sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Carta aos Leitores – dezembro de 2018


Cara leitora ou prezado leitor:

Venho publicar esta carta de final de ano para fazer alguns comentários sobre meus escritos e, principalmente, para agradecer sua atenção ao visitar meu blog, ler as crônicas e fazer seus oportunos comentários.
Neste dezembro, lembrei-me de que o blog está fazendo sete anos, pois foi no final de 2011 que meu amigo Gentil resolveu projetar e construí-lo, dando um presente que se tornou muito valioso para mim. Eu já havia escrito e publicado três livros (impressos e e-books) e, com o blog, passei a ter a oportunidade de publicar também, regularmente, crônicas que me dão o duplo prazer de escrevê-las e de estabelecer um contato maior com meus atenciosos leitores e amáveis leitoras.
Mantenho uma planilha de registro das publicações no blog e ouso mencionar alguns números, procurando não exagerar na dose. Nestes sete anos, além de algumas “notícias”, publiquei 132 crônicas (com 155.300 palavras), tendo levado 103 delas para quatro livros (em 2019 planejo publicar meu quinto livro de crônicas). Fiquei admirado com esses números e penso que os leitores ficarão tão admirados quanto eu. E aqueles que tiverem lido todas (como fez minha esposa, a Leilah, por força das circunstâncias) merecem meu agradecimento em dobro.
Por outro lado, os números de visitas registradas no blog, do Brasil e do exterior, que na realidade deveriam ser mais modestos, continuam extremamente inflados pelos robôs que se excitam com seu nome. Afinal, “Escritos do Washington” se transforma, para eles, numa referência à capital dos Estados Unidos. Os registros dos diversos países de origem dos acessos ao blog continuam me intrigando. A lista dos dez maiores visitantes, com o Brasil em primeiro lugar, teve uma alteração importante em 2018: a Itália, que não figurava na lista do ano passado, entrou no segundo lugar, na frente de Estados Unidos, Rússia e Alemanha; em sexto, surgiu do nada uma “Região desconhecida”; saíram da lista dos dez mais a Ucrânia e o Reino Unido. Mas não é mesmo uma alteração curiosa – as visitas da Rússia diminuem, os da Itália aumentam muito e surgem visitas volumosas da Região Desconhecida? Deixo para os leitores as suposições, talvez relacionadas com espionagem “internética”, provocada, repito, pelo nome do blog. Para os mais curiosos, apresento os quadros com o total geral das visitas ao blog e os totais dos dez maiores visitadores, acumulados até dezembro de 2017 e até dezembro de 2018.



Bem, deixando essas curiosidades de lado, quantos são os meus leitores do blog?
Verifiquei que, do total de visitas registradas neste ano, apenas 15% têm origem no Brasil. Considerando a quantidade de publicações do ano, minha estimativa é de 130 leitores habituais, incluindo alguns, identificados, de fora do País. É um número coerente com a relação dos destinatários dos e-mails com que anuncio cada nova publicação. Número esse que, aliás, muito me honra.

Em 2018 publiquei, em janeiro, o “Discurso de 85 anos”, que reúne crônicas de 2016 e 2017, e continuei publicando crônicas no blog, em especial a série sobre as histórias de Osmar e Jurema, meus pais. Em 2019 darei prosseguimento à série, a qual pretendo transformar em um livro, talvez o mais importante dos meus trabalhos. Meu plano para o novo ano é, portanto, continuar escrevendo. 

Mais uma vez, obrigado pela sua atenção.


Como estamos no final do ano, não será demais enviar-lhe a mensagem com a qual iniciei minha habitual carta de final de ano aos amigos: 

Foto de Jurema Mellone

Caríssimos:
No alvorecer do novo ano, enviamos nossos votos de felizes comemorações e de um bom 2019.
Leilah e Washington





Washington Luiz Bastos Conceição

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Prazerosa Convivência


Conversando com amigos e observando as pessoas da minha família, concluo que é geral o hábito de ler jornais, revistas, publicações na internet, além das mensagens no telefone celular e no computador. A maioria deles lê também livros como entretenimento e alguns, por força de sua atividade profissional, leem apenas livros e manuais técnicos.
Eu me incluo na maioria, com uma particularidade: desde que comecei a escrever, meu hábito de leitura mudou. Diferentemente do que fazem outras pessoas, que leem livros em sequência, de “cabo a rabo”, leio vários livros ao mesmo tempo, ou seja, começo a leitura de um livro antes de terminar a dos outros e volto a cada um deles sem pressa de chegar ao fim. No conjunto, quando termino a leitura de um, já há algum novo no processo. Os e-books favorecem essa variação, uma vez que estão todos no mesmo dispositivo, em biblioteca digital.
A escolha dos livros é feita por razões variadas. Sentindo falta de conhecer obras de autores renomados, venho buscando ler livros pelos quais nunca havia me interessado e, assim, sentir-me menos ignorante. Outros, seleciono para consultas de apoio a meus escritos. E, ainda, releio livros para me lembrar de detalhes das histórias ou procurar entender melhor a intenção e as mensagens dos autores.

