Ao chegar aos noventa anos, ouço frequentemente a frase “Mas o senhor está muito bem!”, quando informo minha idade a alguém. Costumo então comentar, de maneira séria, que concordo e não tenho o direito de reclamar. Considero minhas condições físicas e mentais excepcionalmente boas para um nonagenário.
Contudo, não quero dizer que me conservo jovem,
sou um idoso bem idoso, enfrento problemas de saúde com um bom atendimento
médico, procuro manter uma capacidade mínima de locomoção bípede, solicito
bastante meu cérebro para fugir da demência; afinal, luto para continuar em bom
estado para minha idade avançada.
Na minha comemoração de 90 anos, após proferir meu
discurso, um dos amigos me perguntava: “Washington, qual é a fórmula?”,
referindo-se à minha longevidade.
Claro, não existe propriamente uma fórmula (e meu
caro oncologista afirma que não há), mas a pergunta dele me fez pensar que
poderá ser de alguma serventia para meus leitores comentar minhas experiências
– e também da Leilah, minha esposa - contando como vimos enfrentando, desde que
nos tornamos idosos, as dificuldades para nos mantermos “relativamente bem”
(expressão que uso com frequência para qualificar nosso estado de saúde
considerando a idade avançada).
Para não exagerar, vou me limitar aos anos deste
século, no qual entramos, Leilah eu, com
64 e 67 anos respectivamente. Já tínhamos dois netos.
Continuamos em atividade profissional, dando
consultoria a empresas nas áreas de informática e marketing, até 2009 (eu) e
2010 (Leilah). Aposentados, Leilah se dedica à administração financeira do
casal e à operação doméstica; eu a auxilio no planejamento e execução desses
trabalhos e faço meus escritos. Ambos temos a felicidade de mantermos contato
intenso com os filhos e relacionamento estreito com parentes e outros amigos.
Assim fazendo, estamos procedendo de acordo com recomendações dos especialistas
para termos uma velhice melhor.
No capítulo dos cuidados com a saúde, nesta época
da vida em que o organismo se apresenta desgastado, estamos enfrentando
acidentes e doenças mediante um atendimento médico muito bom, que incluiu
cirurgias, submetendo-nos aos exames necessários (o que às vezes é difícil).
Procuramos nos alimentar bem e não fazemos excessos.
Contudo, não foram poucas as dificuldades. No
período em questão, Leilah sofreu fraturas, algumas graves, e teve câncer de
mama; eu tive câncer de próstata e um bloqueio no coração fez com que eu recebesse
um marcapasso.
Ambos somos cardiopatas e temos as dores e achaques
próprios da idade. Mantemo-nos, portanto, sob constante controle médico.
As recomendações de médicos e especialistas sobre cuidados com a saúde física e mental, que envolvem alimentação, exercícios, lazer e comportamento social, estão largamente disseminadas em livros por autores conceituados. Mencionei algumas delas em crônicas que publiquei neste blog. Procuramos segui-las.
Livros e artigos publicados tratam dos cuidados necessários com a saúde física e a saúde mental, e se baseiam em fatos médicos conhecidos e em novos estudos e pesquisas sobre enfermidades em geral e, particularmente, sobre distúrbios mentais. Também nos servem de orientação.
Um tema em particular é, contudo, muito
preocupante: a demência senil, especialmente quando começam a ocorrer lapsos de
memória.
Ouvimos muito médicos e amigos sobre o assunto,
com destaque para o mal de Alzheimer. Um livro, que lemos recentemente, nos
pareceu bem completo quanto ao assunto memória: “Os segredos para ter memória
forte e cérebro sempre jovem”, de Renato Alves (campeão de memorização no
Brasil, em 2006). Nele, o autor trata dos tipos de falha da memória, de suas
causas, faz recomendações para resolver os problemas e propõe um plano de
treinamento. Ele afirma que:
“A solução para uma memória forte e confiável
ainda não está no frasco de um remédio milagroso, uma pílula mágica que impeça
ou recupere os esquecimentos. ... O caminho é fortalecer a memória é conhecer a
memória, adotando atitudes e atividades que melhorem o desempenho cerebral e
investindo em métodos de memorização. E, como disse antes e reitero aqui, isso
independe da idade.”
