Caros leitores:
A publicação de hoje tem o objetivo de
alertar as pessoas sobre os perigos e inconvenientes de acidentes que estão
cada vez mais comuns.
Muita gente conhece casos semelhantes,
mas, assim mesmo, pareceu-me que divulgar este caso é necessário e importante.
Considerando esse objetivo, contei com
a anuência da Leilah, minha esposa, para publicá-lo.
Dezembro de 2012.
Eu e Leilah, minha esposa, estávamos
cumprindo da melhor forma possível o nosso intenso programa de fim de ano,
enfrentando todas as dificuldades de trânsito, calor, compras, entregas e
outras; todas conseguem ser muito maiores nessa época do ano.
Enfim, publicada minha crônica no
blog, preparadas e enviadas aos amigos as cartas de Natal (um hábito meu que se
tornou um compromisso agradável), combinado o programa das festas com os filhos
e com os parentes de São Paulo, sorteados os amigos ocultos (ou secretos, como
dizem os de lá) e comprados os presentes, chegou o dia 24. A reunião da família
foi feita no apartamento de minha filha, na Fonte da Saudade, no Rio.
A reunião foi muitíssimo agradável,
com as surpresas na entrega dos presentes, animada pela presença de meu neto de
nove anos, uma ótima ceia e bons vinhos, sem excessos ou algazarra.
Encerrados os trabalhos, Leilah e eu,
que já havíamos programado dormir lá, fomos deitar. Minha filha e o filho mais
velho foram nos desejar boa noite. Ligado o ar condicionado e apagada a luz, a
porta do quarto, que não estava bem fechada, se abriu. Leilah se levantou e, no
escuro mesmo, tentou fechá-la. Segundos depois, um barulho enorme, assustador.
Os filhos estavam conversando na sala, acorreram rapidamente, acenderam a luz e
todos demos com a Leilah caída, sentada, junto ao armário, do lado oposto ã
porta. Ela perdera o equilíbrio ao tentar fechar a porta, e caiu para trás do
outro lado do quarto. Olhava-nos assustada. Perguntamos se sentia dor e ela
respondia que sim, mostrando o braço esquerdo e a perna esquerda, à altura da
coxa. Com todo o cuidado, os filhos a puseram na cama e ela, com a face
crispada repetia: “Não quebrei nada!”. Deram-lhe água, procuraram localizar o
lugar afetado, mas a dor não diminuía. Nossa primeira impressão, de leigos, era
de que ela tinha sofrido uma distensão ou forte luxação. Eu mentalmente
comparava a situação dela àquela da ocasião em que ela fraturara o fêmur
da perna direita (na região do quadril), quando estávamos nos Estados Unidos, e achava que, realmente, desta
vez, não parecia fratura – a dor e a dificuldade de movimento me pareceram bem
menores.
De qualquer forma, decidimos que ela
teria de ser levada à emergência do hospital. Os filhos, já com a ajuda da irmã
da Leilah, que veio ao Rio para o Natal, prepararam-na, sempre evitando que ela
se apoiasse na perna esquerda, e conseguiram levá-la ao elevador, descer até a
garagem e colocá-la no automóvel de minha filha. Os três seguiram para a
emergência do hospital e os outros ficamos em casa esperando as notícias.
Já era madrugada do dia 25, dia de
Natal.
Enquanto aguardava – o melhor que,
como um octogenário, eu poderia fazer naquelas circunstâncias – recordei-me do
que passamos em 2009, nos Estados Unidos.
No dia 13 de maio de 2009, Leilah e eu
embarcamos para San Francisco para visitarmos nosso segundo filho e família:
sua esposa, e seus dois filhos, nossos
netos mais velhos.
Dia 13 foi o dia seguinte àquele mais
inusitado, talvez, da minha vida de adulto. No dia 12 fizera o lançamento de
meu primeiro livro, evento prestigiado por meus amigos, alguns que eu não via
havia tempo, e por amigos de meus filhos.
Os preparativos para a viagem
coincidiram com aqueles relativos ao lançamento do livro, bem como com os
necessários para a interrupção do trabalho da Leilah.
Conseguimos embarcar sem problemas
para a longa viagem Rio – São Paulo – Chicago – San Francisco e enfrentamos
estoicamente as vicissitudes dos voos e conexões. Chegamos bem e preparamo-nos
para curtir os netos, os passeios e a primavera na Califórnia, tão florida
nessa época do ano.
Localizada em Los Altos, a casa deles
(meu filho e família) é grande e muito confortável, com uma ótima suíte de
hóspedes no andar térreo, onde nos instalamos.
Los Altos é um dos municípios do Vale
do Silício, vizinho de Palo Alto (onde fica a Universidade de Stanford), a meia
hora de San José e a uma hora de San Francisco, pelas autoestradas. É um lugar
residencial muito bonito, com um centrinho encantador, muito agradável.
No primeiro fim de semana, os dias
foram de verão, de modo que pudemos aproveitar bastante a piscina da casa.
