Criticado em todas as formas de comunicação – comentários em
conversas, artigos, caricaturas, vídeos – o uso universal, intenso, compulsivo,
do telefone celular estabeleceu-se, parece, de forma definitiva. O que mais se
vê hoje são pessoas digitando em seus aparelhos, em qualquer situação e
ambiente (os usuários mais treinados, especialmente os jovens, usam os
polegares com extrema rapidez).
A crítica é geral, mas é, na verdade, uma autocrítica, pois devem
ser raríssimas as pessoas que podem dispensar o uso dessa extraordinária forma
de comunicação. Falo por mim, meus parentes e meus amigos que criticamos o uso
exagerado do aparelho, mas nos vemos, com frequência, verificando mensagens em
meio a um almoço, por exemplo. Mesmo pedindo desculpas, explicando que espero
uma notícia importante, cometo, de vez em quando, essa indelicadeza.
Ou seja, não temos escapatória. O próprio e-mail, ótima forma
de comunicação assíncrona que substituiu cartas impressas e telefonemas, passou
a ter seu uso restrito a negócios e ao mal afamado telemarketing. As conversas
informais de grupos de amigos, parentes e, até, informações para acompanhamento
médico são feitas através do whatsapp, na esmagadora maioria dos casos.
Neste ponto, paro para pensar nos benefícios do uso do
celular e seus “aplicativos”: se esse tipo de comunicação não fosse conveniente
para as pessoas – às vezes o assunto é importante ou urgente – estaríamos todos presos ao
aparelhinho milagroso?
Passei a relacionar mentalmente o que temos feito, nós
mesmos, eu e minha mulher, por meio do whatsapp: comunicamo-nos rapidamente com
os filhos e amigos, individualmente e em grupos, tanto para tratarmos de
assuntos sérios como para “bater um papo” à distância (alguns estão mesmo
longe, em outro país); complementamos as consultas médicas informando o
profissional sobre a evolução de um tratamento, pedidos ou resultados de exames
ou um mal-estar súbito (já enviei, certa vez, foto de um pequeno ferimento na
perna para primeira avaliação da geriatra); fazemos pedidos de pequenas compras
às diaristas, para trazerem na vinda para nossa casa (o que é muito conveniente
para idosos).
Bem, até agora falei só do whatsapp, mas lembremo-nos de que o
celular é, também, computador de bolso ligado à internet, gravador de som,
câmera fotográfica e de vídeo, e relógio. E mais, uma coleção de livros,
prontos para você ler onde quiser, quando quiser, bastando para isso baixar um aplicativo
tipo “Kindle”.
Como câmera, temos utilizado muito o celular para registrar e
ilustrar comunicações de eventos; almoços e festas de aniversário, por exemplo. Este recurso serve também para ilustrar mensagens nas mais variadas atividades
profissionais. Recentemente, na reforma de um apartamento, usamos fotos para registrar as condições dos tubos de água. Em outra oportunidade, para envernizar uma bancada em nossa sala, tivemos de desconectar os
fios de uma instalação de aparelhos de televisão e de som, com seus periféricos; fotografamos previamente a situação das conexões originais para reconstituí-las
corretamente.
Como computador, o celular tem substituído, pelo menos parcialmente,
os desktops e laptops. Um dos companheiros de nosso almoço periódico de
aposentados ex-IBM declarou que todo trabalho e leitura que fazia no computador
faz agora no celular.
Ligado à internet, o aparelho oferece uma enciclopédia de
bolso. Outro colega do mesmo grupo, sempre atento às novidades tecnológicas,
usa muito bem esse recurso. Às vezes, em meio a nossa conversa, surge uma
dúvida que ele resolve de imediato mediante consulta ao Google.
Minha avaliação é que, por mais que se possa criticar o
hábito da imensa maioria das pessoas, de utilização ininterrupta e
intensa do celular, este oferece benefícios muito valiosos, tanto nas atividades
de trabalho quanto no relacionamento social. Apenas, espero que essas pessoas
consigam o equilíbrio necessário para largar um pouco o celular quando: atravessarem a rua, especialmente com o sinal fechado para
elas; estiverem dirigindo automóvel ou outro veículo; participarem de reuniões sociais ou de trabalho; estiverem à mesa acompanhadas; assistirem a palestras; dirigirem carrinhos no supermercado. Enfim,
quando se espera de cada uma a atenção necessária aos outros viventes.
Washington Luiz Bastos Conceição
Nota:
A título de ilustração e como curiosidade, conto que, neste
dias, estou recorrendo ao celular e ao computador no pequeno projeto
sentimental de editar, em e-book, o livro de poesias de meu pai que mencionei na
crônica anterior (“Osmar – Os primeiros passos”). Um dos meus primos do Paraná
mostrou interesse em ler o livro todo. Como tenho apenas meu exemplar, com
preciosa dedicatória do autor, surgiu-me a ideia do projeto, que requer copiar
o livro, o que comecei a fazer na base do “faça você mesmo” (“do it yourself”).
Primeiro, pensei em digitar (tempo não me falta), mas datilografia não é minha
praia. Logo, testei a digitalização do livro, mediante a “scanner” de mesa; a
operação, difícil e demorada, não funcionou a contento. Orientado por um amigo
para digitalizar o livro usando um aplicativo do celular que processa fotos das
páginas, não consegui instalá-lo e não insisti porque sou um fotógrafo
medíocre. Decidi, então, usar o seguinte processo, que já está em operação:
usando o recurso de conversão de voz para texto do celular, leio os versos e
obtenho um texto no aplicativo “Notes”; a seguir, envio o texto por e-mail para
mim mesmo e recebo no computador; neste, copio para um arquivo “Word”, no qual
trabalho pontuando e formatando o texto. Este arquivo, no final, será usado
para a preparação do e-book. Sei que alguns de meus e leitores poderão criticar
meu sistema e apresentar ideias diferentes, talvez melhores; porém, dentro de
minhas possibilidades, essa me pareceu a solução mais adequada aos meus
recursos.