domingo, 16 de dezembro de 2012

A História de Minha Carta de Natal


No meu segundo livro, o “Para você se animar a escrever seu livro”, dedicado “A todas as pessoas que pretendem escrever e publicar um livro e que ainda não tiveram esse prazer”, menciono, além de várias razões que me encorajaram a escrever, a apreciação favorável dos amigos e parentes em relação aos meus cartões, mais propriamente cartas de final de ano. Nestas, acrescento aos votos de Feliz Natal e Bom Ano Novo uma síntese das ocorrências e da evolução da família durante o ano. São enviadas em vez dos tradicionais cartões de Natal, a maioria por e-mail, com algumas fotos para quem conhece meus filhos e netos.
A preparação e envio dessas cartas passou a ser um pequeno projeto anual, que executo com muita satisfação. Além da redação e formatação da carta propriamente dita, as fotos que a acompanham são selecionadas para ilustrar as noticias da família.
O atual formato da carta resultou de uma evolução contínua dos recursos de computador, mas sua essência é a autoria, de que sempre fiz questão, pois se trata de um trabalho meu dedicado aos amigos.Não vou tentar me lembrar de quando comecei a enviar cartões de Natal aos amigos e parentes, mas tenho certeza de que o faço desde a década de 1970, quando já morava no Rio. Estabeleci, como vários de meus amigos, a rotina de comprar cartões impressos da UNICEF, com bonitas gravuras, porém sem mensagens. Preferia escrevê-las eu mesmo, individualizando-as por destinatário. Mantive esse hábito por muitos anos, o processo passou a ser uma troca de cartões e a quantidade de destinatários crescia sempre. Em meio à correria de final de ano, eu tinha de relacionar os destinatários, selecionar e comprar os cartões, escrever algo neles e levá-los à agência dos Correios, muito concorrida naqueles dias de dezembro. Às vezes ocorriam atrasos e a pressa fazia com que a mensagem por mim escrita deixasse a desejar, tornando-se repetida; a própria letra ficava corrida. O que me consolava é que, muitas vezes, os cartões que eu recebia vinham com mensagem impressa e apenas assinada pelo remetente.
Com vários dos amigos, os cartões de final de ano se tornaram a única correspondência trocada no ano, resumindo-se a uma saudação cordial, sem notícias ou comentários.
Embora o processo de troca de cartões não me satisfizesse, procurei mantê-lo da melhor forma possível.
Alguns anos depois de sair da IBM, entrei na era dos computadores pessoais (os PCs) e passei a utilizá-los, no escritório e em casa. Quando li (não sei onde, parece curiosidade de almanaque) que o cartão de Natal foi inventado na Inglaterra por um cidadão que tinha de enviar muitas cartas de cumprimentos aos amigos e, por isso, resolveu substituí-las por cartões impressos, pensei comigo: “O pobre homem não tinha computador.” – e resolvi fazer o caminho inverso, substituindo os cartões da UNICEF por um cartão pessoal, feito por mim mesmo. Em dezembro de 1992, enviei aos amigos, em vez do cartão, uma carta escrita em computador, usando uma impressora de impacto, formulário contínuo e fonte única, sem recursos gráficos. Desde então, passei a juntar à mensagem de final de ano um resumo das notícias da família. Este resumo se inspirou no que fazia – e ainda faz – uma grande amiga nossa, americana, que junta a seu belo cartão de Natal, impresso, uma cópia xerox de suas notícias do ano.
Mais tarde, com a evolução gradativa dos recursos do computador e da minha habilidade como usuário, já equipado com impressora de jato de tinta, passei a usar um software da Hallmark, específico para cartões. Com ele, eu escrevia  textos da mensagem e das notícias, bem compactos, e montava a capa com os desenhos coloridos disponíveis (desenhos, não fotos) relacionados com as festas de final de ano. Acima, como exemplo, a capa do cartão de dezembro de 1999.
Nos anos 2000, passei a usar o PowerPoint, que me deu uma flexibilidade maior, mas as ilustrações ainda eram desenhos.
Depois, em uma terceira etapa, pude recorrer a fotografias. O cartão era formado de quatro partes: capa, mensagem de fim de ano, notícias da família e fotos.
A capa era montada com fotos nossas, de árvores de Natal e de fogos de artifício. Ao lado, uma das capas dessa fase, a do cartão de 2005.
A mensagem, em texto relativamente longo, geralmente na segunda página, detalhava nossos votos de Ano Novo.