Durante a semana, todos estavam ainda
muito ocupados. O casal com os respectivos trabalhos e com a administração
doméstica e os meninos com a escola e os esportes – era estação de “soccer”
(nosso futebol) e de “baseball”.
Para fazermos os passeios habituais,
de que gostamos muito, Leilah e eu alugamos um carro compacto. Além dos giros
pela redondeza, onde todos os bairros são muito bonitos, pretendíamos visitar San
Francisco, Sausalito, Tiburón, o Napa Valley, Bodega Bay, Monterey e Carmel,
nossos locais preferidos, planejando para irmos e voltarmos no mesmo dia. A
exceção seria a visita ao Napa Valley e a Bodega Bay, onde iríamos precisar
dormir uma noite.
Na segunda, 18, e na terça, 19,
rodamos por perto da casa, fazendo compras nas drogarias e supermercados da vizinhança.
Na quarta, dia 20, fomos a Tiburón e Sausalito, passando pelo lado oeste de San
Francisco e atravessando a entrada da baía pela Golden Gate. Tiburón é uma
península na parte norte da baía de San Francisco. É na verdade uma pequena
cidade turística, com casas e apartamentos luxuosos, aparentemente com uma
população flutuante significativa.
De Tiburón, já no caminho de volta,
paramos em Sausalito que é sempre um lugar muito interessante para se visitar e
do qual temos muitas recordações de viagens. De Sausalito, seguimos para Los
Altos.
Todo o tempo, Leilah levou muito bem o
carro, mas sempre reclamando de minhas observações de copiloto chato.
Chegamos ainda com dia claro.
Àquela noite, meu filho tinha uma
reunião no centro de Los Altos com os gerentes da liga de futebol dos meninos e
me convidou para acompanhá-lo. Aceitei. Foi em um bar daqueles cheios de
televisão com transmissões esportivas, onde as pessoas bebem umas cervejas,
assistem a jogos de modalidades variadas – basquete e baseball principalmente – e conversam. A
reunião era uma conversa séria – o soccer dos meninos, para eles, é coisa séria
– de modo que tudo que pediram de bebida foi uma jarra de chope para os quatro
participantes. Eu aproveitei para matar a saudade de um scotch (apenas uma
dose).
Voltamos para casa perto das nove da
noite. Leilah estava na copa combinando com nossa nora o que elas iriam servir
no chá para duas amigas, no dia 26. Nesta data, Leilah e uma dessas amigas
iriam comemorar, juntas, o aniversário natalício.
Fui para o quarto fazer não sei o quê,
antes de jantar, quando ouvi um ruído e uma exclamação mais alta vinda da copa.
Voltei correndo.
Leilah estava caída no chão, porque,
ao descer de uma banqueta da copa, tropeçou no cachorrinho dos netos. Queixava-se de muita dor. Meu filho
tentou levantá-la, com muito cuidado, mas ela não conseguia se mover.
Com seu histórico de outras quedas e
da fratura dos dois braços, em ocasiões distintas, o direito em 2002 e o
esquerdo em 2008, sentimos que, muito provavelmente, ela tinha fraturado a
perna. Obstinadamente, eu torcia para que não fosse fratura.
Nossa nora telefonou imediatamente
para o atendimento de emergência local. Em cinco minutos chegou um carro de
bombeiros e, em seguida, uma ambulância. Leilah foi atendida por quatro
paramédicos, dois de cada carro, que a examinaram, constataram que ela tinha
provavelmente fraturado o fêmur. Como ela continuava com muita dor, passaram a
sedá-la com morfina para aliviar a dor e poder colocá-la na maca. Com muito
jeito, ela foi amarrada à maca e levada para a ambulância.
Embarquei na boleia da ambulância, um
dos paramédicos assumiu a direção e o outro ficou na parte de trás com a
Leilah. O destino, determinado pela nora, foi a seção de emergência do Hospital
de Stanford, com a qual ela já havia feito contato. Meu filho nos seguiu em seu
carro e a nora ficou em casa com os meninos.
O motorista dirigia cuidadosamente,
auxiliado pelo GPS, e falava com o colega de trás, que monitorou o tempo todo
as condições da Leilah (especialmente a pressão sanguínea). Ao nos aproximarmos
do hospital reforçaram a dose de morfina, para prepará-la para o desembarque. A
viagem durou cerca de vinte minutos que me pareceram uma eternidade.
Leilah foi levada imediatamente para a
emergência, mas, como acompanhante oficial (“visitor”), fui encaminhado para a
sala de espera. Meu filho, que nos seguia, entrou sem dar satisfação para
ninguém e acompanhou a mãe.
Sabíamos que a primeira providência na
emergência seria verificar se realmente teria ocorrido a fratura.
Depois de uns quinze minutos, ele foi
me chamar, entrei e pude ver a Leilah, já acomodada em uma cama móvel e
aguardando a vez para tirar a radiografia. Estava sedada, mas consciente.
Com a confirmação, pela radiografia,
de fratura do fêmur (quadril) da perna direita, a decisão médica foi operá-la.
