Cara
leitora ou prezado leitor:
Tenho
de lhe contar! Não sei se é coisa ligada à idade avançada. Saiba o que me
aconteceu:
Resolvi
escrever uma nova crônica sobre erros comuns de Português que venho observando na
comunicação escrita e falada, principalmente da mídia, e que vêm me incomodando há já algum tempo.
Preparei
o rascunho e fiz a revisão, mas, antes de publicá-la, resolvi reler as crônicas
que publicara anteriormente no blog, sobre o uso de nosso idioma. Surpresa:
vários dos casos que mencionei na nova crônica eu já havia mencionado naquela
que publiquei em 2023! Como se dizia antigamente, “caí do cavalo”; desisti da
publicação da nova crônica.
Contudo,
em minhas elucubrações noturnas, pensei: se eu nem Leilah, que colabora na
revisão, não nos lembrávamos daquela crônica, quantos de meus leitores, dentre
aqueles que a leram, se lembrariam dos casos comentados? Só para estes a nova
crônica traria repetições, o que poderia até servir de recapitulação.
Considerando que a nova publicação poderá ser de interesse para você, desisti de desistir. Ei-la:
“Onde estamos? Aonde vamos?”
Cara
leitora ou prezado leitor:
Volto
hoje a um assunto que me preocupa e que, talvez, também preocupe meus leitores:
o uso correto de nosso idioma. Ao longo destes treze anos de blog, já foi
tema de crônicas, mas sinto que tenho de recapitular alguns casos. Desta vez,
para agilizar a leitura, criei uma conversa em uma reunião minha com amigos;
fictícia, portanto, mas tão realista quanto possível.
Comecei:
Washington
― Amigos, obrigado por toparem fazer esta reunião comigo. Fico satisfeito por
vocês se interessarem pela correção no uso do Português. Nossa conversa vai ser
a base para a próxima crônica que vou escrever e publicar no blog.
Proponho
que comentemos erros de linguagem, escrita e falada, que temos observado na
mídia e na comunicação direta com pessoas. Para não estendermos demais a
conversa, não vamos tratar de erros de ortografia. Vamos fazer uma espécie de
revisão, cada um de nós trazendo suas observações ou dúvidas. De acordo?
Os
participantes passaram a se manifestar:
Participante1
― Acho que falo por todos: estamos interessados e será um prazer participar da
reunião.
W ― O
título da crônica será: “Onde estamos? Aonde vamos?”
P2 ―
Por que esse título?
W ―
Porque o uso equivocado de “aonde” em vez de “onde”, até por profissionais do
jornalismo falado e escrito, vem me incomodando já há algum tempo. E é uma
forma de chamar a atenção do leitor em potencial.
Podemos
começar com esse caso. Muita gente está sendo levada a cometer esse erro,
dizendo “Aonde estamos?”, em vez de “Onde estamos”. O lugar “em que” alguém ou
algo se encontra é indicado por “onde”. Aonde indica movimento (a+onde).
Exemplo: “Aonde vamos?”. Suspeito que o uso indevido de “aonde” seja causado
por uma intenção de dar ênfase.
P3 ―
Eu não estava prestando muita atenção na diferença. Vou me cuidar...
P2 ―
Eu observo que muitas pessoas, mesmo aquelas com formação universitária, falam
– talvez escrevam - “assisti esse filme” em vez de “assisti a esse filme”.
P1 ―
Também noto isso. Assistir, como verbo transitivo, significa “ajudar”, daí a
função do “assistente” de um gerente, por exemplo.
W ― Essas
observações levantam a questão da chamada regência dos verbos. Um erro comum é
“preferir alguma coisa do que a outra”, que fica gritante quando um colunista
qualificado comete. O correto é “preferir alguma coisa a outra”.
P2 ― A
gente também chega “a algum lugar” e não “em algum lugar”; um rapaz namora “uma
garota” e não “com uma garota”...
P3 ― E
implicar, no sentido de “ter consequência”? É muito comum ouvir ou
ler “Casamento implica em maior responsabilidade” quando o correto é “Casamento
implica maior responsabilidade”.
W ―
Quanto ao verbo visar: no sentido de pretender, o correto é usar “visar ao
sucesso do projeto” e não “visar o sucesso...”. Confesso que, em alguns casos,
quando a ideia é buscar alguma coisa, não uso a preposição (faço analogia com o
uso de uma luneta).
W ― Os
verbos irregulares também pegam muita gente, acho que o campeão é o verbo
haver, que também é um verbo auxiliar. No sentido de existir, o sujeito é
indeterminado e é conjugado na terceira pessoa do singular. “Haverá aumentos de
preços”. e não “Haverão aumentos de preços.”. “Os homens honrados haverão de
lutar” está correto porque o verbo haver aqui é auxiliar.
