quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Uma surpresa muito agradável

Meus amigos e os leitores de meu livro “O Projeto 3.7 e Nós” (ou, em sua versão em Inglês, “The Project 3.7 and Us”) sabem que eu, esposa e filhos moramos na área  metropolitana de Chicago por cerca de um ano e meio, no final da década de 1960. Nessa temporada tivemos, a família, a experiência de vida naquela região dos Estados Unidos e eu, a de trabalhar em um projeto da IBM, fazendo parte de uma equipe internacional muito interessante.

No livro, descrevo essa equipe assim:

“Em resumo, a equipe do projeto era constituída por dois grupos – o dos representantes da IBM Estados Unidos (chamada “Doméstica”) e aquele formado por representantes da IBM Internacional (chamada “World Trade”), a qual incluía as empresas IBM de todos os demais países. O gerente geral do Programa era o Ted Armstrong e o gerente do grupo da “World Trade” era o Fred Piethe, um dos representantes alemães. Este e todo o grupo americano se reportavam ao Ted...”

“No grupo americano, além dos representantes, estavam o Especialista Administrativo, duas secretárias e o Commercial Artist, responsável pela criação das ilustrações de nosso material de Marketing e de Educação.”

O “Commercial Artist” era o James Kelly, que apresentei assim:

“Talvez o mais jovem do grupo dentre os homens, muito simpático e agradável, James Kelly Jr., o Jim, era o “Commercial Artist” do projeto. Formado em Desenho Industrial, era o responsável pelas ilustrações do sistema e dos diagramas necessários que eram incorporados ao material de cursos e de anúncio do sistema”... “Jim Kelly tinha uma aparência muito boa, era alto (cerca de 1,80m), pele clara, cabelos castanhos, devia ter uns 25 anos. Gostava de música, particularmente de bossa nova. Em nossas primeiras conversas ele fez questão de dizer que era um fã entusiasta do Tom Jobim, que tinha muitos discos com músicas dele, inclusive as gravações do Sinatra, do Tom com o Sinatra e também gostava muito do Sergio Mendes. Foi ele que me indicou as gravações de bossa nova que comprei lá.”


No encerramento de nosso trabalho em Chicago, as despedidas foram momentos um tanto tristes, apenas amenizados pelas perspectivas de novos desafios de trabalho de cada um em seus país, a satisfação de termos tido êxito em nossa empreitada e a possibilidade de nos vermos novamente. Promessas de comunicação entre nós, até de visitas aos mais chegados, foram feitas. De minha parte, muito poucas foram cumpridas. Na verdade, eu viria a trocar alguma correspondência com o Juan Garcia Escribano (o espanhol), a desencontrar-me dele quando estive em Madri, em 1972, a visitar o Emiliano Balladore (o italiano) em Milão, no mesmo ano, e, por puro acaso, a encontrar-me em White Plains, Nova York, com o Hiroaki Fujita (o japonês) treze anos depois (em 1982).


Quando meu filho Cássio, que mora na Califórnia, veio nos visitar em setembro, trouxe-me a notícia de que fora contatado pelo Jim Kelly, que lhe enviou o seu endereço de e-mail. O resultado foi iniciarmos, Jim e eu, uma comunicação por e-mail após 53 anos, ambos idosos (eu mais do que ele) com troca de informações e fotos das famílias.

Da mesma forma que eu me recordei, ao escrever o livro, das nossas conversas sobre música brasileira, ele lembrou, agora, de que, em uma visita a nossa casa em Prospect Heights, decidiram, ele e Chris, namorar firme – e se casaram algum tempo depois. E Jim ainda se lembrou de que a Leilah fez, no almoço,  um delicioso prato com palmito (“heart of palm”, difícil de achar naquele tempo, importado do Brasil).

Continuamos nos “falando”, temos o que contar sobre filhos e netos, temos o que falar do tempo de nosso trabalho.


Esse surpreendente reencontro me trouxe muita satisfação e, especialmente, a emoção de saber de um colega-amigo de quem eu nunca mais havia tido notícia. E me fez pensar quanto devemos ao desenvolvimento tecnológico. Particularmente, à Internet, pois o Jim tomou conhecimento da publicação de meus livros na Amazon, tentou me localizar e, com a ajuda de uma de suas filhas, conseguiu se comunicar com o Cássio.

Foi, portanto, um mágico, maravilhoso, excepcional reencontro internético.

Washington Luiz Bastos Conceição


Nota:

Procurei a palavra “internético” no dicionário “Aurélio on line” e não encontrei. Propus o neologismo.

11 comentários:

  1. Prova cabal que o importante nessa vida são as pessoas boas que cruzamos no nosso caminho ! Fazem parte das nossas conquistas tb ! Muito bom, pai ! Salve a tecnologia !!

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  2. Impressionante como tudo parece ter ocorrido semana passada. Que memória privilegiada. Benza Deus, como dizem os mineiros.

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  3. Esses reencontros são tão queridos como necessários em nossa vida... mostra que não passamos apenas pela vida de alguém, mas deixamos um pedacinho nosso que foi cultivado e deixou saudades... Que legsl!

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  4. Que surpresa boa! Tão bom poder reencontrar pessoas queridas!

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  5. Luciana Chamie Cataldi3 de novembro de 2022 às 12:53

    Que interessante esse contato depois de tantos anos e ele ainda se lembrar do prato que foi servido!!! Adorei!!!

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  6. Que máximo esse encontro depois de tantos anos, e, que interessante ele lembrar do que foi servido no almoço!!!👏👏👏

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  7. Adoro esses reencontros. Dá uma sensação de parada no tempo. Vc foi um felizardo. Não deixe escapar. Com certeza muitas histórias pra relembrar

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  8. Que delicia de relato! Viva o palmito!

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  9. Parabéns pela sua memória privilegiada! Fiquei tentando lembrar dos amigos internacionais que fiz nas viagens ao exterior e os que tive oportunidade de conhecer aqui. Vários eram meus counterpart. Muito bom seu texto!

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  10. Do primo Ruy:
    Bela crônica, Washington! Lembranças vivas e bem narradas.
    A propósito da parte relativa à música brasileira nos EUA recordou-me um pouco o clima relatado por Zuza Homem de Mello em seu livro Amoroso Uma biografia de João Gilberto, que recomendo.

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  11. Que ótimo! Viva a tecnologia!

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