Um médico nos mostrou a radiografia e disse que seria uma operação
relativamente simples. Passamos a aguardar sua internação no hospital, o que
seria feito naquela madrugada. Nesta etapa, assumiu o caso o médico encarregado
da internação, que nos informou que estava aguardando a liberação do quarto,
dando-nos o número do mesmo. Disse também que o processo de internação poderia
demorar e, como ela estava sob controle, poderíamos ir para casa, e voltar no
dia seguinte para o hospital.
Foi o início de uma temporada muito
difícil para a família: a operação foi um sucesso do ponto de vista cirúrgico,
mas Leilah sofreu muito na fase pós-operatória. Deixou o hospital no dia 28
(passou lá o dia de seu aniversário, quando ainda não estava bem) e foi
transportada para outro hospital, este de recuperação (lá chamado “Sub
Accute”), onde passou quinze dias fazendo fisioterapia e ainda tomando remédios,
como preparação para voltar para a casa de meu filho. Voltou no dia 5 de junho,
uma sexta, em cadeira de rodas, usando andador dentro de casa. Porém, ainda
faria por uma semana sessões de fisioterapia no “Sub Accute”, como paciente
externa. No domingo, dia 7, minha filha foi do Brasil para ajudar por uma
semana, pois o filho tinha uma viagem de trabalho inadiável para o
exterior. Foi uma visita animadora e
ajudou na recuperação da paciente. A filha, depois de uma semana, voltou ao
Brasil, mas nós tínhamos de esperar a alta por parte do cirurgião, o que
aconteceu no dia 15 de junho, após uma série final de exames. Em seguida,
voltamos para o Brasil.
O itinerário da viagem de volta para o
Brasil foi San Francisco – Chicago – Rio. A nora reservou assentos estratégicos,
pediu atendimento especial e cadeira de
rodas em todos os aeroportos. Apesar dessas providências, tivemos algumas
dificuldades: por exemplo, as comissárias não permitiram que deixássemos o
andador (que era dobrável) embaixo da poltrona, tinha de ser guardado em um
armário delas; dessa forma, cada vez que ela precisava ir ao banheiro, eu era
obrigado a pedir o andador à comissária. No voo de Chicago ao Rio, o avião (Boeing
767) não tinha a cadeira de rodas compacta para uso no interior da aeronave e
esqueceram-se de pedi-la com antecedência; isto atrasou o voo.
Enfim chegamos.
No Rio, antes de voltar à vida normal,
Leilah teve ainda de usar andador e cadeira de rodas e de cumprir um programa
de fisioterapia por um bom tempo, sob orientação de um ortopedista daqui, de
renome, que a atendeu a pedido de um grande amigo nosso, também médico. Este
amigo, na ocasião, disse a frase que não pudemos esquecer: “D. Leilah, a
senhora está proibida de cair!”. Aproveitei-a para dar título a esta crônica.
Na noite deste Natal, certamente ela
se lembrou de tudo que passara em 2009 e estava, era muito claro, assustada com
a queda – por isso repetira tantas vezes
que não havia “quebrado nada”.
Finalmente, meu filho telefonou da
emergência e tivemos o seguinte diálogo: “Pai, o senhor está sentado?”. “Sim”.
“Pois é, foi fratura e ela terá de ser internada para a operação”. “O osso se
deslocou, saiu do lugar?”. “Parece que não”. E disse que ela estava sedada.
E o processo todo se repetiu:
internação no dia 25 pela manhã, preparo para a operação; no dia seguinte à
tarde, foi feita a cirurgia, a qual os médicos, novamente, classificaram como
simples (simples do ponto de vista cirúrgico, entendo eu, porque para o
paciente e a família nunca é “simples”, especialmente quando se considera
também a fase pós-operatória). Após a cirurgia, ela permaneceu na UTI –
Pós-Operatória até às treze horas da quinta, quando foi para o quarto do
hospital. Teve alta no sábado, após ser testada por um dos ortopedistas. Ela
queria muito ir para casa por causa do desconforto causado pelos remédios,
apesar da boa qualidade do quarto e do eficiente atendimento de enfermagem.
Não precisou de ambulância. A esposa
do filho mais velho a trouxe para casa, onde iniciou a fase de recuperação e, apesar
de um dia muito difícil, quando teve de voltar à emergência do hospital, vem evoluindo
muito bem. Como se diz muito hoje em dia, “está sob controle”.
Essa história pode dar a impressão de
que Leilah não se cuidou quando da constatação da osteoporose e, depois, sofreu
as quedas por imprudência. Pelo
contrário: sempre fez os exames necessários, sempre se tratou; é cautelosa ao
caminhar na rua, ao usar escadas (mão no corrimão) e ao brincar com os netos;
dentro de casa, não sobe em escada ou cadeiras.
Enfim, ela obedece ao decreto de nosso
amigo médico – e, aliás, eu a acompanho.
Ainda assim, desequilibrou-se de uma forma imprevista e passou novamente por
uma dolorosa provação.
Espero que vocês, caros leitores, se
lembrem sempre de que, para quem não é atleta e especialmente para quem é
idoso, tendo ou não osteoporose,
É PROIBIDO CAIR!
Washington Luiz Bastos Conceição
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