sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Pequeno, poderoso e indispensável

Criticado em todas as formas de comunicação – comentários em conversas, artigos, caricaturas, vídeos – o uso universal, intenso, compulsivo, do telefone celular estabeleceu-se, parece, de forma definitiva. O que mais se vê hoje são pessoas digitando em seus aparelhos, em qualquer situação e ambiente (os usuários mais treinados, especialmente os jovens, usam os polegares com extrema rapidez).
A crítica é geral, mas é, na verdade, uma autocrítica, pois devem ser raríssimas as pessoas que podem dispensar o uso dessa extraordinária forma de comunicação. Falo por mim, meus parentes e meus amigos que criticamos o uso exagerado do aparelho, mas nos vemos, com frequência, verificando mensagens em meio a um almoço, por exemplo. Mesmo pedindo desculpas, explicando que espero uma notícia importante, cometo, de vez em quando, essa indelicadeza.
Ou seja, não temos escapatória. O próprio e-mail, ótima forma de comunicação assíncrona que substituiu cartas impressas e telefonemas, passou a ter seu uso restrito a negócios e ao mal afamado telemarketing. As conversas informais de grupos de amigos, parentes e, até, informações para acompanhamento médico são feitas através do whatsapp, na esmagadora maioria dos casos.

Neste ponto, paro para pensar nos benefícios do uso do celular e seus “aplicativos”: se esse tipo de comunicação não fosse conveniente para as pessoas – às vezes o assunto é importante ou urgente – estaríamos todos presos ao aparelhinho milagroso?
Passei a relacionar mentalmente o que temos feito, nós mesmos, eu e minha mulher, por meio do whatsapp: comunicamo-nos rapidamente com os filhos e amigos, individualmente e em grupos, tanto para tratarmos de assuntos sérios como para “bater um papo” à distância (alguns estão mesmo longe, em outro país); complementamos as consultas médicas informando o profissional sobre a evolução de um tratamento, pedidos ou resultados de exames ou um mal-estar súbito (já enviei, certa vez, foto de um pequeno ferimento na perna para primeira avaliação da geriatra); fazemos pedidos de pequenas compras às diaristas, para trazerem na vinda para nossa casa (o que é muito conveniente para idosos).
Bem, até agora falei só do whatsapp, mas lembremo-nos de que o celular é, também, computador de bolso ligado à internet, gravador de som, câmera fotográfica e de vídeo, e relógio. E mais, uma coleção de livros, prontos para você ler onde quiser, quando quiser, bastando para isso baixar um aplicativo tipo “Kindle”.
Como câmera, temos utilizado muito o celular para registrar e ilustrar comunicações de eventos; almoços e festas de aniversário, por exemplo. Este recurso serve também para ilustrar mensagens nas mais variadas atividades profissionais. Recentemente, na reforma de um apartamento, usamos fotos para registrar as condições dos tubos de água. Em outra oportunidade, para envernizar uma bancada em nossa sala, tivemos de desconectar os fios de uma instalação de aparelhos de televisão e de som, com seus periféricos; fotografamos previamente a situação das conexões originais para reconstituí-las corretamente.
Como computador, o celular tem substituído, pelo menos parcialmente, os desktops e laptops. Um dos companheiros de nosso almoço periódico de aposentados ex-IBM declarou que todo trabalho e leitura que fazia no computador faz agora no celular.
Ligado à internet, o aparelho oferece uma enciclopédia de bolso. Outro colega do mesmo grupo, sempre atento às novidades tecnológicas, usa muito bem esse recurso. Às vezes, em meio a nossa conversa, surge uma dúvida que ele resolve de imediato mediante consulta ao Google.

Minha avaliação é que, por mais que se possa criticar o hábito da imensa maioria das pessoas, de utilização ininterrupta e intensa do celular, este oferece benefícios muito valiosos, tanto nas atividades de trabalho quanto no relacionamento social. Apenas, espero que essas pessoas consigam o equilíbrio necessário para largar um pouco o celular quando: atravessarem a rua, especialmente com o sinal fechado para elas; estiverem dirigindo automóvel ou outro veículo; participarem de reuniões sociais ou de trabalho; estiverem à mesa acompanhadas; assistirem a palestras; dirigirem carrinhos no supermercado. Enfim, quando se espera de cada uma a atenção necessária aos outros viventes.

Washington Luiz Bastos Conceição




Nota:

A título de ilustração e como curiosidade, conto que, neste dias, estou recorrendo ao celular e ao computador no pequeno projeto sentimental de editar, em e-book, o livro de poesias de meu pai que mencionei na crônica anterior (“Osmar – Os primeiros passos”). Um dos meus primos do Paraná mostrou interesse em ler o livro todo. Como tenho apenas meu exemplar, com preciosa dedicatória do autor, surgiu-me a ideia do projeto, que requer copiar o livro, o que comecei a fazer na base do “faça você mesmo” (“do it yourself”). Primeiro, pensei em digitar (tempo não me falta), mas datilografia não é minha praia. Logo, testei a digitalização do livro, mediante a “scanner” de mesa; a operação, difícil e demorada, não funcionou a contento. Orientado por um amigo para digitalizar o livro usando um aplicativo do celular que processa fotos das páginas, não consegui instalá-lo e não insisti porque sou um fotógrafo medíocre. Decidi, então, usar o seguinte processo, que já está em operação: usando o recurso de conversão de voz para texto do celular, leio os versos e obtenho um texto no aplicativo “Notes”; a seguir, envio o texto por e-mail para mim mesmo e recebo no computador; neste, copio para um arquivo “Word”, no qual trabalho pontuando e formatando o texto. Este arquivo, no final, será usado para a preparação do e-book. Sei que alguns de meus e leitores poderão criticar meu sistema e apresentar ideias diferentes, talvez melhores; porém, dentro de minhas possibilidades, essa me pareceu a solução mais adequada aos meus recursos.