Como ilustração, menciono abaixo os livros que tenho lido nestes dias:
Sentindo a necessidade de ler mais Machado de Assis, de cuja obra conheço muito pouco, comprei o e-book de suas obras completas (romances e contos) e, gostando mais de umas histórias que de outras, impressiona-me como ele retrata bem os personagens e costumes do seu tempo. Sigo lendo, é uma quantidade generosa de histórias.
Dentre os notáveis mencionados em livros de História do Século XX e em filmes recentes, Churchill continua tendo grande destaque. Para saber mais da vida desse líder extraordinário, cuja atuação excepcional na Segunda Guerra Mundial eu acompanhei no noticiário da época, li “Winston Churchill - The Life, Lessons & Rules For Success”, por Jack Morris.
Eu não havia lido nada de Shakespeare (nunca me atrevi a enfrentar o seu Inglês) e, embora conhecesse as histórias de várias de suas tragédias, sentia-me ignorante quando alguém mencionava “Macbeth” e “Rei Lear”, pois não conhecia seus enredos. Aproveitando uma promoção de e-books que incluía livros com a tradução dessas duas peças, comprei e li os dois; algumas vezes, tive de me esforçar para entender sentenças que estão em uma ordem inversa complicada. Valeu a pena, eles satisfizeram minha curiosidade.
De Júlio Verne eu havia lido apenas – e já faz muito tempo – o livro “Vinte mil léguas submarinas”. Quando a Amazon me ofereceu algumas obras dele, me interessei. Tendo gostado muito do filme “A volta ao mundo em 80 dias” (com David Niven e Cantinflas), comprei a versão e-book do livro; já o estou lendo e, como não podia deixar de fazer, comparando com o filme.
E poesia? Minha leitura de poesia sempre foi muito pouca. Quando estudante, li poemas nos livros escolares e nas antologias. Mais tarde, alguns de Garcia Lorca, Vinicius e Neruda. Na juventude, assisti no teatro a declamações dos Jograis, as quais apreciei muito. Nestes dias, de tanto ouvir elogiarem o poeta, estou começando a ler o e-book “Fernando Pessoa – Obra Poética Completa”.
Já há algum tempo, decidi revisitar o D. Quixote, lendo-o em Espanhol pela terceira vez na vida, agora na versão e-book (não está nessa conta o “D. Quixote para crianças”, de Monteiro Lobato, que li na minha infância). Estou relendo devagar, revendo os casos, voltando a me impressionar com os desvarios e os discursos do Cavaleiro da Triste Figura e apreciando as declarações de Sancho, que refletem o bom senso das pessoas simples de seu tempo. E, mais uma vez, venho observando no texto palavras que hoje são do Português e não mais do Espanhol. Interrompi a leitura por alguns dias, agora, de pena de nosso herói pelas surras que vem levando em sua segunda saída de casa. Vou retomá-la em breve.
Também resolvi reler o “Recessional”, de James Michener, mencionado em crônica anterior, quando comentamos, meus amigos ex-ibmistas e eu, o assunto da solução para a moradia de idosos. Esse livro, que tenho na versão impressa e é um tanto volumoso, estou lendo devagar, relembrando partes da narração de que havia me esquecido e voltando a me impressionar com o realismo do autor ao retratar casos dos idosos na instituição exemplar em que residiam. Não parece ficção.

Bem, minha intenção nesta crônica não era fazer um relatório de minha leitura recente ao caro leitor ou à prezada leitora, mas comentar meu comportamento como leitor após ter me lançado na aventura de escrever.
Procedo como um idoso que vá à estante de sua casa, escolha um de seus livros e, sentado em sua poltrona preferida, leia-o por algum tempo, interrompa a leitura, marque a folha e recoloque o livro na estante. E que, mais tarde, ou no dia seguinte, resolva escolher e ler um pouco de outro livro.
Minha vantagem é ter no “tablet” (e também no computador, no celular e na nuvem) minha estante digital, que posso, portanto, carregar comigo. Além disso, o programa de leitura do e-book faz a marcação automática da página de cada livro quando interrompo a leitura, de modo que, ao retomá-la, vou diretamente ao ponto da interrupção; além deste recurso, o programa oferece um dicionário (do idioma utilizado no livro) que, ao se marcar uma palavra na tela do dispositivo, apresenta, na mesma tela, o significado da palavra marcada.

Ao analisar esse meu comportamento, percebi que não estou apenas lendo livros, mas também convivendo estreitamente com seus personagens e seus autores; com estes, agora que experimento as dificuldades e a grande satisfação de escrever, mantenho uma relação de empatia e admiração.
É uma convivência extremamente prazerosa.