O autor menciona os grupos de alimentos associados
à saúde do cérebro, destacados por uma epidemiologista nutricional americana, e
me deixou muito satisfeito quando afirmou que “Não existe atividade mais
intensa para a memória do que escrever”.
Como aconteceu no mundo todo, Leilah e eu vivemos dias difíceis, dificílimos para os idosos, durante a pandemia Covid-19. Nosso comportamento foi fundamental para nossa sobrevivência. Posso dizer que saímos ilesos dessa guerra, mesmo tendo recebido a visita do vírus. Descrevi, com minúcias, nossa vida de dois anos de isolamento social no livro “Um casal de idosos no Tempo do vírus”.
Nossa longevidade foi favorecida pela atitude do casal - e da família - nos momentos difíceis, como acidentes e cirurgias, por exemplo. Contudo estamos sabendo aproveitar os momentos prazerosos que a vida nos oferece, como as reuniões de família e de amigos.
Enfim, continuamos por aqui, convencidos de que, acima de tudo, temos de dar graças a Deus.
Washington Luiz Bastos Conceição
Notas:
Cara leitora ou prezado leitor:
1. 1. Dentre as crônicas que publiquei no blog sobre a nossa vida de idosos, selecionei algumas; umas sobre situações difíceis e outras sobre momentos agradáveis. Você poderá ler cada uma clicando no link correspondente.
· Almoço às Quintas (reunião com amigos
ex-colegas, que perdura até hoje)
https://washingtonconceicao.blogspot.com/2012/04/almoco-as-quintas.html
·
É proibido cair!
https://washingtonconceicao.blogspot.com/2013/01/
·
O Dia dos Pais e o Neto Blogueiro (sobre reunião
com a família)
https://washingtonconceicao.blogspot.com/2014/09/o-dia-dos-pais-e-o-neto-blogueiro.html
·
Um dia inesquecível
https://washingtonconceicao.blogspot.com/2016/03/um-dia-inesquecivel.html
·
“Home
Care”
https://washingtonconceicao.blogspot.com/2015/05/home-care.html
·
Discurso dos 85 anos (o aniversariante comenta a
vida de idoso)
https://washingtonconceicao.blogspot.com/2017/10/
·
Meu Novo Hóspede (o marcapasso)
https://washingtonconceicao.blogspot.com/2019/03/meu-novo-hospede.html
·
Tratar-se ou não se tratar – eis outra questão
https://washingtonconceicao.blogspot.com/2019/08/tratar-se-ou-nao-se-tratar-eis-outra.html
·
Uma reunião de família com discurso dos 90 anos
https://washingtonconceicao.blogspot.com/2022/10/uma-reuniao-de-familia-com-discurso-dos.html
2. O depoimento detalhado sobre a atuação do casal durante a pandemia está no meu livro “Um casal de idosos no tempo do vírus” e em sua versão em Inglês, o “An elderly couple in the time of the virus”,
disponíveis:
· No Brasil: na Loja Uiclap (impresso) e
Amazon.com.br (impresso e e-book),
· Fora do Brasil (impresso e e-book): na Amazon.com
(Estados Unidos); Amazon.co.uk (Reino Unido); Amazon.de (Alemanha); Amazon.fr
(França); Amazon.in (Índia); Amazon.co.jp (Japão); Amazon.es (Espanha) e
Amazon.it (Itália). Nesses sites, basta digitar meu nome completo (Washington
Luiz Bastos Conceição), no campo de pesquisa, para abrir a página com a descrição
de meus livros.
Não há fórmulas, infelizmente. Temos que agradecer a sorte de sermos assim ou pedirmos fervorosamente para chegarmos assim 😊 Parabéns!
ResponderExcluirParabéns Washington pelo texto e pela longevidade com tanta disposição e bons exemplos de vida!
ResponderExcluirImportante ressaltar o companheirismo e o apoio da família! Com amor, tudo fica mais leve
ResponderExcluirParabéns ao casal por tal lucidez nesta vida longeva em comum que já é um grande fator de inveja. Continuem.
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