domingo, 10 de junho de 2012

A INFORMAÇÃO NÃO É O MEU ESPORTE





Acontece com frequência: quando algo novo é anunciado no País, quando uma lei é promulgada ou o governo cria uma nova medida regulatória, e essa novidade me desagrada, comento em casa e com os amigos. Não demora muito e o Ubaldo (João Ubaldo Ribeiro, claro!) publica uma crônica a respeito. Ele reage da mesma forma que eu – só que escrevendo muito bem, no seu estilo irônico, mordaz. Abordou assuntos como a atuação dos seguros médicos, a criação de uma nova tomada de eletricidade que só existe no Brasil e é de uso obrigatório, a reforma ortográfica... E por aí vai.


Um domingo, o Ubaldo publicou uma crônica intitulada “Cobertura Moderna”. Ao ler o título, imaginei que o assunto fosse apartamentos de cobertura, porém, para minha surpresa, ele escrevia sobre as narrações de jogos de futebol. Criticava a quantidade de informações inseridas pelo locutor, que não lhe interessavam, enquanto ele tentava apreciar o jogo. Mais uma vez, criticou, de forma magistral, algo de que eu já vinha reclamando bastante. Já faz algum tempo que penso em apresentar meus comentários sobre o assunto; é o que estou fazendo hoje.

Não sou, até onde posso observar, um telespectador brasileiro típico, nem mesmo considerando minha condição de idoso e aposentado. Assinante de serviços de rede, tenho acesso a uma grande variedade de canais, mas habitualmente assisto apenas a filmes, a partidas de futebol, a algum noticiário e a algumas entrevistas. Ainda assim, muito seletivamente. Em especial, não tenho o hábito de assistir a novelas e a programas de auditório.

Pois, nos últimos tempos, ao assistir a um jogo de futebol pela televisão, sinto que o narrador faz tudo para tirar a atenção do espectador do jogo propriamente dito. Ele introduz observações e anúncios que poderiam ser feitos no intervalo da transmissão ou em resenhas esportivas ou, ainda, em outros intervalos de programação da emissora. A consequência é que o espectador se desconcentra e até perde algumas jogadas ou fica sem saber que jogadores participaram delas. As observações impertinentes variam. Nos canais abertos, anúncios de outros programas da emissora (o “domingão”, a transmissão das “ultimate fights”, de corridas da Fómula 1 e de “stock cars”, dos jogos do meio da semana, etc.) e, pior ainda, na volúpia de se fazer interativa, a emissora apresenta mensagens e até vídeos de torcedores cujas observações são perfeitamente dispensáveis durante a transmissão do jogo – e algumas vezes até idiotas – enquanto o jogo rola e o telespectador quer acompanhar as jogadas. Nos canais da rede por assinatura, o narrador ou o comentarista insiste em apresentar estatísticas que poderiam muito bem ser divulgadas em resenhas em separado; estas estatísticas também perturbam quem realmente quer acompanhar a partida que está se desenrolando naquele momento. Por exemplo: “Faz doze anos que o time A não perde para o time B em casa” ou “O time A foi campeão pela última vez em 1988”, repetidas várias vezes durante a narração. Houve um caso, até pitoresco, com um conhecido comentarista que morou na Itália e é um profissional da culinária (com quem, aliás, eu simpatizo muito): por causa da interação com telespectadores, um destes lhe perguntou onde, na Itália, se come a melhor pizza; ele respondeu, com minúcias, justificando sua avaliação, enquanto o jogo corria e os outros telespectadores interessados no futebol, como eu, queriam era assistir à partida sem maiores divagações.

Para me entenderem bem, reforço que não sou contra as informações e a interação com telespectadores, desde que não seja durante a partida. Algumas poderiam ser feitas no intervalo e no final, talvez no tempo que hoje é destinado àquelas entrevistas repetitivas e desinteressantes de jogadores selecionados pelos repórteres de campo, jogadores que agora estão treinados com um script para não criarem problemas com alguma observação imprópria que poderia ter consequência desastrosa. Vejo, entretanto, como melhor solução para o problema, deixarem para fazer todos os comentários sobre os jogos durante as resenhas esportivas, já apresentadas por várias emissoras. Alguns desses programas são bem interessantes, especialmente um deles, que reúne entrevistas, comentários, vídeos e um pouco de música.

Tento entender por que razão as transmissões de futebol chegaram a esse formato. É evidente que este é fortemente influenciado pela tecnologia dos meios de comunicação (interação com telespectadores) e da informação (disponibilidade instantânea de dados), mas vejo também outra influência: os narradores são profissionais de jornalismo e alguns não devem apreciar o futebol do jeito que eu o faço. O que me chamou a atenção para este aspecto foi o próprio slogan de duas das emissoras: “A informação é o nosso esporte”. Pois é, aí está nossa diferença: o esporte deles é a informação e o meu é o futebol, que pratiquei na infância e na juventude.
A informação não é o meu esporte.

Enquanto as emissoras não fazem por melhorar minha vida de telespectador de futebol, vou me defendendo: quando o narrador me aborrece, por falar demais durante o jogo ou por fazer os comentários que expus acima, desligo o som da televisão e aproveito com total tranquilidade as imagens que, hoje em dia, são ótimas. Se vocês, caros leitores, se sentem como eu ao assistir a um jogo pela televisão, experimentem esta solução.

Washington Luiz Bastos Conceição