Washington Luiz Bastos Conceição



sexta-feira, 10 de agosto de 2018

"Recessional"

Hoje, cara leitora ou prezado leitor, venho abordar um assunto sério, muito sério. Por que trazê-lo ao blog, no qual venho publicando, no mais das vezes, crônicas leves? Porque entendo que devemos trocar informações sobre algo que é da maior importância para os idosos e, como consequência, para seus parentes mais próximos.
Trata-se do plano de vida de pessoas de minha faixa etária (no mês que vem, completarei 86 anos). Então, pergunto: não se faz mister planejarmos nossos próximos anos de vida, considerando que, provavelmente, não serão muitos nem fáceis?
Como, em geral, nós os idosos não queremos “entregar a rapadura”, primeiro precisamos fazer com cuidado a manutenção da saúde, consultando as médicas e os médicos (geriatra, cardiologista, ortopedista e outros especialistas, conforme cada caso) fazendo os exames solicitados e nos submetendo aos tratamentos requeridos. Estou falando o óbvio, não? Mas nem sempre fazemos as coisas como deveríamos.
Outra providência importante é aperfeiçoar nossos procedimentos em emergências. Por exemplo, estabelecer um esquema de pedido de socorro por ambulância que nos leve ao hospital, sem termos de recorrer aos filhos ou a amigos. Tive um amigo que, antes dos oitenta, morando só com a esposa, fixou um quadro em uma parede do corredor do apartamento com as instruções e telefones necessários em casos de emergência. Vou seguir seu exemplo.
Informações pessoais, como senhas ou procedimentos administrativos domésticos, embora confidenciais, devem ser registradas de forma que alguém de confiança possa ter acesso a elas para nos substituir em eventual ausência. E mais, os documentos (de identidade, escrituras, etc.) devem estar arquivados de forma a ser encontrados sem grande dificuldade.

Quanto ao planejamento geral desta fase da vida, há questões fundamentais: até quando o idoso, ou o casal, terá recursos para sustentar seu atual nível de vida? À medida que nossas dificuldades físicas aumentarem e necessitarmos de maior assistência pessoal, doméstica e médica, para onde deveremos nos mudar?
A questão financeira poderá não ser problema, se o valor das aposentadorias e das reservas for suficiente para cobrir o total das despesas, considerando-se uma projeção razoável de expectativa de vida. Caso contrário, um plano de ajuste será necessário. A possível ajuda dos filhos deve ser considerada o último recurso.

A solução da moradia requer, também, uma análise séria. Vou me alongar neste tópico.
A tendência dos idosos, especialmente dos casais cujos filhos já saíram de casa, é procurar se manter na residência que adotaram há tempos, adaptados que estão ao nível de conforto e ao sistema de vida que vêm levando. Embora reconheçam que suas condições físicas não lhes permitirão continuar operando a residência, mesmo com auxílio de empregados, é difícil planejar mudar-se para um local que atenda suas novas necessidades. Porém, a não ser em casos de alta capacidade financeira, que lhes possibilite continuar em sua residência e contratar toda a mão de obra necessária, é preciso pensar em nova solução de moradia.
De vez em quando, durante o almoço de meu grupo de amigos, ex-colegas da IBM, octogenários ou quase, o tema vem à baila, pois alguns se mostram preocupados com o problema. Temos considerado soluções diferentes da tradicional (ou seja, a dos idosos irem morar com um dos filhos), embora ainda esteja sendo bastante adotada. Hoje, esta me parece, cada vez mais, inconveniente para pais, filhos e netos.

