Em meio às tristezas de agosto, um dia de trégua –
o Dia dos Pais. Trégua, porque ele provocou uma reunião da família; e reuniões
de família se tornaram, para nós, os mais velhos, cada vez mais importantes.
Parece-me (não vou pesquisar) que essa comemoração
seguiu a do Dia das Mães e que foi, também, muito estimulada pelo comércio. Não
me importo com essa origem e nem com a quantidade de e-mails que recebo nas
semanas que precedem o segundo domingo de agosto (no Brasil), pois eles servem até
de lembrete para mim. Este ano, recebi muitas sugestões de presentes da área de
perfumaria e comparei com as sugestões para o Dia das Mães, dentre as quais se
destacam os telefones celulares com os mais variados recursos.
A melhor comemoração é, certamente, um almoço em
família; juntando filhos e netos aos avós, melhor ainda. E as crianças, com seu
extraordinário desenvolvimento de hoje em dia, são uma atração especial: homenageiam
o pai e os avós com declarações ou, mesmo, com pequenos discursos. Desde cedo,
adquirem um vocabulário relativamente amplo, na escola, em casa, em sua maior
convivência com adultos e, até, ao assistir a filmes na televisão. Claro, às
vezes se confundem, como um garoto de uns nove anos que, ao cumprimentar o pai,
o chamou “meu pai preferido” em uma reunião de uma família amiga nossa – e deu
aos tios, grandes gozadores, a chance de animarem a festa mais um pouco.
Este ano, nossa família comemorou o Dia dos Pais com
um almoço em casa de minha filha. Estávamos Leilah, minha esposa, eu, os filhos
e noras daqui e Bruno, o neto carioca (o ramo americano comemora o Dia dos Pais
em outra data). A reunião foi muito agradável, com a habitual entrega de
presentes, aperitivos e um ótimo almoço. O destaque da tarde foi o discurso do
Bruno (onze anos no dia 15 próximo), preparado por ele na véspera. Leu, em
grande estilo, para um auditório atento.
Na escola, Bruno tem aulas de apresentação e até algumas
de teatro. Lê muito os livros apreciados por sua geração, em geral ilustrados,
desenha e também escreve histórias, altamente influenciadas pelos filmes de
aventuras. Para ele, ficção é sinônimo de ficção científica; sugeriu que eu
escrevesse uma história de aventuras intergalácticas. É um dos leitores de meus
livros e crônicas – e divulga os escritos do avô.
Bruno e Vovô - Os blogueiros |
No sábado, ele, em minha casa, resolveu escrever o
que chamou de crônica, para ler no dia seguinte. Usando o computador da Leilah,
digitou e imprimiu o texto rapidamente, usando fontes de tamanho grande e negrito
para destaques.
Seu texto me surpreendeu, tanto pelo uso de
algumas palavras menos comuns, quanto por algumas considerações sobre a data e
a condição de pai. No final, uma mensagem que contém uma preocupação de pré-adolescente.
Transcrevo-o abaixo, sem qualquer edição de minha
parte, embora eu tenha sido tentado a melhorar a pontuação. As pausas necessárias
ele fez na leitura.
“A crônica do neto blogueiro
Queridos vovô e
pai: lhes fiz essa crônica como presente de dia dos pais, agora é a minha vez
de blogar um pouquinho.
Um domingo, a família reunida. Os pais são
tratados como soberanos. As mães já tiveram o seu dia mas eu, a criança,
aguardo impacientemente, porem sei que o dia vai chegar, mas bom vamos falar
dos pais por que é o dia deles.
Os pais, dia deles ganham presente de acordo com a
data dia dos pais. Daí eu pensei “Os pais só ganham camisas, calças e cartões.
Mas porque não uma crônica?" Por isso estou escrevendo isso agora.
Os pais são bem legais sabe, os melhores amigos do
mundo. Sempre te dão dicas e são dicas que funcionam; os pais e os filhos sempre brigam,
mas isso é para deixar para traz e agora deixa-los curtir o momento de rei,
porque isso só dura um dia.
O final da crônica está a caminho, mas eu só quero
dizer: curtam pais curtam porque a época soberana está acabando, depois tem o
autor aqui que vira soberano.
Bruno Mellone Ribeiro Conceição”
Washington Luiz
Bastos Conceição
Nota:
O caro leitor ou a prezada
leitora pode me achar um avô “babado” e, provavelmente, terá toda a razão. Porém,
mais uma vez, ouso me comparar aos grandes Zuenir e Veríssimo que, de vez em
quando, relatam falas e feitos das respectivas netas. Na última quinta, dia 11,
em sua coluna do “O Globo”, Veríssimo conta que Lucinda, sua neta de seis anos,
ao lhe mostrar a maneira correta de tomar uma casquinha de sorvete sem pingar
na roupa, lhe disse: “Aprenda com uma profissional...”.
Parabéns, Washington... Parece que o neto vai seguir os caminhos do avô blogueiro...
ResponderExcluirEstá começando cedo e tem pendores artísticos. Acho que vai fazer melhor.
ExcluirObrigado.
Muito boa! Parabéns!
ResponderExcluirCaro Edison:
ExcluirComo já comentei em crônica anterior, a relação dos avós com os netos pode ser extremamente agradável e muito importante.
Obrigado pela atenção.