No
sábado passado, Jurema, minha filha, comemorou seu aniversário. Era uma data
importante, para ela e para nós da família.
Acontece
que ela tem uma infinidade de amigos, de várias rodas, e não dá para fazer uma
reunião pequena. Teve de reservar um restaurante para poder receber todos seus convidados. Claro, os pais, irmãos e cônjuges estavam incluídos.
Portanto, lá fomos nós, Leilah e eu, para um restaurante na Marina da Glória,
aqui no Rio, área que não visitávamos havia vários anos. A última vez em que
estivemos lá, talvez mais de dez anos atrás, foi para um passeio de barco
promovido por uma das noras, Adriana, em seu aniversário.
Chamamos
um carro por um aplicativo, planejando chegar ao local da festa às seis da tarde, mas o
“Rock in Rio” havia posto a cidade em ebulição, de forma que o trânsito estava imensamente congestionado em todos os caminhos. O pobre satélite não conseguiu nos
dar uma rota que fluísse razoavelmente. Levamos mais de uma hora e meia para chegar ao
destino, fazendo um percurso que, em condições normais, teria sido feito em
meia hora.
Ao
chegarmos, finalmente, à Marina da Glória, ficamos admirados com a total
mudança da área em relação ao que tínhamos visto anos atrás.
O
automóvel nos deixou frente a uma portentosa escadaria, ponto de embarque e
desembarque de passageiros de taxi, escadaria essa que leva à entrada do
edifício do centro de convenções da Marina. Seu subsolo é a área de
estacionamento do complexo. Ao lado do edifício, há outra escadaria que leva aos ancoradouros e aos restaurantes. Devido a nossa dificuldade de locomoção, Jurema
providenciou para que um carrinho elétrico da equipe de segurança da Marina
fosse nos buscar para levar-nos ao restaurante. Lá chegando, encontramos uma
reunião animada.
O
restaurante fica em um local muito bonito, elevado em relação ao cais, em meio
a um terreno gramado de onde apreciamos uma bela paisagem noturna que abrange
os edifícios que ficam de frente para o aterro do Flamengo, desde a Rua do
Passeio, no centro, até a enseada de Botafogo, passando pela Avenida Beira-mar. Mais próximo, divisávamos um ancoradouro com alguns belos barcos.
A foto abaixo, tomada naquela noite, mostra parte dessa vista espetacular:
Foto por Suely Porto Leite - 05/10/2019 |
No
trajeto, fomos cumprimentados por vários amigos dela, entre os quais alguns já nossos
conhecidos que, pela iluminação à meia luz, pelo fato de vários rapazes terem deixado crescer a barba e pela nossa deficiência de memória visual, tivemos,
de imediato, dificuldade em identificar. Afinal, éramos dois idosos velhos de
guerra, exceções entre os convidados por sermos os pais da aniversariante,
frente a pessoas mais jovens que não víamos havia algum tempo.
Sentamo-nos
à mesa com um casal muito amigo e recebemos a visita e os cumprimentos de
vários convidados, que nos homenagearam com sua atenção.
O DJ ("Disk Jockey"), em plena atividade, estava nos brindando a música de fundo.
Jantamos
comida italiana com uma garrafa de vinho e ficamos acompanhando a chegada dos
novos convidados e o movimento todo da festa.
Experiente
em festas de aniversário, Jurema quis apagar logo as velinhas e cantar os
parabéns para evitar que, mais adiante, esta cerimônia sugerisse que a festa
estaria terminando; ela queria uma festa solta. Depois da cantoria (que incluiu, como é hábito
na turma dos meus filhos, o hino do clube Flamengo) e de servir o bolo,
abriu-se a pista para a dança e, aí, a festa pegou fogo com música de discoteca
e o ritmo com a batida forte que me parece (os mais jovens que me perdoem) um
bate-estaca. O fato é que a turma se animou e dançou para valer. Também
dançaram samba, vários dos convidados com muita competência, especialmente
aqueles do grupo de samba da Jurema, verdadeiros passistas que nos cumprimentam
com a reverência que o mestre-sala faz à porta-bandeira das escolas de samba.
Lá
pelas tantas, Jurema encomendou ao DJ uma sessão especial de Caymmi em atenção
a mim; fizeram uma roda para, inicialmente, ela dançar comigo e Leilah dançar
com Alexandre, seu marido; a seguir, dançamos, eu e Leilah, o que fizemos como
nos velhos tempos, de rosto colado.
Passado
esse interregno, mandaram ver música baiana, com uma dança atlética vertiginosa
em que eles mostraram uma energia intensíssima. Fiquei muito impressionado,
pois a média de idade dos dançarinos está acima dos cinquenta anos. Realmente,
as pessoas, hoje, parecem ter o vigor daquelas que, no meu tempo, tinham uns
vinte anos menos.
Um
dos amigos, que estivera em festa de nossa família, perguntou se
eu iria fazer um discurso. Respondi que, se me pedissem, eu faria; e passei a me
preparar mentalmente para falar. Entretanto, não houve oportunidade, a música
não parou; a animação dos dançarinos não arrefecia e o DJ era incansável.
Concluí que uma parada para um discurso, por mais breve que fosse, iria
atrapalhar.
O discurso que eu teria feito seria curto e, mais ou menos, algo assim:
“Caríssimos
amigas e amigos de Jurema e de seus irmãos que, pela lei transitiva da amizade,
se tornaram, também, amigos de Leilah e Washington:
Venho
agradecer a todos a valiosa gentileza da presença à comemoração do aniversário
de minha filha, especialmente nesta noite em que está muito difícil transitar
pela Cidade Maravilhosa.