Eu, particularmente, entendo que a melhor solução é uma casa de repouso tipo hotel-residência, com apartamentos confortáveis, com áreas comuns para refeições e atividades sociais e recreativas, junto a um hospital, de forma que os residentes possam ter atendimento médico e de enfermagem adequados.
Encontrei um modelo para organizações desse tipo, descrito no livro “Recessional”, de James Michener, renomado romancista autor de vários best-sellers. Li vários de seus livros: “Hawaii”, “Poland”, “Centennial”, “Mexico” e outros, quase todos romances históricos, de forma que o tema de “Recessional” me surpreendeu. Faz tempo que o li pela primeira vez (foi publicado em 1994) e, agora que o assunto me interessa mais diretamente, estou relendo. Para mim, os problemas dos residentes e dos pacientes, bem como a solução apresentada, permanecem atuais. No livro, um romance, o autor descreve com detalhes o funcionamento de uma instituição para idosos, na Flórida, Estados Unidos, com três unidades conjuntas: a residencial, constituída de apartamentos com áreas comuns para os residentes; a unidade de atendimento médico (ou seja, um hospital) e outra de atendimento para doentes terminais. Michener não doura a pílula ao narrar casos de doentes de várias naturezas, mas mostra as soluções adotadas para o seu atendimento; enfatiza a socialização dos residentes, descrevendo os programas oferecidos e mostrando que a vida deles pode se tornar muito mais interessante do que se estivessem isolados, em suas antigas casas. Contudo, deixa claro que o estabelecimento, do jeito que foi construído e mantido, era para pessoas abonadas.
Voltando ao nosso caso real, é possível que já tenhamos instituições semelhantes, mas, apesar de eu ter pesquisado e me valido de informações de conhecidos, não sei de alguma tão completa quanto “Las Palmas”, aquela descrita no livro. As que pesquisei na internet buscando “casas de repouso”, mencionam vários serviços, mostram suas instalações com um forte aroma de marketing, mas não indicam uma conexão estreita com hospitais.
Minha esposa e eu, que nos sentimos bem instalados no Meia Lua, edifício grande com uma boa equipe de empregados, estamos pré-planejando nossa mudança quando o avanço da idade e a equação financeira a exigir. Se conseguirmos uma solução com o conceito do Las Palmas e que possamos pagar, provavelmente iremos adotá-la.

Comecei a crônica dizendo que o assunto era sério. Sua seriedade, não posso negar, provém do fato de que os idosos, embora esperançosos de ficar mais algum tempo neste mundo louco, sabem que estão se aproximando da “Magra”.
Quanto a mim, percebi que, ao tratar do planejamento de vida para os próximos anos, estou, de certa forma, seguindo minha avó Balbina. Esta, como já contei em crônica anterior, começou a preparar sua mortalha quando tinha uns quarenta anos, mais ou menos, mas teve de fazer uma sucessão de mortalhas porque elas iam se deteriorando e ela sobrevivia a todas. Faleceu, lúcida, aos 95 anos. De forma semelhante, continuarei, com Leilah, a fazer planos – e revisá-los, para aumentarmos a chance de ficar mais um bom tempo por aqui.

  
Washington Luiz Bastos Conceição




Nota:
“Recessional”, segundo informado no livro, significa: “Um hino ou outra peça musical tocada no final de um serviço religioso enquanto a congregação se retira”.



terça-feira, 29 de maio de 2018

Cinquentenários


1968 foi um ano marcante na História recente, no mundo todo. Os jornais e a televisão nos fazem lembrar dos importantes acontecimentos políticos e sociais daquele ano: no Brasil, destaque para o Ato Institucional Número 5, que endureceu a ditadura militar; na Europa, o movimento estudantil em Paris que resultou em conflitos sérios e, em Praga, a tentativa frustrada de mudança de regime de governo; nos Estados Unidos, o assassinato de Martim Luther King e de Robert Kennedy e a eleição de Nixon para a presidência.
Em 2018, portanto, esses vários eventos, cujo noticiário acompanhei intensamente, completam seus cinquentenários.

Particularmente, 1968 foi, para mim e minha família, o ano do início de nossa maior aventura, cuja história conto em meu livro “O Projeto 3.7 e Nós”. Na apresentação deste, escrevi:

“Eu tinha trinta e cinco anos, já era casado e tinha três filhos. Morávamos em São Paulo e eu trabalhava na IBM. A expectativa de nossa família era que eu fizesse carreira na Empresa, permanecendo em São Paulo, embora houvesse a possibilidade de mudança temporária para outro estado ou, menos provável, para o exterior. Contudo, naquele ano (1968), fui designado para um projeto internacional da Empresa em Chicago, Illinois, Estados Unidos. Ao nos mudarmos para lá, iniciou-se uma temporada muito especial em nossa vida, de cerca de um ano e meio naquele país, a qual viria a influenciar profundamente o destino de nossa família. Tornou-se nosso ponto de inflexão na vida, nosso “turning point”. Ela foi a razão fundamental de termos tomado, mais tarde, caminhos diferentes.
As lembranças que tenho de nossa aventura em Chicago, das experiências em terra estranha de um casal jovem com três filhos pequenos, vêm em forma de causos encadeados, abrangendo meu trabalho com colegas das mais variadas nacionalidades e, principalmente, a vida de minha família e o convívio com os amigos que fizemos lá.”

