Meus amigos e parentes de fora do Rio se mostram
muito preocupados conosco (minha família) por causa da situação atual de grande
insegurança no Rio de Janeiro, a linda cidade em que moramos. Como costumo
dizer, a cidade amada por todos os cariocas, naturais ou naturalizados.
Embora a insegurança urbana não seja “privilégio”
do Rio, nossa situação é bem mais grave do que em várias cidades do Brasil e do
mundo. Estamos no campo de batalha de uma guerra que envolve traficantes de
drogas e milicianos, que dominam muitas áreas da metrópole; e, contra eles, as polícias do
estado e, agora mais intensamente, a polícia federal e o exército brasileiro.
Guerra plenamente noticiada no Brasil e no exterior, com a mídia destacando
crimes brutais e estatísticas terríveis.
Em meio a essa grave confusão, o que me deixa muito
admirado é a disposição que os moradores em geral mantêm para continuar com
suas atividades normais; de trabalho, para aqueles que conseguem algum, e de
lazer. Continuam indo à praia, jogando seu vôlei, seu futevôlei, dando seu
mergulho ou simplesmente curtindo o sol, socializando e “pescando com os olhos
feito jacaré”. As comemorações de aniversários em bares e restaurantes, as
reuniões em botequins com os amigos, as rodas de samba na Lapa e em outros
bairros não deixam de acontecer. Promovem-se na cidade eventos de todo tipo,
até internacionais, como shows musicais e torneios de tênis. Claro, as pessoas
tomam cuidados especiais, escolhem locais e caminhos, mas não se conformam em
ficar recolhidas em casa. Eu, aos 85 anos, sou exceção (gosto de ficar em casa),
mas mesmo assim, de vez em quando, me aventuro a participar de alguma
comemoração com meus filhos, estimulado fortemente por Leilah, minha mulher.
Analisando esse comportamento dos cariocas,
lembrei-me de Aleppo.
Há anos, a Síria vem sendo assolada por uma
horrível guerra civil que, na verdade, envolve mais do que revolucionários
lutando contra um ditador implacável.
Em 2012, o conflito chegou a Aleppo. Importante
cidade daquele país e uma das mais antigas do mundo, sofreu bombardeios
devastadores e nela se travaram batalhas sangrentas, casa a casa, entre as
forças do governo e da oposição. Uma organização humanitária internacional
estimou a quantidade de vítimas em 13.500 mortos e 23.000 feridos.
O que me fez lembrar de Aleppo foi um comentário
feito na televisão em um dos noticiários do conflito: enquanto um setor da
cidade estava totalmente devastado, em outra parte as pessoas levavam vida
normal, o que incluía festas e comemorações.
Longe de mim querer comparar a guerra da Síria com a nossa, apenas
comparo o comportamento das respectivas populações. E penso: terá sido assim
durante a segunda guerra mundial, nos países ocupados pelos nazistas, por
exemplo? E durante o bombardeio de Londres, como se vivia em Liverpool?
Voltando ao Rio: esperamos que estes tempos
conturbados passem e que tenhamos novamente uma vida tranquila em nossa cidade.
Quando me mostro muito preocupado com meus filhos,
eles me aconselham: “Pai, ponha nas mãos de Deus!”. Então, digo agora: “Seja o que Deus quiser!” ou, na linguagem de abreviações usada nos celulares: “SOQDQ”.
Washington Luiz Bastos Conceição
Nota: As
informações sobre Aleppo foram colhidas na Wikipedia.
Verdade,as vezes também me ocorre esta comparação com Aleppo. Mas os mineiros preferem algo mais firme, seguram logo na mão de Deus e vão em frente.
ResponderExcluirAlô, primo. Prova incontestável de bravura desse povo que se recusa a aceitar a barbárie, levando a vida normal. Arrisca-se, é verdade, mas ou a vida para ou segue nesse ritmo precário de segurança. Mas a coisa está se tornando tão insustentável que a nossa imagem no exterior despencou: parece que nos transformamos num párea da comunidade internacional. O Brasil não é só isso, mas é verdade que temos também essa cara e temos que encontrar a saída desse labirinto pernicioso, começando pela reação das urnas de Outubro que, espero, traga as alvissareiras notícias da renovação de nossos poderosos chefões.
ResponderExcluirComo em qualquer situação extrema, nos agarramos a nossa rotina para mantermos a nossa sanidade. Trabalhamos, festejamos e vivemos como podemos. Se nos desesperarmos e perdemos aquilo que nos mantem sãos, então não perduraremos...
ResponderExcluirSeu Washington, eu digo reza pra não virar estatística e vai. É o jeito e torcer pra q melhore e o que resta, torcer porque acreditar que vai melhorar de fato não acredito. Nosso problema social é gravíssimo e os militares ficam até dezembro e não vão resolver a questão... "SOQDQ"
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