P1 ―
Lembrei-me do “Fazem cinco anos que estive lá.” É outro caso de sujeito
indeterminado. O correto é “Faz três anos...”. A expressão equivalente é “Há
três anos”, cuidando para não escrever “Há três anos atrás”, porque o atrás é
desnecessário.
P2 ―
Lembrei-me de minhas aulas de Português! É o chamado pleonasmo.
P3 ―
É. E na hora de escrever, pode surgir a dúvida: “É ‘há’ ou ‘a’ três anos que
fizemos aquele passeio?”; é “há”; a preposição “a” indica futuro:
“Daqui a três anos”.
P2 ―
Não vamos falar da crase? Não é apenas uma questão de ortografia.
P1 ―
Observo que é algo que muita gente com estudo superior ainda tem dúvida. Em
primeiro lugar, crase não é o acento grave; este indica a crase, que é,
simplesmente a junção (fusão?) da preposição “a” com o artigo “a” (ou o plural
“as”) ou com o “a” inicial de “aquele”, “aquela” e “aquilo”. Exemplo nada
modesto: “Irei à casa do Washington e darei brilho àquela reunião”.
P2 ―
Quando alguém me pergunta se em determinada sentença há a crase ou não, dou a
dica: substitua a palavra feminina por masculina - se você tiver de falar ou
escrever “ao”, então há crase. No exemplo anterior, substituindo “casa” por
“apartamento”: “Irei ‘ao’ apartamento...”. Sobre “aquele”, etc. não fui
consultado.
P3 ―
Há também a colocação dos pronomes oblíquos na sentença: antes do verbo, depois
do verbo e no meio do verbo.
P1 ―
Ah, Ah! São a próclise, ênclise e mesóclise... De vez em quando noto colocação
equivocada em redação: “Quando levantei-me”, em vez de “Quando me levantei”,
por exemplo.
W
― Bem, acho que chegamos a tratar dos erros mais comuns, que chamam
nossa atenção, o que era nosso objetivo na reunião. Livros de gramática
mencionam muito mais casos, como aqueles destinados a preparar pessoas para
concursos. Antes de encerrarmos, quero fazer mais dois comentários:
Há
erros elementares que, comumente, cometemos ao falar, por hábito generalizado –
é o nosso Português informal. Exemplos: a concordância pronominal: “Você vai
levar teu casaco?”; o uso equivocado de pronomes do caso reto: “Ela encontrou
ele no metrô”; o uso do “que” desnecessário: “O que que você viu lá?”. O uso de
“ter” em vez de haver: “Tem arroz no freezer?”... Temos de evitá-los ao
escrever.
E há,
também, casos de modismo, nem sempre erros, mas que, disseminados, se tornam
mal-empregados. Pode ser implicância minha, mas “desde sempre” é equivocado,
porque “desde” indica um ponto inicial no tempo (“Desde onze horas estou
esperando você.”) e “sempre” indica continuidade. E seu uso está generalizado –
a expressão é original, tem seu charme. É semelhante a “a nível de” que foi
intensamente utilizada há alguns anos. O uso errado de “aonde”, já comentado,
também virou moda. “Empatia” tem sido usada como sinônimo de “simpatia”, mas
não tem o mesmo significado. “Resistente” está sendo substituído, com muita
frequência, por “resiliente”, o que não está errado, mas não deixa de ser
modismo. Este caso me faz lembrar de minha mãe, quando, já nonagenária, passou
a usar “diferenciado” em vez de “diferente”...
P3 ―
Pela expressão dos amigos, parece que todos concordamos em ficar por aqui.
P2 –
Eu estou curioso: será que os leitores vão comentar nossas observações?
P1 ―
Acho que eles vão aumentar a lista de casos.
W ―
Vamos aguardar. Muito obrigado a vocês pela participação.
Ao caro leitor ou prezada leitora: lembro a você que não sou professor de Português, sou apenas um cuidadoso usuário do idioma.
Washington Luiz Bastos Conceição
Nota:
Minhas crônicas sobre o tema, publicadas anteriormente, foram:
Da taquigrafia eletrônica e da escrita formal
https://washingtonconceicao.blogspot.com/2015/01/da-taquigrafia-eletronica-e-da-escrita.html
O que é que há?
https://washingtonconceicao.blogspot.com/2016/12/o-que-que-ha.html
A importância de seu idioma
https://washingtonconceicao.blogspot.com/2023/08/a-importancia-de-seu-idioma.html
Muito bom, Tio!
ResponderExcluirGostei Washington
ResponderExcluirSempre bom trazer conhecimento e nos lembrar como nosso idioma é rico ! Vamos usá-lo corretamente!
ResponderExcluirMuito bom! Ainda existe o problema de não colocarem o "r" no final dos verbos no infinitivo. Não pronunciam e não escrevem.
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