quinta-feira, 22 de março de 2018

SOQDQ


Meus amigos e parentes de fora do Rio se mostram muito preocupados conosco (minha família) por causa da situação atual de grande insegurança no Rio de Janeiro, a linda cidade em que moramos. Como costumo dizer, a cidade amada por todos os cariocas, naturais ou naturalizados.
Embora a insegurança urbana não seja “privilégio” do Rio, nossa situação é bem mais grave do que em várias cidades do Brasil e do mundo. Estamos no campo de batalha de uma guerra que envolve traficantes de drogas e milicianos, que dominam muitas áreas da metrópole; e, contra eles, as polícias do estado e, agora mais intensamente, a polícia federal e o exército brasileiro. Guerra plenamente noticiada no Brasil e no exterior, com a mídia destacando crimes brutais e estatísticas terríveis.
Em meio a essa grave confusão, o que me deixa muito admirado é a disposição que os moradores em geral mantêm para continuar com suas atividades normais; de trabalho, para aqueles que conseguem algum, e de lazer. Continuam indo à praia, jogando seu vôlei, seu futevôlei, dando seu mergulho ou simplesmente curtindo o sol, socializando e “pescando com os olhos feito jacaré”. As comemorações de aniversários em bares e restaurantes, as reuniões em botequins com os amigos, as rodas de samba na Lapa e em outros bairros não deixam de acontecer. Promovem-se na cidade eventos de todo tipo, até internacionais, como shows musicais e torneios de tênis. Claro, as pessoas tomam cuidados especiais, escolhem locais e caminhos, mas não se conformam em ficar recolhidas em casa. Eu, aos 85 anos, sou exceção (gosto de ficar em casa), mas mesmo assim, de vez em quando, me aventuro a participar de alguma comemoração com meus filhos, estimulado fortemente por Leilah, minha mulher.
Analisando esse comportamento dos cariocas, lembrei-me de Aleppo.


Há anos, a Síria vem sendo assolada por uma horrível guerra civil que, na verdade, envolve mais do que revolucionários lutando contra um ditador implacável.
Em 2012, o conflito chegou a Aleppo. Importante cidade daquele país e uma das mais antigas do mundo, sofreu bombardeios devastadores e nela se travaram batalhas sangrentas, casa a casa, entre as forças do governo e da oposição. Uma organização humanitária internacional estimou a quantidade de vítimas em 13.500 mortos e 23.000 feridos.


O que me fez lembrar de Aleppo foi um comentário feito na televisão em um dos noticiários do conflito: enquanto um setor da cidade estava totalmente devastado, em outra parte as pessoas levavam vida normal, o que incluía festas e comemorações.
Longe de mim querer comparar a guerra da Síria com a nossa, apenas comparo o comportamento das respectivas populações. E penso: terá sido assim durante a segunda guerra mundial, nos países ocupados pelos nazistas, por exemplo? E durante o bombardeio de Londres, como se vivia em Liverpool?

Voltando ao Rio: esperamos que estes tempos conturbados passem e que tenhamos novamente uma vida tranquila em nossa cidade.
Quando me mostro muito preocupado com meus filhos, eles me aconselham: “Pai, ponha nas mãos de Deus!”. Então, digo agora: “Seja o que Deus quiser!” ou, na linguagem de abreviações usada nos celulares: “SOQDQ”.

Washington Luiz Bastos Conceição



Nota: As informações sobre Aleppo foram colhidas na Wikipedia.


4 comentários:

  1. Verdade,as vezes também me ocorre esta comparação com Aleppo. Mas os mineiros preferem algo mais firme, seguram logo na mão de Deus e vão em frente.

    ResponderExcluir
  2. Alô, primo. Prova incontestável de bravura desse povo que se recusa a aceitar a barbárie, levando a vida normal. Arrisca-se, é verdade, mas ou a vida para ou segue nesse ritmo precário de segurança. Mas a coisa está se tornando tão insustentável que a nossa imagem no exterior despencou: parece que nos transformamos num párea da comunidade internacional. O Brasil não é só isso, mas é verdade que temos também essa cara e temos que encontrar a saída desse labirinto pernicioso, começando pela reação das urnas de Outubro que, espero, traga as alvissareiras notícias da renovação de nossos poderosos chefões.

    ResponderExcluir
  3. Como em qualquer situação extrema, nos agarramos a nossa rotina para mantermos a nossa sanidade. Trabalhamos, festejamos e vivemos como podemos. Se nos desesperarmos e perdemos aquilo que nos mantem sãos, então não perduraremos...

    ResponderExcluir
  4. Seu Washington, eu digo reza pra não virar estatística e vai. É o jeito e torcer pra q melhore e o que resta, torcer porque acreditar que vai melhorar de fato não acredito. Nosso problema social é gravíssimo e os militares ficam até dezembro e não vão resolver a questão... "SOQDQ"

    ResponderExcluir