Tenho
pouco a falar, pois já contei a história da chegada da Jurema em várias
oportunidades.
Não
vou repetir que, quando Leilah e eu nos casamos, tínhamos o objetivo de ter um
casal de filhos e que, depois do nascimento do Luiz, encomendamos a Paula – que
não veio; tivemos o Cássio e renovamos a encomenda da menina – chegou o
Francisco. Então, considerando que uma das minhas primas teve oito filhos
homens antes de desistir da menina, paramos com as encomendas. Mais de três
anos depois, quando estávamos morando temporariamente em Chicago, a surpresa:
Leilah ficou grávida. Imediatamente, ela concluiu que essa criança, por
teimosa, seria uma menina. E acrescentou: uma pessoa teimosa que conheço é sua mãe;
a menina terá o nome dela. Peguei minha mulher na palavra.
Não
vou repetir que meus colegas americanos daquela temporada acharam graça quando
lhes contei que minha filha nasceria no Brasil com um carimbo nas costas: “Made
in USA”.
E
não vou repetir que esta moça de um metro e oitenta de altura nasceu prematura,
de sete meses.
Quando anunciei o nascimento de minha filha aqui no Rio, uma colega de trabalho, entusiamada, afirmou que Jurema era um
nome muito forte, de mulher bonita e determinada. Acreditei firmemente, porque
minha mãe era assim.
Bem,
a garota cresceu, sempre muito amiga dos pais e dos irmãos, desenvolveu-se e
está encarando a vida com destemor.
A
presença de vocês nesta noite é uma prova cabal de que uma das qualidades de
Jurema é saber fazer amigos.
Pessoal,
estas eram as poucas palavras que eu queria lhes dirigir hoje. Fico por aqui.
Mais
uma vez, OBRIGADO, GALERA!”
Na
hora de irmos para casa (a festa continuava animada) fomos, Leilah e eu,
brindados com uma carona muito especial, de um casal muito amigo de meus
filhos, com a particularidade de ela ser a médica, clínica e geriatra, que
cuida de nós. Seu marido é da turma do Leblon, companheiro dos meninos desde a
juventude e, como eles, flamenguista doente. Ao aceitar o convite da carona
(eles moram em prédio bem próximo ao nosso) brinquei dizendo que seria ótimo,
pois teríamos acompanhamento médico a bordo.
Ao
deixarmos a Marina da Glória, nossa médica dirigindo, tivemos de dar uma grande
volta, passando pelo aeroporto Santos Dumont, para pegarmos a pista de volta do
aterro em direção à zona sul. Ao nos aproximarmos do túnel que leva a Copacabana,
fomos parados por uma blitz da Lei Seca. Por mais que tenhamos notícia de casos
de conhecidos nossos que passaram por essa experiência, há sempre uma certa tensão ao ser
parado à noite e ser abordado por um policial armado. Nossa médica teve de
mostrar os documentos dela e do veículo, descer do carro e se dirigir a uma tenda para soprar o
bafômetro. Procedeu com muita calma. Nós
outros permanecemos no automóvel. Ela voltou em pouco tempo e se saiu perfeitamente
bem, pois não havia ingerido bebida alcoólica. Seguimos viagem.
Carona
especial, nos deixaram na garagem de nosso edifício, na porta do elevador. Poderia
haver, para o velho casal, um fim de festa melhor?
Fomos
nos deitar e dormimos muito bem.
Washington Luiz Bastos Conceição
Notas:
1) O título desta crônica é um neologismo inspirado numa forma de expressão agora usada pelos meus filhos e seus amigos nas mensagens pelo WhatSapp, que consiste em derivar um verbo de um substantivo para indicar, resumidamente, uma ação específica. “Sextar”, por exemplo, pode significar algo como viver, aproveitar, a sexta-feira. Portanto, no dia 5 de outubro, digo que Leilah e eu “sabadamos”. Hoje, ao publicar esta crônica, "sabadei" de novo.
2) Mais informações sobre a Marina da Glória poderão ser encontradas no site: https://marinadagloria.com.br/ .
1) O título desta crônica é um neologismo inspirado numa forma de expressão agora usada pelos meus filhos e seus amigos nas mensagens pelo WhatSapp, que consiste em derivar um verbo de um substantivo para indicar, resumidamente, uma ação específica. “Sextar”, por exemplo, pode significar algo como viver, aproveitar, a sexta-feira. Portanto, no dia 5 de outubro, digo que Leilah e eu “sabadamos”. Hoje, ao publicar esta crônica, "sabadei" de novo.
2) Mais informações sobre a Marina da Glória poderão ser encontradas no site: https://marinadagloria.com.br/ .
A festa foi muito linda e divertida, com certeza. O lugar, apesar das mudanças, continua lindo... A companhia de você e Leilah não tem preço. Muito bom estar com todos. Obrigada por nos permitir compartilhar desse e de muitos outros momentos de sua família
ResponderExcluirSuely: Eu é que tenho de agradecer a você, pela foto, pela visita ao blog e pelo comentário.
ExcluirCoisa fina essa festa Washington, reunindo família e amigo para comemorar um aniversário, coisa rara hoje em dia, por falta de tempo, de grana ou por outro motivo qualquer. Um sábado muito especial, que me alegra ter compartilhado com vocês, com suas crônicas sempre expressivas. Abraços a todos, incluindo a aniversariante. Isa
ResponderExcluirCara prima: Obrigado pela sua leitura de minhas crônicas e pelos comentários, que enriquecem o blog.
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