Nas notícias, eu contava como estava a família e resumia nossos principais eventos do ano que se findava. Abaixo, por exemplo, as notícias no cartão de 2005.
Iniciei-as assim:
“Agora, os destaques do que tivemos de bom em 2005:
O primeiro destaque é que pude escrever e mandar este cartão para vocês, uma vez que ele não demanda grande esforço físico.
Ainda não foi neste ano que Leilah e eu dependuramos as chuteiras. Prosseguimos em nossa atividade profissional, administrando as limitações da idade. É bom, como dizem por aqui, para “rodar a cabeça”.
A seguir, conto dos filhos e consortes e, principalmente, falo dos netos: “Os netos - ah os netos, que beleza! – estão muito ótimos, otimíssimos! A evolução do Bruno (2 anos) nos encanta, seu desenvolvimento (como, aliás, deve ser comum às crianças desta geração) é surpreendente. Os americanos, Andre (9 anos), moreno, espigado, está um rapazinho, e Ian (6), também crescido, um loirinho simpático e muito vivo. Estão estudando e praticando vários esportes, principalmente futebol. Gostam de vir ao Brasil, de comer pastéis, tomar guaraná e aproveitam bastante os passeios e programas com os pais.”
Finalizo as notícias contando de nossa viagem à Califórnia e da reunião da família, no Rio, na semana do Dia de Ação de Graças, com a participação de todos os filhos, cônjuges, netos, e dos parentes de São Paulo; até de minha mãe, então na flor de seus 95 anos.
Como ilustração das notícias, as fotos (ao lado), com o flagrante do beijo do Bruno na bisavó  – o encontro da pessoa mais velha e da mais nova da família naquela ocasião.
Durante vários anos, usei o formato acima descrito, imprimia todos os cartões em casa e os enviava pelo correio.
A impressão permanecia trabalhosa, a impressora chiava com a carga de trabalho e sua alimentação falhava. Mesmo com toda a evolução do processo de confecção dos cartões, permanecia o trabalho de ir à agência do correio no agitado mês de dezembro.
Com a disponibilidade ampla da internet e a “inclusão digital” dos amigos, passei a usar, recentemente, o e-mail. Este facilitou muito o processo todo e permitiu que eu aumentasse a lista de destinatários.

O que me surpreendeu, ao longo dos anos, foi a manifestação dos amigos quanto ao cartão: por mais que eu caprichasse na capa e na mensagem, estas não eram comentadas. Entretanto, todos que se manifestaram disseram que apreciavam muito minhas notícias e que esperavam por elas todo final de ano. Vários se referem a elas como meu “relatório anual” e uma amiga me contou que guarda todos os cartões e que eles representam “uma história de vida”. As fotos da família são também comentadas.
De início, estranhei, um tanto desiludido, que as capas e as mensagens não fossem mencionadas, apesar do esforço que eu dedicava a elas. Levou algum tempo, mas percebi que, principalmente com o advento da internet, recebemos cartões cada vez mais bonitos, com animações incríveis, além de mensagens poéticas e de fundo religioso,  apreciadas por muita gente. Essa constatação me levou a alterar a estrutura do cartão transformando-o no que agora chamo “Carta de Final de Ano”. Não há mais necessidade da capa e o texto reúne uma breve mensagem de final de ano e as notícias da família, texto este que, no e-mail, não tem restrições de espaço. As fotos da família, enviadas quando apropriado,  são anexadas em arquivos no formato JPG, de modo a não “carregar” demais a correspondência.
Hoje, a versão impressa da carta é enviada apenas  àquelas pessoas muito queridas que não usam e-mail.
Na breve mensagem de final de ano atualmente inserida no texto da carta, desejo aos amigos ótimas comemorações em dezembro e muita felicidade no decorrer do novo ano.  Entendo que esta resume as várias mensagens elaboradas que eu costumava enviar e que poderiam ser repetidas todo ano, já que, afinal, eu continuava desejando, sempre, o melhor para os amigos.
Como exemplo, transcrevo abaixo uma dessas mensagens.
Relendo-a,  parece-me que ela ainda se aplica muito bem aos amigos; por essa razão, numa espécie de recaída, estendo-a hoje a vocês, atenciosos leitores do meu blog.
 “Rio de Janeiro, dezembro de 2004 Caríssimos:
De novo, a satisfação de lhes enviar nossos votos de uma feliz comemoração do Natal e de um ano novo muito bom. Esta mensagem de final de ano, repetida de formas distintas ao longo dos anos, sintetiza o que desejamos realmente a vocês, de todo o coração. Ela é a razão maior desta carta e, este ano, desejo me estender um pouco mais no significado que queremos lhe dar.
Vários de nós estamos em fase semelhante da vida, ou seja, mais para lá do que para cá, mas temos a felicidade de vermos os filhos, nossos e dos amigos, no esplendor de seu desenvolvimento e afirmação pessoal; eles mesmos, por sua vez, enfrentando as lides do mundo e construindo uma nova geração.
Aos mais jovens, nossos votos de saúde e sucesso. Aos menos jovens, desejamos que aproveitem esta fase tanto quanto possível; que se mantenham ativos, fortemente apoiados em suas convicções; que não esmoreçam mesmo quando percam algum dos entes queridos, pois ele continuará conosco; enfim, que sintam quanto ainda podem usufruir da vida.
Feliz Natal e um ótimo Ano Novo!”.

A TODOS, UM 2013 MUITO BOM!
Washington Luiz Bastos Conceição





4 comentários:

  1. O "relatório anual" sempre foi muito aguardado mesmo, tanto é que copiei a idéia fazendo algo parecido também!!!
    Uma maneira criativa de inovar a mensagem de final de ano!

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    1. Obrigado pelo comentário. Já recebi o seu e-mail, com mensagem poliglota.
      Aliás, o que não comentei na crônica foi o fato de que faço também a carta em Inglês, para os amigos dos Estados Unidos.
      Washington

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  2. Washington, tudo que v. falou é verdade... os cartões quanto mais pessoais, melhor... Eu esse ano mandei um email com algumas considerações/opiniões minhas sobre o Natal e todos que me respondem acham que o texto estava bonito, que depois de receberem tantos pps é bom receber alguma coisa pessoal, etc... Ou seja, vamos investir nos emails personalizados apesar de todo o trabalho (bom..) que nos traz... Vou mandar meu email para vocês.. Um Feliz Natal para você e Leilah...

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    1. Suely, recebi seu texto e gostei muito de seu enfoque ao destacar o lado bom das comemorações de final do ano.

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