Penso muito nesse “turning point”, nas consequências dessa temporada nos Estados Unidos para a vida de minha família.
Em primeiro lugar, já na volta ao Brasil, tivemos a mudança para o Rio de Janeiro em 1970 – um impacto nas grandes famílias (a minha e a da Leilah). As perguntas mais frequentes que os parentes e amigos nos faziam eram: “Quanto tempo vocês vão ficar lá?”; ou, mostrando uma preocupação maior: “Vocês vão voltar para São Paulo?”. Para os paulistanos em geral, o Rio era uma cidade ótima para visitar, mas, para morar, São Paulo era muito melhor.
Outra consequência importante foi a orientação do desenvolvimento da família para a globalização, mantida por minhas atividades na IBM, pelo trabalho da Leilah em Informática e pelo estudo dos filhos na Escola Americana, que os tornou bilíngues e os fez colegas de estrangeiros dos mais diversos países. O que não impediu que todos eles se tornassem bastante cariocas, com sotaque ou não.
Leilah e eu éramos um casal ainda jovem, adaptamo-nos ao Rio e aproveitamos bastante o que a vida na cidade nos oferecia. Quando chegou, para cada um dos filhos, a etapa do curso superior, dois fizeram o curso universitário no Brasil e dois nos Estados Unidos e um destes não voltou. Logo após se formar em Engenharia, ele conseguiu trabalho lá e mais tarde se casou com uma colega de turma. O casal e os dois filhos americanos vêm ao Brasil com frequência, mas estão firmemente radicados na Califórnia. Leilah e eu, até quando pudemos (hoje, a idade e problemas de saúde tornam a viagem muito difícil), os visitávamos com frequência. O que fazemos, agora, é aproveitar bem os ótimos recursos de comunicação disponíveis para estarmos em estreito contacto com eles, e acompanhamos o desenvolvimento dos meninos.
Os outros três filhos moram no Rio; o terceiro e esposa nos brindaram com o neto carioca, grande amigo nosso. Temos com eles uma convivência muito boa, a ponto de seus amigos se tornarem, também, amigos da Leilah e do Washington.

Voltando ao “O Projeto 3.7 e Nós”, comecei a contar a história assim:

“Chicago, muito prazer!
O desembarque no aeroporto O’Hara foi algo incomum, para dizer pouco; foi quase dramático. Um casal com três filhos e umas oito malas grandes chegando à hora de almoço, após uma viagem São Paulo – Rio – Nova York (onde entramos no País e mudamos de aeronave) e, finalmente, Chicago. Era maio de 1968, os aviões eram Boeing 707, os mais modernos de então. Leilah, minha esposa, e eu estávamos na casa dos trinta anos e os filhos tinham: Luiz, sete anos; Cássio, cinco; e Francisco, dois e meio.
Como procedimento normal, o casal deveria ter feito uma visita preliminar a Chicago, a “look and see trip”, para planejar a mudança; entretanto, como minha incorporação ao projeto se tornara urgente, não houve tempo para essa visita. Assim, nossa chegada de mudança com três filhos pequenos, sem ter conhecimento prévio da cidade, foi bem complicada.
A orientação que recebi para irmos do aeroporto ao hotel era usar um ônibus especial que transportava passageiros para os principais hotéis, entre os quais aquele que havia sido reservado para nós. A solução nos pareceu boa, pois nossa família iria precisar de, pelo menos, dois taxis, teríamos de viajar separados e a despesa seria muito maior.
Achamos o ônibus que nos levaria ao Hotel Sheraton da Michigan Avenue, em Chicago; a bagagem foi carregada, acomodamo-nos e , sem grande demora, iniciamos a viagem ao centro da cidade onde, por cerca de dois anos, eu iria trabalhar. Tivemos então um primeiro contato com a Roosevelt Expressway, seu tráfego impressionante, até que, ao nos aproximarmos do centro da cidade, vislumbramos o perfil marcante de seus grandes edifícios e, a seguir, suas ruas e avenidas que depois se tornaram tão familiares para nós. Chegamos ao hotel, situado no trecho da avenida conhecido hoje como a Golden Mile, que concentra estabelecimentos comerciais de alto nível, restaurantes e hotéis, e se beneficia da proximidade do lago Michigan e do rio Chicago, com suas pontes vistosas.
No desembarque do ônibus, recebi uma bronca do motorista por causa da quantidade de malas: “You should have taken a cab!”. Não foi uma observação muito delicada, mas não tinha de lhe dar explicações; apenas, dei-lhe a gorjeta convencional”

Chegamos a Chicago no dia 29 de maio de 1968, uma quarta feira. É o cinquentenário deste início de aventura que estou comemorando hoje.

Washington Luiz Bastos Conceição

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Curiosidade


Dentre os vários livros que me foram presenteados há algum tempo, e que ainda não havia lido, decidi tentar o “Uma mente curiosa”, de Brian Grazer. Nunca tinha ouvido falar deste senhor, o que revela minha imensa ignorância do negócio de cinema. No entanto, assisti a alguns filmes dos muitos que ele produziu, e gostei deles. São “O código Da Vinci”, “Apolo 13”, “O gangster”, “O plano perfeito” e “Uma mente brilhante”, este premiado no Oscar de 2002 nas categorias de melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhor diretor e melhor atriz coadjuvante.

