias só de vez em quando. O ponto alto de seu uso é realmente a comunicação instantânea com pessoas de todo o planeta.
Meus
trabalhos de aposentado, principalmente de escrita, faço no PC, meu velho
conhecido, enriquecido com a ligação à Internet, usando muito as aplicações: de
processamento de textos (o Word), de produção e apresentação de “slides” (o
Powerpoint) e de planilhas eletrônicas (o Excel). No dia a dia, uso também o “e-mail”
e o software de leitura de e-books (o programa Kindle).
A
minha longa convivência com os computadores (desde 1959, quando comecei a
trabalhar na IBM) me faz refletir sobre a evolução dos sistemas eletrônicos,
tanto do hardware como do software, e do seu progressivo relacionamento com os
sistemas de comunicação.
No
começo da década de 1980, eu, na IBM, era um usuário indireto dos sistemas
internos da empresa. Os profissionais dos vários departamentos já
trabalhavam com terminais ligados ao computador central (o “mainframe”). Como
gerente de meu setor, eu me valia dos serviços da secretária e dos analistas de
sistema, de modo que utilizava, quando necessário, seus terminais. Por exemplo,
para me comunicar com um dos analistas que estava trabalhando temporariamente
nos Estados Unidos. Ainda não havia a Internet, mas a IBM tinha uma rede
própria internacional, mediante a qual podíamos, entre outras operações, trocar
mensagens e, mesmo, “conversar” por escrito (o que hoje se chama “chat”).
Quando
deixei a IBM, em 1983, estavam surgindo, no Brasil, os primeiros computadores
pessoais (de capacidade e desempenho limitados), de tecnologia estrangeira, mas
montados aqui, por força da reserva de mercado então estabelecida pelo
Governo. Leilah e eu havíamos conseguido comprar um CP-500, que correspondia ao
TRS-80 (da Tandy Corporation, vendido pela Radio Shack), o que nos proporcionou
a iniciação com os computadores pessoais.
O
maior proveito que tive do CP-500 foi o aprendizado e uso de um programa de
planilhas chamado Visicalc. Leilah conseguiu uma cópia do manual do software,
eu estudei e pratiquei, achando o produto excelente. Era o bisavô do Excel,
tinha muito menos flexibilidade e recursos do que seu bisneto, mas era
fantástico quando comparado com as planilhas manuais construídas com o auxílio
de calculadoras.
Quando,
em meu trabalho individual, em casa e nos clientes, passei a usar o PC-XT, de
arquitetura IBM, fabricado no Brasil por empresas nacionais, o trabalho de planilhas
era feito com um software de mais recursos, cujo nome era muito curioso, Lotus
1-2-3; e o processamento de textos com o Wordstar, então o encanto das
secretárias, pois era uma ferramenta de muitos recursos, avançada no seu tempo.
Mais alguns anos, já na década de 1990, passei a usar o Windows, sistema operacional, o Word, o Excel e o Powerpoint, produtos da Microsoft. Estes, aperfeiçoados em versões sucessivas, uso até hoje. Nas minhas atividades de aposentado, são plenamente satisfatórios para mim.
O
Powerpoint, que usei muito em apresentações a clientes, evoluiu bastante; eu o
utilizo, agora, principalmente para montagens gráficas, como, por exemplo, os
quadros de fotografias que anexo aos e-mails que envio aos amigos no final de
ano. Nesses trabalhos, corto fotos, ajusto seus tamanhos, faço os alinhamentos
necessários e acrescento textos e legendas.
Continuo
usando o Excel, mas as planilhas de administração doméstica são simples,
quando comparadas com aquelas que eu fazia nos clientes, onde fiz até programação
por "macros" complicadas.
Como
o que faço mais é escrever, o Word é o software que mais uso. Ele tem,
atualmente, muitos recursos; não uso todos, mas estou recorrendo agora, além do
ditado, à tradução. A versão para o Inglês, por exemplo, está bem aproveitável,
exigindo pouca revisão.
Mas,
realmente, o que me surpreendeu foi o recurso do ditado. Funciona bem, embora nem sempre
minhas palavras sejam bem compreendidas, o que é resolvido com atenção e
revisão; também, é difícil comandar a pontuação por voz, de modo que prefiro
fazer a pontuação pelo teclado, o qual pode ser usado ao mesmo tempo que se faz
o ditado; ou seja, mesmo quando está em modo ditado (microfone ligado), o
programa recebe os sinais do teclado.
Durante o trabalho, aprendi a ter o cuidado de desligar o microfone no Word quando tenho de falar alguma coisa com a Leilah ou atender o telefone. A maior surpresa que tive ao usar o ditado foi quando, muito admirado com o que minha mãe estava contando, usei uma exclamação imprópria: as letras da má palavra foram convertidas em asteriscos! Morri de rir.
Washington Luiz Bastos Conceição
WL, você é o herói da resistência.
ResponderExcluirAdoro ver que a tecnologia não sai do sangue... rsss...
ResponderExcluirGostei das suas reminiscências pois compartilhamos a evolução do "processamento de dados" na nossa história IBM. Você falou na montagem de um grupo de fotos, recortando e redimensionando. Minha bisneta me mostrou um recurso do smartphone que permite juntar fotos selecionadas na galeria e juntá-las num painel com formatos e composição diversas. Ainda preciso de mais algumas aulas para aprender direito a coisa. Não é culpa da professora mas do aluno de certa idade...
ResponderExcluirDo primo Ruy: Muito interessante a crônica. Li com a atenção própria do ignorante no assunto. Deu pra entender, porque está escrita com a precisão e clareza costumeiras. Um deleite. Obrigado, primo.
ResponderExcluirDo amigo Horácio: Que texto gostoso! Uma delícia de ler! Muito bom.
ResponderExcluirDo primo Luiz Cezar: Também gostei, Washington. Muito interessante e bem humorada a crônica.
ResponderExcluirLonge do desembaraço e competência que você e Leilah sempre tiveram como utilizadores das ferramentas da informática (hoje tecnologia da informação, como você observou) por esses mares também naveguei, embora modestamente, de forma mais concentrada na área da redação de textos e armazenamento da produção intelectual, evolução extraordinária para a organização sistemática e agilização do trabalho nas funções que exerci.
Prazerosa a narrativa dos seus passos na lida para se adaptar a cada atualização da tecnologia, que hoje nos aproxima da tão decantada inteligência artificial.
TRS-80, CP-500, PC-XT, WordStar (havia também o redator MagicWindows, se não me engano,)... Já nem me lembrava dessas históricas peças dos primórdios da corrida.
Abraço, primo.
Do amigo Hordones: Sou menos evoluído do que você. Por exemplo, nunca digitei por comando de voz; embora já o tenha feito por iniciativa própria do computador. Sendo que, em muitas dessas iniciativas próprias, ele gere palavras que nem me passaram pela cabeça.
ResponderExcluirUm abraço.
Meu muito obrigado aos amigos pelos comentários que, como sempre, enriquecem a publicação da crônica.
ResponderExcluirCaro Washington, uma viagem na história da tecnologia. Gostei muito de saber da bem sucedida utilização da função "voice to text" em escala significativa. Parabéns!!
ResponderExcluirObrigado pela atenção e comentário do ex-colega de informática e, agora, colega maior de letras.
ExcluirDe D. Isette: Como sempre, sua narrativa surpreende pelo modo claro é preciso! Você e Leilah são um caso à parte em tecnologia. Parabéns!!! Eu ainda estou no Jardim da Infância…. Esse recurso do ditado, achei perfeito. Abraços para vocês e até breve!
ResponderExcluirErrata: claro e preciso.
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