sexta-feira, 16 de maio de 2025

D. Izaura e sua gente – Vovô Juca

Cara leitora ou prezado leitor:

Esta é a quarta crônica da série “D. Izaura e sua gente”.

Passo a mencionar, contando algumas de suas histórias, os personagens da família que conviveram com D. Izaura, constituindo o que chamei de "sua gente". Com base nas lembranças que tenho deles, com o melhor esforço de memória e recorrendo aos meus caros colaboradores.


O vovô Juca

Sobre o marido de D. Izaura, que já conheci bem idoso, escrevi na primeira crônica da série:

“Já o encontrei totalmente aposentado, ou seja, não só tinha deixado suas atividades na farmácia como, aparentemente, não tinha obrigações domésticas. Imagino que, quando em atividade como “official de pharmacia” (como consta em um de seus documentos) e sócio do estabelecimento, dedicava-se integralmente ao trabalho, longas horas diariamente, de forma que D. Izaura se desdobrava no cuidado da casa e dos filhos. Quando ele se aposentou, ela continuou à testa da casa, de modo que ele apenas acompanhava o movimento, distraindo-se com o que lhe agradasse, calmo e lúcido. Tudo em harmonia.”

Lembro-me, ao escrever estas crônicas, daquele senhor calmo, que passava o dia sentado, muitas vezes ao lado do rádio da sala, tirava umas sonecas, falava pouco mas acompanhava as atividades da casa; e observo, admirado, que ele sustentou, com seu trabalho, a criação de oito filhos, proporcionando-lhes a educação necessária para progredirem na vida. Certamente sua jornada na farmácia era longa, saía cedo de casa e voltava à noite. Como provedor, nada menos que um herói.


Antes de morar no sobrado, o casal morou em outra casa da Rua Galvão Bueno, menor, de sua propriedade. O documento do Vô Juca, de 1920, mostrado abaixo, registra, além dos dados de identidade e ocupação, o seu endereço àquela época, com numeração (aparentemente por lote) do lado ímpar da rua.


Documento de Identidade do Vovô Juca (1920)

 Estranhei a posição das fotos no documento, mas, observando as dobras do papel, constatei que, ao se dobrar o documento, as fotos ficam em posição favorável para exibi-las. Inteligência natural daquele tempo.

Quando o conheci, 28 anos depois, o Sr. José Chrispiniano Corrêa já era idoso. Minha lembrança de sua fisionomia é a da foto abaixo, aparentemente retocada por fotógrafo profissional.



Ele faleceu em 1951, quando Sérgio  e eu estávamos cursando o primeiro ano da Politécnica. Guardei na memória a data, por uma particularidade: ele estava gravemente doente já por algum tempo, e 15 de agosto era feriado em São Paulo (assunção de Nossa Senhora) e, junto a várias pessoas da família, inclusive a Leilah, fui visitar o casal. Eu estava no quarto quando ele expirou – uma lembrança muito forte.

No enterro, na despedida dolorosa, ouviram D. Izaura dizer a ele: “Juca, por que você fez isso comigo?”. Essa estranha manifestação me fez concluir que, com toda sua força, ela tinha no marido um apoio fundamental.

Washington Luiz Bastos Conceição


Nota:

Cara leitora ou prezado leitor:

Para ler as três primeiras crônicas da série, clique nos links abaixo:

!) D. Izaura e sua gente – Introdução

https://washingtonconceicao.blogspot.com/2025/02/d-izaura-e-sua-gente-introducao.html

2) D. Izaura e sua gente – A casa e os moradores

https://washingtonconceicao.blogspot.com/2025/03/d-izaura-e-sua-gente-casa-e-os-moradores.html

3) D. Izaura e sua gente – Leilah na Galvão Bueno

https://washingtonconceicao.blogspot.com/2025/04/d-izaura-e-sua-gente-leilah-na-galvao.html


3 comentários:

  1. Muito bom ler estas histórias, Tio, obrigada!

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  2. Da prima Thaïs: Que triste coincidência vocês estarem presentes quando o querido vovô Juca se foi.

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    1. É uma impressão muito forte, cena que guardo há 74 anos.

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