Na introdução do livro, o autor valoriza a curiosidade afirmando ser ela a “qualidade mais valiosa, o recurso mais importante, a motivação central da minha vida” e a considera tão importante quanto os conceitos de criatividade e inovação. Quando ele comenta a atitude dos adultos quando as crianças fazem perguntas, eu passei a pensar no meu tempo de menino.



Recordei-me de que fui educado de forma a não fazer muitas perguntas ou insistir com elas quando não obtinha respostas. Uma das razões talvez fosse a dificuldade, em muitos casos, que os adultos tinham para responder (o caro leitor ou prezada leitora se lembra do conto “Plebiscito” de Arthur Azevedo?). Curioso não era um adjetivo elogioso para um menino educado e, se fosse insistente, seria considerado importuno (chato, no Português de hoje). Às vezes, a pergunta era embaraçosa. Por exemplo: eu tinha, talvez, uns oito anos, meus pais conversavam com visitas na sala de casa e eu estava presente. Fizeram referência à morte de uma conhecida e alguém perguntou do que ela tinha morrido. Com certa reserva, meu pai respondeu que tinha sido de parto. Eu, embora já soubesse como crianças vêm ao mundo, apenas não conhecia a palavra, perguntei: “Pai, o que é parto?”. Meu pai, surpreso e embaraçado, respondeu: “Pergunte depois ao Túlio.” (Túlio era meu irmão mais velho).
Minha educação teve, certamente, influência em minhas reações de “anticuriosidade”, pois cresci valorizando a capacidade de controlar a curiosidade. Por exemplo, hoje sou capaz de buscar o resultado de exames de laboratório e nem sequer ler o laudo, pois sei que importantes serão a observação e a conclusão do meu médico. Os laudos dos médicos que realizam os exames têm de conter tudo que eles observaram, o que poderá preocupar o paciente; esta é mais uma razão para eu não examinar os laudos com antecedência. Por exemplo, faz mais de 20 anos que minhas radiografias de tórax indicam “aorta ligeiramente alongada” e ninguém se preocupa com isso (nem eu).



Voltando ao livro.
De início, pareceu-me que Grazer fazia uma espécie de autopropaganda, pois ele, realmente, não peca pela modéstia. Depois, considerando que ele estava contando histórias de sua vida, concluí que não podia mesmo esconder seu notável sucesso profissional. Embora ele credite esse sucesso à sua curiosidade aparentemente compulsiva, suas ações mostram grande criatividade, muita persistência e enorme ousadia, mais precisamente, uma admirável “cara de pau”.
Além da introdução, o autor discorre, em sete capítulos, sobre as características e aspectos importantes do uso da curiosidade, principalmente na vida profissional, e pude notar sua preocupação em transmitir sua experiência ao leitor, tornando-se até didático.
Como “bônus” (termo usado em filmes em DVD), ele relata várias das suas conversas de curiosidade com pessoas famosas, algumas em posições muito importantes, nas quais se notam sua iniciativa e criatividade (em uma delas, conta como repartiu uma taça de sorvete com a Princesa Diana no jantar realizado após a “première” real do filme “Apolo 13” em Londres).
Acrescenta, ainda, uma lista muito extensa de pessoas com quem manteve conversas de curiosidade e um apêndice de aconselhamento: “Como ter uma conversa de curiosidade”.
O livro teve, como coautor, o jornalista Charles Fishman que, certamente, foi quem organizou a redação do mesmo.

Ao longo da leitura, como a curiosidade se manifesta com perguntas, fiz uma avaliação pessoal de que, embora eu não seja um curioso compulsivo, tive de fazer perguntas a vida inteira, desde os primeiros bancos escolares e durante toda a vida profissional – e continuo perguntando. Na engenharia civil, para elaborar projetos, tive sempre de colher as informações necessárias; no estudo e uso dos computadores e nas entrevistas técnicas e de vendas, eu tinha de fazer muitas perguntas e estar preparado para responder as perguntas dos outros participantes (na IBM falava-se do uso do “por quê?” ao cubo).
Reconheço, entretanto, que minha curiosidade é dirigida, específica. Não é instintiva e não fui educado para ser curioso. O efeito da leitura do livro será fazer com que eu, aos 85 anos, procure aguçar minha curiosidade. Esta deverá ajudar-me em minhas atividades, especialmente nesta, tão agradável, de escrever para os amigos.

