— O que você quer ser quando crescer?
Cara leitora ou prezado
leitor: Quantas vezes lhe fizeram essa pergunta quando era criança? E quantas
vezes você fez essa pergunta para uma criança? Em ambos os casos, provavelmente, muitas
vezes, incontáveis.
Agora, menos comum é
outra, talvez tão importante quanto aquela lá acima, no topo da página: “O que
você vai fazer quando se aposentar, quando encerrar sua carreira?”.
Baseado em minha própria
experiência e na observação de pessoas de minha faixa etária, parece-me que
esta nova pergunta é respondida com menos convicção, a pessoa pode ter uma vaga
ideia do que vai fazer, embora expresse desejos como, por exemplo: “Vou mudar
para minha casa de campo (ou meu sítio) e aproveitar a vida mansa”. Ou então:
“Vou viajar o máximo que puder.”
O que tenho constatado é
que há pessoas que não conseguem, realmente, parar de trabalhar; querem mesmo
continuar a fazer o que fizeram a vida inteira. Por exemplo: um médico americano
amigo nosso, além de praticar ciclismo e alpinismo, engajou-se no programa
“Médicos sem Fronteiras” e tem prestado serviços relevantes em lugares afetados
por desastres ou guerras, como o Haiti, Quênia e Jordânia (no campo de
refugiados sírios). Deixa uma vida muito confortável para, heroicamente,
socorrer pessoas necessitadas em lugares desprovidos de recursos. Outro caso é
o de uma amiga, professora aposentada, também americana, com mais de setenta
anos; ela ainda dá aulas, agora na condição de professora substituta. Diz que
gosta muito de estar em uma sala de aula e ensina matérias variadas – até ginástica!
“Vocês não têm permissão de rir de mim”, escreveu ela.
Quando se torna difícil
ou impossível prosseguir em suas atividades, algumas pessoas ficam frustradas.
Outras tentam trabalhos voluntários, mas sei de um caso em que a pessoa
desistiu por se sentir em um ambiente desorganizado, nada profissional.
Contudo, observo casos em
que pessoas idosas, formalmente aposentadas, desenvolvem atividades novas, as
mais variadas, com grande satisfação.
Alguns descobrem que
cozinhar é algo prazeroso, demanda conhecimento específico e o resultado é
muito importante para quem cozinha. E a apreciação dos comensais é um
reconhecimento sumamente agradável para o mestre cuca.
Outros estudam e se
dedicam ao conhecimento de vinho; em geral, passam por uma fase inicial de
muito entusiasmo, talvez demasiado (a fase do “enochato”), mas depois se tornam
realmente conhecedores, acompanham as notas dos vinhos nos sites
especializados, visitam viniculturas, relacionam-se com produtores e
importadores, adquirindo o status de “enófilos”. Para escolher um vinho, vale a
pena consultar um amigo desses.
Outros mais escolhem um
esporte que possam praticar até uma idade avançada: ciclismo, tênis, natação, corridas
e caminhadas estão nesta categoria.
Quanto a mim, que uso
abusivamente o argumento da idade avançada como desculpa para fugir das
atividades físicas, resolvi escrever. O leitor que me honra com sua atenção há
algum tempo já sabe quanto esta atividade, embora amadorística e
despretensiosa, me dá prazer e ainda me traz a recompensa de comentários
favoráveis. Alguns de meus amigos também escrevem; começaram antes de mim e
estão em estágios variados, mais avançados.
Bem, cara leitora ou
prezado leitor, cheguei até aqui para ousar lhe fazer uma sugestão de resposta
para a pergunta “O que você vai fazer quando se aposentar, quando encerrar sua
carreira?”.
Sentindo-me no papel
semelhante ao do vendedor de plano de previdência privada, a sugestão é feita
basicamente para às pessoas que ainda estão em plena atividade profissional,
mas ela se estende, porque ainda há tempo, àquelas que já entraram na fase de
aposentadoria.
Proponho que você, se
ainda em atividade profissional plena, considere o que mais gostaria de fazer após
se aposentar, mas não faz porque os compromissos do trabalho não lhe dão o
tempo necessário. Você pode se preparar, iniciando a atividade como “hobby”,
dedicando-lhe algumas horas de folga. Atividade como tocar um instrumento, por
exemplo; ou fazer objetos de cerâmica; ou cozinhar nos fins de semana. Ou
escrever, ensaiando algum escrito (comecei desta forma e levei mais de dez anos
para publicar meu primeiro livro – demorei, mas antes tarde do que nunca).
Neste ponto você poderá
estar pensando: “O que deu no Washington
para ele vir hoje com essa conversa toda?”.
Tenho de responder, antecipadamente, a essa pergunta: porque, infelizmente, algumas pessoas amigas e conhecidas, também idosas, estão sentindo muita falta das atividades do trabalho ou da administração da casa e do cuidado com os filhos e o cônjuge, e sofrem com isso. Falta do que fazer, às vezes comentada de uma forma depreciativa, é coisa muito séria.
Ter o que fazer e
realizar algo que lhe traga satisfação é, pois, de suma importância para o
aposentado.
Neste final de ano,
dentre os votos de um Feliz 2014, é o que desejo intensamente aos meus amigos.
Washington
Luiz Bastos Conceição