Washington Luiz Bastos Conceição




quinta-feira, 22 de março de 2018

SOQDQ


Meus amigos e parentes de fora do Rio se mostram muito preocupados conosco (minha família) por causa da situação atual de grande insegurança no Rio de Janeiro, a linda cidade em que moramos. Como costumo dizer, a cidade amada por todos os cariocas, naturais ou naturalizados.
Embora a insegurança urbana não seja “privilégio” do Rio, nossa situação é bem mais grave do que em várias cidades do Brasil e do mundo. Estamos no campo de batalha de uma guerra que envolve traficantes de drogas e milicianos, que dominam muitas áreas da metrópole; e, contra eles, as polícias do estado e, agora mais intensamente, a polícia federal e o exército brasileiro. Guerra plenamente noticiada no Brasil e no exterior, com a mídia destacando crimes brutais e estatísticas terríveis.
Em meio a essa grave confusão, o que me deixa muito admirado é a disposição que os moradores em geral mantêm para continuar com suas atividades normais; de trabalho, para aqueles que conseguem algum, e de lazer. Continuam indo à praia, jogando seu vôlei, seu futevôlei, dando seu mergulho ou simplesmente curtindo o sol, socializando e “pescando com os olhos feito jacaré”. As comemorações de aniversários em bares e restaurantes, as reuniões em botequins com os amigos, as rodas de samba na Lapa e em outros bairros não deixam de acontecer. Promovem-se na cidade eventos de todo tipo, até internacionais, como shows musicais e torneios de tênis. Claro, as pessoas tomam cuidados especiais, escolhem locais e caminhos, mas não se conformam em ficar recolhidas em casa. Eu, aos 85 anos, sou exceção (gosto de ficar em casa), mas mesmo assim, de vez em quando, me aventuro a participar de alguma comemoração com meus filhos, estimulado fortemente por Leilah, minha mulher.
Analisando esse comportamento dos cariocas, lembrei-me de Aleppo.


Há anos, a Síria vem sendo assolada por uma horrível guerra civil que, na verdade, envolve mais do que revolucionários lutando contra um ditador implacável.
Em 2012, o conflito chegou a Aleppo. Importante cidade daquele país e uma das mais antigas do mundo, sofreu bombardeios devastadores e nela se travaram batalhas sangrentas, casa a casa, entre as forças do governo e da oposição. Uma organização humanitária internacional estimou a quantidade de vítimas em 13.500 mortos e 23.000 feridos.


O que me fez lembrar de Aleppo foi um comentário feito na televisão em um dos noticiários do conflito: enquanto um setor da cidade estava totalmente devastado, em outra parte as pessoas levavam vida normal, o que incluía festas e comemorações.
Longe de mim querer comparar a guerra da Síria com a nossa, apenas comparo o comportamento das respectivas populações. E penso: terá sido assim durante a segunda guerra mundial, nos países ocupados pelos nazistas, por exemplo? E durante o bombardeio de Londres, como se vivia em Liverpool?

Voltando ao Rio: esperamos que estes tempos conturbados passem e que tenhamos novamente uma vida tranquila em nossa cidade.
Quando me mostro muito preocupado com meus filhos, eles me aconselham: “Pai, ponha nas mãos de Deus!”. Então, digo agora: “Seja o que Deus quiser!” ou, na linguagem de abreviações usada nos celulares: “SOQDQ”.

Washington Luiz Bastos Conceição



Nota: As informações sobre Aleppo foram colhidas na Wikipedia.


domingo, 11 de fevereiro de 2018

Coisas da Internet


Já contei aos leitores do blog que participo de um grupo de ex-colegas da IBM, idosos ou quase, residentes no Rio, que se reúnem em almoço quinzenal. Durante o almoço, conversamos muito sobre os mais variados temas. Todos os comensais (ou “confrades”, como nos chamou outro colega que mora nos Estados Unidos) trazem o conhecimento de tecnologia de Informática, por força de nosso trabalho na Empresa. Atualmente, são usuários dos variados dispositivos eletrônicos hoje disponíveis.
Alguns ainda se aprofundam nas novidades tecnológicas e as comentam na reunião, munidos de seus potentes celulares. Outros, como eu, são usuários desses aparelhos nas suas diferentes atividades e se atualizam com as informações e demonstrações dos primeiros (no último almoço, em seu celular, um deles mostrou as imagens “ao vivo” das câmeras de vigilância do edifício onde mora).



Sou o segundo membro mais velho da “confraria” e aquele que deixou a IBM há mais tempo (outubro de 1983). Nessa ocasião, as grandes organizações já usavam o teleprocessamento, que se fazia mediante terminais conectados por linhas telefônicas aos grandes computadores centrais (os “mainframes”). As aplicações eram as mais variadas, mediante sistemas próprios de cada empresa; de uso geral, a entrada de dados e a correspondência interna. No departamento da IBM que eu havia gerenciado de 1981 a 1983, trabalhavam analistas e tradutores de software e manuais no projeto internacional de “national language”. Um deles estava em designação no exterior e nos comunicávamos com ele pelos terminais “on line”, mediante mensagens escritas (modalidade “chat”).
Em 1983, o “Personal Computer” da IBM, o PC, não estava disponível no Brasil. Para uso pessoal, havia microcomputadores de oito bits, relativamente caros, fabricados no País, de acordo com a política então vigente de reserva de mercado. Comprei um CP-500 (versão nacional de um micro da Radio Shack) e estudei a linguagem Basic e o sistema de planilhas Visicalc (bisavô do Excel).
Embora, ao deixar a IBM, eu estivesse em situação financeira bastante confortável, meu plano de vida era continuar trabalhando na área de vendas e marketing de sistemas. Foi o que fiz, como consultor e empregado (dependendo da necessidade do cliente), até 2009, quando dependurei os ternos e as gravatas.
Nessa fase, usei minha experiência gerencial e de sistemas em geral, evoluindo na utilização das aplicações dos clientes. Com o advento do PC e dos “laptops”, passei a ser intenso usuário de planilhas, processadores de texto e aplicativos para apresentações. Após passar pelo “Word Star” e o “Lotus 1,2,3”, cheguei ao Excel, Word e Powerpoint, os quais usei muito em trabalhos para os clientes, alguns bem complicados, e uso até hoje. Acompanhei a evolução de software nos clientes para sistemas integrados em rede, sistemas de gerenciamento de mainframes e uso da internet.
Ou seja, tenho sido sempre usuário de computador e não me atrevo a tentar entender os detalhes da tecnologia propriamente dita.



Volto à conversa do grupo.
É natural, portanto, que os assuntos ligados à internet entrem em pauta com frequência, não só nos almoços como também na comunicação do grupo por whatsapp. As notícias falsas (as “fake news”), por exemplo, são fartamente comentadas, incluindo informações sobre sites que as denunciam. Um ponto importante, também discutido, é a exposição de todos nós na internet, ou seja, o fato de poderem ser obtidas informações detalhadas de cada pessoa com facilidade e rapidez incríveis. A conclusão é que estamos vivendo realmente a era do “big brother”.
Essa conversa recente me estimulou a mencionar aqui minha experiência com meu blog.

Como comentei em notícia de janeiro, venho, periodicamente, levando as crônicas para livros, com o objetivo de estabelecer o copyright e, especialmente com a versão impressa, preservar a lembrança de meus escritos. Costumo publicar primeiro o e-book e, para tanto, preciso “despublicar” as crônicas no blog. Desta vez, deixei para tirá-las do blog depois do pedido de publicação e fui surpreendido por uma informação da editora de que eu estava me declarando proprietário de material que estava disponível de graça na “Web” e que, sendo assim, para o livro ser publicado, eu devia abrir mão do copyright. Concluí que fui pesquisado na rede e as crônicas foram identificadas. De imediato, “despubliquei” no blog as crônicas do novo livro e voltei a pedir a publicação do e-book. Esta foi, então, aprovada.
Na verdade, eu não devia me surpreender com essa pesquisa, pois, conforme já contei aos leitores, meu blog é acessado de vários países além do Brasil (alguns, claramente, usam robôs), em volume desproporcional à sua real visitação, modesta em números. Não há dúvida de que seu nome “Escritos do Washington” é o chamariz. É importante lembrar que, ao implantar meu blog, meu amigo Carlos Gentil Vieira tornou disponível a tradução automática do texto, a qual, mesmo deficiente, serve para dar uma ideia do que trata cada crônica.

Essa visitação, que já é feita há algum tempo, se intensificou no último ano. No começo estranhei, agora acho até divertido e, pelas características do blog, não me preocupo. Todos são bem-vindos.
Enfim, são coisas da internet.

Washington Luiz Bastos Conceição

sábado, 27 de janeiro de 2018

Minhas crônicas em novo e-book

Conforme anunciei em minha “Carta aos Leitores” de dezembro último, publiquei neste mês o e-book “Discurso de 85 anos”, que reúne as crônicas publicadas no blog em 2016 e 2017.


Venho, periodicamente, levando as crônicas para livros, com o objetivo de estabelecer o copyright e, especialmente com a versão impressa, preservar a lembrança de meus escritos.
Este é o quarto dos livros de crônicas assim construídos e confesso que gosto de reler algo deles de vez em quando. Antes deste, publiquei o “Crônicas Selecionadas de 2012 e 2013”, “O Meia Lua” e o “Uma vez por ano”.
É importante observar que, para publicar o e-book, preciso “despublicar” as crônicas (tirá-las do blog).
O e-book “Discurso de 85 anos” está disponível na amazon.com.br .

Prezada leitora ou caro leitor: se você ainda não lê e-books, faça uma experiência: baixe (de graça) o aplicativo Kindle em seu celular ou ipad, ou nos dois, e depois peça o livro (não é de graça, mas quase).
Se está achando que esta notícia é um comercial, tenho de concordar com você.

Washington Luiz Bastos Conceição